Histórias do Mar

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Reportagem

O que é bom saber antes de visitar a exposição sobre o Titanic em São Paulo

Na última quinta-feira, a exposição Titanic: Uma Viagem Imersiva abriu as portas no Shopping Eldorado, em São Paulo, com grande e merecido sucesso de público. Ela é dedicada ao naufrágio mais famoso da história, ocorrido na madrugada de 15 de abril de 1912, quando o famoso transatlântico bateu num iceberg e afundou, gerando a morte de quase 1.500 pessoas.

Projeção imersiva que recria o Titanic navegando em meio ao gelo
Projeção imersiva que recria o Titanic navegando em meio ao gelo Imagem: Divulgação

Com mais de 40 mil ingressos já vendidos, a exposição —que exibe objetos da época, cenários que recriam o interior do lendário navio, informações sobre a sua construção, descrições detalhadas dos instantes que antecederam a tragédia, efeitos que simulam o naufrágio e empolgantes instalações de realidade virtual— agrada até quem não sabe a história do Titanic, nem viu o filme homônimo, embora fique bem mais interessante para quem conhece ambos.

Até porque muitos objetos expostos vieram dos sets de filmagens do arrebatador filme de James Cameron (que até hoje, quase 30 anos depois, ainda detém a quarta maior bilheteria da história do cinema), e outros tantos artefatos são de outro navio idêntico ao Titanic (o seu "irmão-gêmeo" Olympic), e não propriamente do fatídico transatlântico, que hoje repousa no fundo do mar, a 3.800 metros de profundidade.

Maquete detalhada do transatlântico Titanic, uma das atrações da exposição 'Titanic: Uma Viagem Imersiva', em cartaz no Shopping Eldorado, em São Paulo
Maquete detalhada do transatlântico Titanic, uma das atrações da exposição 'Titanic: Uma Viagem Imersiva', em cartaz no Shopping Eldorado, em São Paulo Imagem: Vito Amati/Vito Amati

Quase nada é autêntico

Este talvez seja o único ponto desapontador da exposição: pouco —ou quase nada— do que é exibido veio, de fato, do navio sinistrado, embora tudo ali tenha a ver com ele, e apresentado de forma detalhada, impactante e vibrante —um ótimo programa de fim de semana, ou complemento pra lá de especial a qualquer visita a um dos shoppings centers mais populares de São Paulo.

Exposição em São Paulo recria diversas partes do Titanic
Exposição em São Paulo recria diversas partes do Titanic Imagem: Reprodução

Mas, para aproveitar a exposição ainda mais, convém chegar lá sabendo algumas coisas.

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Fragmento de carvão retirado dos destroços do Titanic
Fragmento de carvão retirado dos destroços do Titanic Imagem: Divulgação

Como o fato de que, embora a exibição tenha mais de 150 objetos (entre peças da época, lembranças do navio e imagens ilustrativas), só três deles vieram realmente do Titanic: um pedaço de madeira que foi transformado em tabuleiro de jogos por quem o coletou no mar, em 1912; uma pedra de carvão —combustível dos navios a vapor, como era o Titanic—, retirada dos escombros do navio, por uma expedição de 1994, e um cartão-postal, escrito dentro do navio, mas enviado na parada que o Titanic fez no porto francês de Cherbourg, antes de iniciar a travessia do Atlântico - - que nunca se soube se quem o enviou sobreviveu à tragédia.

Fora isso, há apenas um solitário azulejo do revestimento da sala de banho turco do transatlântico —mais luxuoso da época, por sinal—, que foi descartado quando da construção do navio (portanto, nem chegou a ser embarcado), e um convite (não utilizado) para a cerimônia de lançamento do Titanic na água, dias antes de iniciar aquela que seria a sua primeira e última viagem.

Banco de Leonardo DiCaprio

Todos os demais objetos remetem à época da construção do navio e do desastre (com ênfase na reprodução de jornais da época), ou vieram das duas principais fontes que abastecem o acervo da exposição: o material cenográfico utilizado no filme de Cameron, e réplicas —com uma ou outra peça autêntica— do interior do navio-irmão Olympic, que não teve o mesmo trágico fim do Titanic, e terminou os seus dias em um desmanche de navios, o que facilitou a coleta dos objetos.

Vem destas duas vertentes a maior parte dos artefatos da exposição, sem a mesma autenticidade histórica, mas ainda assim interessantes.

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Como o banco (real) que o personagem interpretado por Leonardo DiCaprio arremessa de encontro a uma porta, tentando arrombá-la, em uma das cenas do filme Titanic —sim, o icônico ator "tocou" naquele objeto, o que, pelo menos para os cinéfilos, já tem o seu valor.

Banco foi tocado por Leonardo DiCaprio nas gravações do filme Titanic, uma relíquia para cinéfilos
Banco foi tocado por Leonardo DiCaprio nas gravações do filme Titanic, uma relíquia para cinéfilos Imagem: Divulgação

Ou um dos pilares da emblemática escadaria central do Titanic, símbolo da opulência do navio, que é exibida de forma bastante impressionante na exposição, através da fusão dos primeiros degraus com uma imagem em perspectiva ao fundo.

Reprodução da famosa escadaria central do Titanic, um dos pontos mais icônicos do navio, recriada na exposição
Reprodução da famosa escadaria central do Titanic, um dos pontos mais icônicos do navio, recriada na exposição Imagem: Divulgação

O efeito é sensacional. Mas é bom saber que aquela imagem de fundo não é da escadaria do Titanic, e sim também do Olympic, porque não restou nenhuma foto da original, no navio que afundou.

Muito Olympic, pouco Titanic

A exposição paulista também exibe uma cadeira, do tipo usado pelos passageiros dos transatlânticos no passado para banhos de sol, mas também ela é uma réplica de uma cadeira do mesmo tipo do Olympic, que, ainda que idêntico ao Titanic, não é o mesmo navio.

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E o mesmo também acontece com outros objetos, como pratos, talheres e algumas reproduções cenográficas do interior do transatlântico, que nem sempre usaram como referência os ambientes reais do Titanic, com suas medidas.

Réplica de uma das cabines de passageiros, com móveis e decoração inspirados no navio original
Réplica de uma das cabines de passageiros, com móveis e decoração inspirados no navio original Imagem: Trey Walker

Não é a mesma coisa, mas é quase. E ajuda a dar uma boa ideia do que foi o navio transatlântico mais famoso de todos os tempos.

Muito o que ler e ver

Espalhados mundo afora, há diversos museus e exposições dedicadas ao Titanic.

Contudo, mesmo nelas, há carência de peças autênticas, já que poucos objetos foram retirados dos escombros do navio, e isso atualmente está proibido.

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Página original do jornal New York American noticiando o naufrágio do Titanic em 1912
Página original do jornal New York American noticiando o naufrágio do Titanic em 1912 Imagem: Divulgação

No caso da exposição brasileira, que é bastante didática, há fartura de cartazes com textos informativos sobre a história do navio, e projeções de texto aplicadas sobre imagens virtuais, que resultam em uma combinação bastante interessante e empolgante.

Cabine de comando do Titanic
Cabine de comando do Titanic Imagem: Divulgação

Como a que mostra a cabine de comando com as últimas trocas de mensagens entre o Titanic e os navios que estavam próximos dele na noite da tragédia.

Atrações digitais

Vale a pena parar e assistir, bem como sentar em um dos barcos cenográficos que fazem o papel de bancos, e copiam os botes salva-vidas do navio no mar, e ficar vendo o Titanic afundar lentamente à sua frente.

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Projeção mostra o navio em meio ao oceano na noite do acidente
Projeção mostra o navio em meio ao oceano na noite do acidente Imagem: Divulgação

O mesmo vale para a instalação seguinte, que exibe —também virtualmente e em tempo real— os minutos e segundos que antecederam a colisão do Titanic com o iceberg causador da tragédia, colocando o espectador no lugar dos vigias que não conseguiram ver o bloco de gelo a tempo de fazer o navio desviar dele.

As projeções em alta qualidade ajudam na imersão dos visitantes
As projeções em alta qualidade ajudam na imersão dos visitantes Imagem: Divulgação

É a atração mais aflitiva e impactante da exposição, que ainda permite (mediante acréscimo no ingresso) uma impressionante visita virtual, em 3D, dos escombros do navio no fundo do mar, embora bem mais artística do que real.

Não é um museu

A exposição também é repleta de cartazes com textos explicativos e algumas curiosidades, como a de um tripulante que abandonou o navio na escala antes da travessia do Atlântico Norte —e com isso escapou da tragédia—, e da irônica decisão do comandante do Titanic de suspender a realização de um exercício de treinamento dos marinheiros do navio sobre o uso dos botes salva-vidas, que estava prevista para a manhã do dia da tragédia. Só que não deu tempo.

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"A exposição é, como o próprio nome diz, uma 'experiência imersiva' na história do Titanic, para as pessoas tomarem conhecimento e terem um aprendizado histórico sobre o navio e a tragédia. Não uma coleção de artefatos autênticos de colecionadores", diz Victor Villa, fundador da Sociedade Histórica Brasileira do Titanic —sim, o Brasil tem uma entidade dedicada a estudar incessantemente tudo sobre o navio—, formada por uma equipe de especialistas, que ganha novos membros a cada dia —clique aqui para saber mais.

Exposição replica diversas partes do navio com qualidade, embora não tente ocupar o lugar histórico de um museu
Exposição replica diversas partes do navio com qualidade, embora não tente ocupar o lugar histórico de um museu Imagem: Divulgação

Longe de ter a rigorosidade de um museu, a exposição —que ficará em São Paulo até o final de janeiro— oferece entretenimento e informação. E nisso ela agrada bastante. Mas, ao visitá-la, é bom ter isso em mente.

10 curiosidades bem curiosas sobre o Titanic

1 - PROTEÇÃO SÓ EMBAIXO - O Titanic foi um dos primeiros navios do mundo a ter fundo duplo, ou seja, com duas chapas de aço, para ser capaz de resistir a encalhes, sem afundar. Mas, ironicamente, esse recurso não existia nas laterais do casco, onde aconteceu o rasgo gerado pelo iceberg que causou o seu naufrágio.

2 - ÚLTIMA SOBREVIVENTE - Como o naufrágio do Titanic ocorreu 113 anos atrás, não existem mais sobreviventes vivos. A última testemunha ocular da tragédia, a inglesa Elisabeth Gladys, morreu em 2009, aos 97 anos de idade. E não lembrava nada, porque tinha apenas dois meses de vida quando o navio afundou. E, mesmo assim, ela sobreviveu.

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3- CHAMINÉ FALSA - O Titanic tinha quatro chaminés, mas só três eram verdadeiras. A quarta tinha função apenas estética e de ventilação, além de mostrar potência e transmitir segurança aos passageiros.

4- NÃO ENTEDIAM INGLÊS - Muitos imigrantes que viajavam na Terceira Classe morreram por um motivo banal: não entendiam as instruções de abandono do navio, que eram passadas em inglês.

5 - MORRERAM QUANTOS, AFINAL? - Apesar de ser o naufrágio mais famoso da história, o número exato de vítimas do Titanic nunca foi sabido, porque houve suspeitas de passageiros clandestinos na Terceira Classe. Como quatro chineses que se salvaram, mas não constavam em nenhum registro.

6 - TINHA SIDO PREVISTO? - Em 1898, o escritor americano Morgan Robertson escreveu um livro chamado Futility, sobre um transatlântico fictício repleto de passageiros que também foi vítima de um iceberg e afundou. O navio chamava-se Titan, mas o detalhe mais arrepiante foi que aquele livro foi escrito 14 anos antes do naufrágio do Titanic.

7 - O MAR BOM ATRAPALHOU? - Na noite da tragédia do Titanic, o mar estava liso e tranquilo. E isso pode ter sido a razão do choque do navio, porque, com o mar sem ondas e sem formar espumas ao bater no gelo, ficou difícil para os vigias avistarem o iceberg a tempo de desviar o navio.

8 - DEFEITO DE FABRICAÇÃO - O Titanic tinha, ao menos, um defeito de fabricação: seu leme demorava demais a responder aos comandos do timão —às vezes, quase 30 segundos. Isso fez com que ele não conseguisse desviar a tempo do iceberg.

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9 - SÓ CARVÃO - Desde que foi encontrado no fundo do mar, mais de 1 000 objetos foram retirados do Titanic —de louças a potes com cremes de beleza. Mas, atualmente, isso está proibido. Apenas pedacinhos de carvão que alimentavam as caldeiras do navio ainda podem ser vendidos.

10 - TITANIC E MAIS DOIS - Entre os sobreviventes do Titanic, ninguém ficou mais famoso do que uma de suas camareiras, a inglesa nascida na Argentina Violet Jessop, que também sobreviveu a dois outros acidentes no mar, em navios idênticos ao Titanic: um colisão no Olympic e o naufrágio do Britannic, embora ela sequer soubesse nadar —clique aqui para conhecer esta incrível história, e assistir a um vídeo recém-lançado sobre aquela que é considerada a mais sortuda —ou azarada— sobrevivente do Titanic.

Retrato de Violet Jessop, que sobreviveu ao naufrágio do Titanic
Retrato de Violet Jessop, que sobreviveu ao naufrágio do Titanic Imagem: Divulgação

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