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REPORTAGEM

Vinho de Santorini faz jus à beleza da ilha grega (mas está sob perigo)

Imagem: Getty Images
Rodrigo Barradas

Do UOL

01/06/2025 05h30

Santorini, no Mar Egeu, é linda. De quebra, produz um dos melhores vinhos brancos do mundo, baseado na uva assyrtiko. E é surpreendente: a quantidade de luz solar que assa as videiras faria qualquer um presumir que seus vinhos seriam "gordos", com aromas de frutas sobremaduras e com baixa acidez. Nada disso: os assyrtikos da ilha grega são extremamente ácidos e secos, com aromas de casca de limão siciliano, mel, pedras e um toque salino. São realmente um tesouro de que Dionísio deve se orgulhar.

E mais, fazem combinação perfeita com a comida local, abundante em peixes e frutos do mar, favas, tomates, alcaparras, queijo de cabra e berinjelas. Nada se compara a tomar uns goles de assyrtiko no terraço de um restaurante, protegido do sol, com vista para o mar que banha as Cíclades (digo isso tudo em teoria, pois nunca pus os pés na Grécia).

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O videocast Vamos de Vinho desta semana tem como convidada Bianca Veratti, educadora de vinhos, que dá uma aula sobre os vinhos gregos e, especialmente, sobre os de Santorini. Veja o episódio completo aqui.

Mas não é nada fácil produzir vinhos lá

As videiras dos melhores vinhos, em geral, não se beneficiam de muita água no ambiente. Mas, em Santorini, o negócio é exagerado para o outro lado. Caem menos de 300 milímetros de chuva ao ano (um quarto da precipitação em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, por exemplo) nos seus solos vulcânicos. O sol é de rachar, e Éolo sopra com vontade por ali.

Para se adaptar a esses fatores, os viticultores desenvolveram uma forma muito peculiar de treinar a videira, enrolando-a rente ao chão, parecendo uma cesta. O método, conhecido como kouloura, serve para proteger as uvas do excesso de sol e de vento, e faz com que as raízes de algumas plantas cheguem a mais de 400 anos de idade.

Mas ele não faz mágicas contra a mudança climática: as colheitas na ilha têm sido ameaçadas por secas e calor extremos, que reduzem dramaticamente o rendimento de algumas safras.

A pressão do turismo

A vitivinicultura em Santorini sofre também com a pressão imobiliária. Impulsionado pelo turismo, o preço da terra está em elevação, o que faz com que seja muito mais proveitoso para os produtores vender do que manter suas plantações. Estima-se que, em 20 anos, a área plantada tenha caído cerca de 30%.

SAIDEIRA

Esse tava bom
O Estate Argyros assyrtico 2020 é exemplar. Mineral, salino, longo, com um cítrico de casca de limão siciliano, tudo muito harmônico, com o conjunto falando bem mais alto que a soma das partes. Arrisco excesso de poesia, mas é como (eu imagino que seja) respirar o ar do Mar Egeu. Vem de uma vinícola que é símbolo dos vinhos de Santorini. A má notícia: custa mais de R$ 600 na importadora. E dá pra subir: os rótulos mais especiais dos assyrtikos secos da Estate Argyros, como o produzido com uvas do vinhedo Monsignori, se aproxima dos R$ 1.000. Mas é bom uma barbaridade.

Esse eu não sei
O vinho retsina, que remonta à Antiguidade, tem resina de pinheiro misturada ao líquido. Ainda é muito popular em tabernas gregas, mas ganhou má fama internacional. Em parte pela estranheza do sabor, mas também influi a má qualidade de muitos produtos. Este, o Tetramythos Amphorae, não está nessa categoria. É feito por uma vinícola cuidadosa no Peloponeso. Usa a uva roditis em vez da mais comum savatiano. Fermenta em ânforas, algo que também remete à Grécia antiga. Nunca tomei, mas tenho curiosidade. Custa cerca de R$ 190 na importadora.

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