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OPINIÃO

Comendo no país da 'metade do mundo'. Cardápio: montanha, floresta e mar

O menu-degustação do Nuema: ingredientes de todas as regiões do Equador Imagem: Divulgação

Colunista de Nossa

11/06/2025 05h30

A cidade de Quito, capital do Equador, tem muitos aspectos para nos surpreender.

Pode ser literalmente estonteante, por seu ar rarefeito — fica a 2.800 metros acima do mar. Pode ser espantosa, pela proximidade das montanhas — e de vulcões (no país todo são oitenta).

Pode ser intrigante, por não ter estações do ano (apenas períodos de chuvas e de seca), devido à sua localização (está exatamente sobre a linha do Equador).

O marco da Metade do Mundo: dois hemisférios a um passo de distância Imagem: Getty Images

E pode ser também divertida, pelo marco da Metade do Mundo, onde se pode pisar sobre a representação da dita linha e ter seu corpo pousado simultaneamente no hemisfério norte e no hemisfério sul.

Mas outra coisa que me chamou a atenção foi um aspecto da comida local. Ao visitar o pequeno (e muito limpo e organizado) mercado de Iñaquito, notei a presença de todos os biomas presentes no país.

São frutas e vegetais como naranjilla (lulo) dos Andes, granadilla (maracujá doce), banana vermelha, mangostão, mortiño (mirtilo dos Andes), babaco, feijoa (goiaba-da-serra), pitaia, tamarindo. E animais como porco, porquinho-da-índia, bagres e camarões. Através deles se abria a janela da paisagem alimentar dos Andes, da Amazônia e do Pacífico.

Vai um assado de porquinho-da-índia? O cui é um prato típico no Equador Imagem: Getty Images/iStockphoto

Perguntei ao meu anfitrião, o chef Alejandro Chamorro, do restaurante Nuema, se aquelas frutas "exóticas", andinas e amazônicas, eram consumidas no dia a dia nas casas em Quito — e a resposta foi afirmativa.

Não é assim em todo lugar, veja o Brasil. Frutas que são comuns em Belém ou Manaus dificilmente são encontradas nas feiras livres de São Paulo, menos ainda nas casas de seus moradores.

No mercado de Quito, um festival de frutas diferentes, como a banana-vermelha Imagem: Josimar Melo/UOL

Pelas dimensões do país, fica mais fácil ter tudo à mão — inclusive a riqueza gastronômica.

Um retrato disto está no restaurante mais famoso do país, justamente o Nuema, que na lista 50 Best Restaurants o coloca como o 11° melhor da América Latina, e na posição 61 no mundo — além de ter eleito Pía Salazar, sócia e esposa de Chamorro, como a melhor confeiteira do mundo em 2023.

O objetivo do restaurante é retratar a diversidade gastronômica do Equador a partir dos ingredientes da várias regiões.

Os chefs Alejandro Chamorro e Pia Salazar, do Nuema Imagem: Divulgação

Em seu menu-degustação brilham pratos como:

  • vieira do Pacífico com molho do coral, emulsão de huanchano (castanha da Amazônia) e banana vermelha;
  • humita (pamonha) de milho com pescoço de cordeiro, ar de milho e redução de cordeiro com tomates;
  • pirarucu na brasa coberto com inhame e formigas da Amazônia, caldo de pupunha e azeite de alho sacha;
  • espuma de pinha com sorvete de merengue e de tangerina com batata, sementes de sambo cristalizadas e doce de leite.
Aqui tem formiga: prato do Nuema leva espécie amazônica Imagem: Divulgação

A biodiversidade do Equador, especialmente nas frutas e especiarias nativas, aparece também nas vitrines da confeitaria Pía, de Pía Salazar.

Um breve roteiro gastronômico por Quito poderá incluir restaurantes como o Cardó, para experimentar o camarão com tucupi e coco tostado preparado pelo chef Adrián Escardó; o Clara, com vibrantes coquetéis e pratos tradicionais revistos. No Tributoa estrela são as carnes de "vacas velhas" de gado local. E a caminho do aeroporto, vale parar no Montuvia, de cozinha regional da província de Manaví preparada no típico forno de barro.

Doces da Pía, em Quito: criações da melhor confeiteira eleita a melhor do mundo em 2023 Imagem: Josimar Melo/UOL

Entre o almoço e o jantar, bom programa para fazer a digestão é passear pelo centro histórico de Quito, belo e muito bem preservado (seu cenário colonial foi declarado Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco).

Centro Histórico de Quito: um belo passeio entre as descobertas gastronômicas da cidade Imagem: Getty Images

Outra opção é o Museo Casa Guayasamin, na antiga casa do pintor Oswaldo Guayasamín (1919-1999), com obras do artista e sua coleção de peças pré-colombianas e de arte sacra.

E para ter uma visão da evolução da arte equatoriana, vale a pena visitar o MuNa (Museu Nacional del Equador): num espaço concentrado estão desde peças arqueológicas até produções artísticas que vão da época colonial até a arte contemporânea.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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Josimar Melo