O skate, por muito tempo, foi terreno masculino - como muitos dos espaços e esportes no Brasil e no mundo. Foi do jogo de videogame Tony Hawk American Wasteland que veio a ideia de Vitória Bortolo de entrar, aos treze anos, no "game", como ela mesmo chama. "Eu achava que se conseguisse um skate na vida real, instantaneamente eu ia sair na rua fazendo exatamente o que o videogame fazia", lembra. Foi do esporte que ela aprendeu algumas lições que leva para a vida: paciência, humanidade, improviso, convivência. "No meu primeiro dia em um skatepark eu explodi a minha bolha. Um dia eu conhecia gente da minha família, bairro e a galera da quarta série e no outro estava partilhando da mesma feitiçaria com gente de idade, lugares, recortes e contextos totalmente diferentes do que o meu."
Hoje, além de andar de skate para algumas marcas, Vitória escreve, ilustra, apresenta programas e "quebra um galho" para algumas mídias. "O skate é a linguagem mais impulsiva que eu tenho, minha maneira preferida de me manifestar e de me apresentar no mundo. Skate é dinâmico, relaciona concreto com criatividade, me perturba e me tranquiliza, desperta a sensibilidade do meu corpo e refina a minha relação com a cidade", explica Bortolo, que mora em São Paulo há pouco mais de um ano, após três anos "aprendendo o caminho" para a cidade por conta do skate. "Desde então, tento fazer dele a minha ferramenta de sobrevivência."
Na sua moda, o skate também tem papel fundamental. "Existe uma particularidade entre alguns skatistas (e eu me incluo aqui) que prestam atenção onde vamos estar, principalmente quando estamos gravando ou fotografando uma manobra", conta. "Como skatista, eu me sinto na convergência de vários fatores culturais, seja música, seja arte e, claro, moda, que é expressão e nossa maneira de se apresentar ao mundo", exemplifica a skatista. E, para quem ainda acha que coisas 'de menino' e 'de menina', como skate e moda, não deveriam se misturar, Vitória nos conta sua missão: "eu quero encorajar as meninas que estão chegando, assim como as que vieram antes de mim me balançaram e abriram as portas e a minha cabeça."