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Miami intensifica repressão a turistas, mas preocupações raciais aumentam

Orla de Miami, em 19 de março: feriado gerou aglomerações - Getty Images
Orla de Miami, em 19 de março: feriado gerou aglomerações Imagem: Getty Images

22/03/2021 17h27

A cidade americana de Miami Beach, invadida por turistas eufóricos nas férias de primavera, estendeu seu estado de emergência para tentar conter o caos, mas líderes comunitários questionam o uso da repressão policial contra uma multidão composta principalmente de afro-americanos.

Para alguns, o método não é o melhor depois de meses de protestos contra a violência policial nos Estados Unidos, que surgiram depois que George Floyd foi estrangulado até a morte em maio passado por um policial branco.

"A cidade de Miami Beach tem o direito de esperar que os visitantes se comportem de maneira decente e, muitas vezes, quando os turistas da primavera vêm, sejam eles negros ou brancos ou qualquer outra coisa, há um pouco de anarquia", diz Retha Boone, diretora de programas do Conselho Consultivo de Assuntos Afro-Americanos do Condado de Miami-Dade.

"Mas o que é diferente é a forma como os turistas negros são tratados", disse à AFP.

Miami, em 18 de março - Getty Images - Getty Images
Miami, em 18 de março: feriado de primavera
Imagem: Getty Images

Vídeos e fotos nas redes sociais mostram mulheres seminuas rebolando nos tetos dos carros, homens oferecendo a elas maços de notas e uma multidão de turistas amontoados, dançando sobre os carros, passando garrafas de mão em mão; além de debandadas, brigas, tiros para o alto e confrontos com policiais.

Desde 3 de fevereiro, 80 armas foram apreendidas, e 1.000 prisões, feitas — 350 delas por crimes graves, informa o decreto da cidade.

Por isso, no sábado, a cidade impôs toque de recolher noturno nas ruas mais turísticas de South Beach, epicentro da festa em Miami Beach, e ordenou o fechamento das três pontes que ligam a ilha a Miami das 22h às 6h.

Essas medidas, que valem de quinta a segunda-feira, não são fáceis de implementar.

Nas noites de sábado e domingo, circularam imagens de dezenas de carros da polícia tentando dispersar multidões de foliões, às vezes disparando spray de pimenta.

"Sem desculpar o comportamento" dos jovens, diz Boone-Fye, "não tenho certeza de que isso teria acontecido se a multidão fosse predominantemente branca. ... Existem racismos sutis e existem racismos abertos".

Por exemplo, fala-se muito menos de Fort Lauderdale, 50 km ao norte, onde os turistas são em sua maioria brancos. Mas lá também lotam ruas e praias, aglomerações celebram o que entendem como o fim da pandemia e protagonizam brigas e pelo menos um tiroteio que deixou um ferido.

"Um desafio"

O chefe de polícia de Miami Beach, Richard Clements, disse ao Canal 10 local que a situação é desafiadora porque as restrições relaxadas contra a pandemia da Flórida atraem muito mais turistas do que o normal, além das tensões raciais que aumentaram no ano passado.

"Tem sido um desafio", disse ele. "É uma combinação de covid e, acima de tudo, como policiais, estamos lidando com as reações do verão passado e a situação de George Floyd."

Todos os anos as multidões que se reúnem na ilha são problemáticas, mas desta vez parece ser muito maior do que o normal, algo que o prefeito de Miami Beach, Dan Gelber, atribui ao fato de os turistas que buscam fugir das restrições impostas pela pandemia não terem muitas outras opções.

"Há poucos lugares abertos no resto do país, ou são muito frios, ou estão fechados e também são muito frios", disse o prefeito no sábado.

Ele também especulou que os preços dos hotéis e passagens aéreas, ambos reduzidos pela pandemia, e o fato de muitos virem de carro de estados vizinhos, contribuíram para esse caos.

A ilha de apenas 92.000 habitantes atrai 200.000 visitantes e trabalhadores todos os dias, disse Gelber na semana passada.