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Volta dos souks na Síria é, finalmente, uma boa notícia sobre Oriente Médio

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Souk Al-Saqtiya
Aleppo, Aleppo, Sìria

Aleppo foi para os anos 2010 mais ou menos o que Sarajevo foi para os 1990, mas numa escala maior. Uma bela cidade histórica, marcada pelo cruzamento de culturas ao longo do tempo, mas que foi reduzida, nessas respectivas décadas, a um sinônimo de guerra.

A notícia de que quatro antigos souks de Aleppo foram restaurados, com investimentos de instituições públicas e privadas, é um alento. Ainda mais com a escalada da guerra no Oriente Médio e o mundo inteiro prendendo a respiração.

O restauro desses mercados históricos sírios é um marco importante para um país que talvez jamais volte a ser o que era antes, já que seu território ainda segue dividido entre o governo central, em Damasco, e a república autônoma que surgiu no nordeste. Aos poucos, a Síria tenta retomar a vida, e a revitalização de parte do centro histórico de uma de suas cidades mais antigas (e segunda maior metrópole) é um grande sinal nessa direção.

Quinze anos atrás, a realidade era bem distinta. O turismo estava em alta: em 2010, o país recebeu 8,5 milhões de visitantes, uma alta de 40% em relação ao ano anterior, segundo o ministério do turismo sírio.

Mesquita de Al-Rais, em Aleppo, na Síria
Mesquita de Al-Rais, em Aleppo, na Síria Imagem: Getty Images

A cidade antiga de Aleppo, considerada patrimônio cultural da Unesco desde 1986, atraía milhares de turistas todos os dias. É uma herança e uma vocação para o comércio com 4 mil anos de história. Aleppo fica no cruzamento de velhas rotas mercantes, e ao longo do tempo foi governada por uma fileira de povos e culturas.

Hititas, assírios, acádios, gregos, romanos, omíadas, aiúbidas, mamelucos e otomanos deixaram suas marcas na cidade, que depois passou ao controle dos franceses. A Síria como nação soberana surgiu somente em 1946, numa existência que seria marcada por golpes de Estado, guerras contra Israel e intervenção no Líbano.

Segundo a Unesco, a cidade antiga é um conjunto urbano e arquitetônico coeso, marcado pela Grande Mesquita, do século 12, e vários edifícios dos séculos 16 e 17. "A monumental Cidadela de Aleppo, erguendo-se acima dos souks, mesquitas e madrassas da antiga cidade murada, é uma prova do poderio militar árabe dos séculos 12 a 14", descreve.

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Há marcas de outras civilizações que vão longe no passado, até o século 10º a.C, e percorrem dois milênios de arquitetura. Isso inclui o desenho das ruas característico do início do período greco-romano, edifícios cristãos do século 6º, muralhas e portões medievais e mesquitas, madrassas e palácios da época dos aiúbidas, mamelucos e otomanos.

Em 2011, tudo isso esteve ameaçado quando estourou a guerra mais longeva e mortífera que teve início neste século.

A guerra em Aleppo

 Área destruída em Aleppo
Área destruída em Aleppo Imagem: Getty Images

Em 2011, a Síria se juntou a outros países árabes e tomou as ruas em protestos contra a ditadura da família Al-Assad, que comanda o país desde 1970. Milhares de pessoas saíram em Aleppo, e a repressão policial tratou de atirar e matar.

No ano seguinte, a esperança morreu e a Primavera Árabe deu lugar a um longo inverno. As forças rebeldes organizadas para derrubar o governo cercaram a cidade. Carros-bombas explodiram, as tropas de Damasco reagiram e Aleppo foi engolida pela guerra urbana.

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O exército sírio controlava o oeste da cidade e o Exército Livre da Síria, apoiado pelas potências ocidentais, comandava o leste. O centro de Aleppo virou terra de ninguém.

O conflito, como é de se imaginar, fez um estrago no centro histórico. Muitas partes do souk Al-Madina, da Grande Mesquita, dos 37 souks que circundam a cidadela e de outros edifícios medievais foram destruídas ou incendiadas.

Em 2016, agora com o apoio de bombardeiros russos, as tropas do governo conseguiram esmagar os inimigos. A Batalha de Aleppo chegou ao fim.

Souk em Aleppo, Síria
Souk em Aleppo, Síria Imagem: Getty Images
Souk em Aleppo, Síria
Souk em Aleppo, Síria Imagem: Getty Images

Ainda que a Guerra Civil Síria esteja numa fase bem menos violenta, ela continua em curso em outras áreas do país. Lá se vão mais de 13 anos e pelo menos 500 mil mortos e mais de 6 milhões de refugiados.

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O vendedor de tapetes Omar al-Rawwas contou à agência de notícias AFP que a situação está melhorando com a volta dos clientes. No caso dos moradores da cidade, sua loja acabou sendo de grande utilidade. "Quando voltaram para casa, viram seus tapetes infestados de traças, então precisavam de peças novas", disse.

"Ao retornar à loja, senti que voltei 35 anos no tempo, como se esse lugar tivesse reencontrado sua alma", contou. Outro vendedor resumiu a situação: "Vamos reconstruir esta cidade com nossas próprias mãos, e ela retornará ainda mais bonita."

Não foi a primeira nem a segunda nem a terceira onda de violência em Aleppo. Não dá para ser uma das cidades mais antigas e importantes do Oriente Médio sem ter uma fileira de batalhas, cercos e massacres no currículo. A cidade esteve no meio de conflitos entre árabes e bizantinos, nas Cruzadas, nas invasões mongóis e na Primeira Guerra Mundial, entre outros.

A vantagem de ter uma história tão longa é essa. Em perspectiva, mesmo uma guerra longa e brutal como a da Síria acaba sendo apenas mais um episódio traumático a ser superado. Talvez isso já esteja começando.

Mais informações sobre a revitalização dos souks de Aleppo aqui.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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