Rafael Tonon

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Opinião

Cadê meu bife? Como a proteína virou a nova obsessão de 'marombas' a vovós

Nas cafeterias dos aeroportos, na embalagem dos iogurtes, na fórmula do macarrão, no café das redes de frapuccinos, no cardápio do restaurante, até na gelatina. Se você observa bem o mundo que há à sua volta, tem percebido que tudo de repente passou a ser "rico em proteína", "com proteína", "mais proteína".

Navegue alguns minutos pelo TikTok ou Instagram e você será inundado com receitas centradas neste macronutriente: "100 gramas por dia!" "O dobro do seu peso em gramas se quiser ganhar massa."

"Sim, a proteína, esse bloco de construção da vida orgânica, está passando por um momento de garota-propaganda sem sinais de desaceleração ou parada", como decretou o portal americano Taste.

Tornou-se uma obsessão: não apenas para marombeiros ávidos por construir camadas de músculos. Também entre as patricinhas que querem trincar e até os idosos que precisam ser mais saudáveis.

De tempos em tempos, uma modinha nutricional ganha força, é verdade. Mas a proteína parece diferente de tantas outras. Principalmente pela escala — e pela rapidez que ganhou o mercado.

Em barrinhas de tâmaras e cacau, em chips "saudáveis" para substituir os Baconzitos, em bebidas com aquafaba de grão-de-bico, e até na latinha de água com gás.

Santa proteína

Até alguns anos atrás, referíamos a bife como bife. Agora, nos menus e nos textos gastronômicos, críticos e jornalistas passaram a chamar o mais prosaico filé de "proteína".

Claro, elas fazem parte de um grupo de macronutrientes importantes para o nosso organismo, aqueles de que precisamos em maiores quantidades para tudo funcionar. Elas estão ligadas a muitas funções, principalmente para construir músculos e muitos dos tecidos que temos em nossos corpos.

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E, ao contrário dos carboidratos e da gordura — os outros dois macronutrientes —, ela passou ilesa por qualquer tipo de estigma cultural. Na verdade, virou heroína, quase invicta, da nossa dieta.

Foi ganhando um caminho entre os probióticos, a alimentação keto e virou até queridinha entre os usuários dos agonistas do receptor GLP-1 — como são chamados os medicamentos como Ozempic. É adorado por jovens e pelas vovós.

A 'proteinização' da nossa alimentação é bem vista porque, no geral, os adultos de fato precisam se concentrar mais em proteínas. Seu consumo é particularmente benéfico para ajudar a desacelerar a perda de massa muscular e preservar as funções físicas.

Muitos manuais de alimentação recomendam que se consuma no mínimo cerca de 0,8 grama de proteína por quilo de peso corporal — mulheres, pessoas fisicamente ativas ou com saúde debilitadas precisam ainda mais. E nem todo mundo chega a estes números.

Além da proteína, a comida

Por outro lado, uma ansiedade quase geral sobre perda de peso — acelerada pelos remédios do momento — faz as pessoas olharem para as proteínas como uma salvação: elas ajudam na saciedade e, por isso, podem ajudar a reduzir calorias.

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Mas embora tudo pareça muito perfeito, há um alerta que soa todas as vezes que pensamos em alimentação a partir das lentes do nutricionismo — e da elevação de ácido úrico, do balanço negativo de cálcio e outros possíveis desequilíbrios causados por ela.

"É totalmente descabido chamar um prato de carne de proteína, por exemplo. A gente não come proteína, a gente não come vitamina. A gente come comida, mas esse tipo de mensagem vende muito", diz a nutricionista Neide Rigo, autora do recém-lançado Comida Comum.

Pensemos nas ervilhas: são uma boa fonte de proteína, mas trazem consigo outros nutrientes benéficos, como fibras, vitaminas e minerais. Até mesmo num copo de whey, nem tudo é proteína.

Numa sociedade viciada em resultados, os números estampados nos rótulos (30g no shake do momento!) ajudam a alimentar essa versão gamificada da vida moderna: alcançar os 5.000 passos caminhados, 10 horas de produtividade e, claro, 200 gramas de proteína diárias.

São soluções rápidas num mundo que corre a uma velocidade absurda, onde quase ninguém tem tempo para nada — muito menos para comer bem. Números e embalagens prometem tudo: basta abri-las para alcançar o Olimpo proteico.

Ou então, ver um "coach fit" no Instagram, de corpo sarado, a recomendar "2 gramas por quilo", criando o gatilho para correr até à geladeira como se disso dependesse uma aprovação — interna e externa, de alguma forma.

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Mas nem todos os corpos precisam dos mesmos alimentos ou das mesmas dietas. Nem todos os organismos lidam bem com os mesmos nutrientes, sejam eles macro ou micronutrientes.

A proteína tornou-se apenas a obsessão do momento — e, como tantas outras, acabará por dar lugar a novas. O antídoto continua a ser o de sempre: comer bem, com equilíbrio, e olhar mais para a sua própria comida e para o seu próprio corpo do que para os dos outros.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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