Guardar cerveja? Sim! Conheça uma das experiências mais legais com a bebida

Chega no ouvidinho dela (ou dele) e diz: "separei uma bebida guardada por anos pra gente". Uísque 12 anos? Vinho safra 2010? São legais, são bacanas, mas... SURPRESA: cerveja também pode ser "de guarda". E ter a paciência para deixar uma belezinha dessas maturando vale a pena. Juro.

Porém, assim como as outras bebidas, não é qualquer cerveja que pode esperar anos para ser consumida e que ganha mais "magia" com a idade. As que podem evoluir com a guarda também têm um tempo ideal para que não passem do ponto.

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Guarde, porque envelhecem bem

Via de regra, procure potência da mais pura, como clássicas Imperial Stout, Barley Wine, Eisbock, Belgian Strong Ales (a clara e a escura).

O Siga o Copo (essa entidade), por exemplo, já guardou uma La Trappe Quadrupel 2015 de março de 2016 a agosto de 2017 e pode garantir: sabores mais complexos e experiência especial.

Ou vá naquelas que envelheceram ou acidificaram em barricas. Segundo Victor Marinho, sócio e mestre cervejeiro da Cervejaria Dádiva, durante meses e anos, essas cervejas vão se transformar na garrafa.

E ele aponta alguns vários caminhos possíveis:

• elas podem ficar mais ou menos ácidas, mais vínicas, o adjunto (fruta, condimento) pode ficar mais aparente ou perder a sua potência;
• as leveduras selvagens (as Brettanomyces) podem continuar trabalhando e transformar completamente o líquido;
• a cerveja pode perder a carbonatação, ter seu amargor reduzido, ou acentuar nuances adocicadas, como passas, mel e até toffee;
• a cerveja também pode oxidar, "e, diferentemente do que esperamos das mais frescas, isso pode ser muito bom e interessante!", afirma Victor.

Se guardar, cuide

Para armazenar as cervejas de guarda de forma adequada, o recomendado é mantê-las em pé, ao abrigo da luz e, se possível, climatizadas com uma temperatura entre 12 e 18ºC.

Elas podem ser armazenadas por três, cinco ou 10 anos. Em alguns casos, inclusive, por mais tempo.

A própria Dádiva já produziu diversos rótulos feitos para serem "esquecidos" e regatados tempos depois, como a Belgian Strong Golden Ale Sept, envelhecida em barricas de carvalho francês, e as da série Brewer's Cut.

Já foram lançadas oito delas: a primeira uma American Sour que ficou por 10 meses acidificando em barris da Dark Sour e a última foi uma Barrel Aged Mixed Fermentation Sour, cerveja de fermentação mista, com acidez mediana e equilibrada com morango.

Spoiler: mais duas estão previstas para serem lançadas em maio.

Não guarde, porque estraga

Cervejas leves, de até 6% de teor alcoólico não vão ficar boas ao longo do tempo, acredite. Estas devem ser consumidas o mais frescas possível.

Segundo Victor, o mesmo vale para as mais lupuladas, como as IPA's, Double IPA's e Hoppy Lagers, que perdem os aromas do lúpulo com a passagem do tempo.

Cervejas bem alcoólicas que levam muitos adjuntos, por exemplo, também não são recomendadas para guarda.

Degustação vertical: a brincadeira cervejeira dos pacientes

Para quem ainda não tem o costume de guardar as cervejas, Victor indica comprar dois rótulos, um para provar enquanto a cerveja ainda está e outro para quando você decidir abrir após o tempo de guarda.

Assim, você conseguirá fazer essa comparação e descobrir os efeitos do tempo sobre sua cerveja.

Este blog já teve o privilégio, lá em 2018, de estar em uma degustação vertical (vários exemplares de anos diferentes) da Strong Dark Ale Gouden Carolus Cuvee Van de Keizer. Se não me falha a memória (porque me faltam anotações), a de 2017 tava linda, a de 2016 bonita, 2015 INCRÍVEL, 2013 bacana... 2004 e 2000 foram para o vinagre (e não aquele gostoso das Flanders Red Ale).

Ou seja, guarde, anote para aquele dia especial, mas não espere 20 anos para ter um dia incrível em que a sua bela cerveja de guarda mereça ser aberta ;)

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