Mergulhadores visitam navio gêmeo do Titanic, 109 anos após seu naufrágio

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Na semana passada, seis meses após uma bem-sucedida operação de resgate, o Ministério da Cultura da Grécia anunciou que alguns objetos que pertenceram ao famoso navio-hospital inglês Britannic, irmão gêmeo do lendário transatlântico Titanic, afundado por uma mina alemã na Primeira Guerra Mundial, em novembro de 1916, foram retirados do fundo do mar, nas proximidades da ilha Grega de Kea, no mar Egeu.

Entre os objetos resgatados estão uma luminária de navegação, um par de binóculos, uma pia de porcelana, um prato com a estampa da White Star Line, antiga dona do navio, alguns azulejos da sala de banho turco que havia a bordo, bandejas de prata (já que o Britannic foi originalmente concebido para ser um luxuoso transatlântico, como seu irmão Titanic), e, mais emblemático, que tudo, o sino do navio.

Todos estes objetos agora estão sendo tratados e serão destinados a um futuro museu a ser criado no porto de Pireus, na capital grega, dedicado aos naufrágios ocorridos no mar da Grécia na Primeira e Segunda Guerra Mundial, em especial o do Britannic.
Dono de "um naufrágio"
A operação, bastante difícil, devido à profundidade, superior a 120 metros, foi executada por uma equipe de 11 experientes mergulhadores, que utilizaram equipamentos que permitem o reaproveitamento do ar respirado, chamados de rebreathers, possibilitando assim mergulhos mais longos.
Eles foram contratados pelo atual dono do navio afundado, o historiador britânico Simon Mills, criador da Fundação Britannic, que comprou os direitos sobre o naufrágio justamente para preservá-lo, depois que o histórico navio passou a ser saqueados por mergulhadores particulares, tendo, inclusive, dois deles morrido em mergulhos não autorizados.
Mas, no caso da operação só agora divulgada, tudo ocorreu sem contratempos, e alguns objetos do navio puderam ser resgatados.
Idêntico ao Titanic
Apesar de ter impressionantes 269 metros de comprimento e aparência idêntica a do Titanic - já que fez parte do mesmo projeto -, o que tornou o Britannic um naufrágio quase tão especial quanto o seu congênere foram alguns fatores que marcaram a sua igualmente curta história - quase tão curta quanto a do seu irmão gêmeo.
Um deles foi o fato de que, apesar de ter sido construído para ser um dos transatlânticos mais luxuosos do mundo - mais até de que o próprio Titanic -, o Britannic jamais chegou a transportar um único passageiro.
Tão logo ficou pronto, em fevereiro de 1914 - dois anos após o naufrágio do Titanic, o que inclusive levou a empresa dona do navio a fazer uma série de alterações no projeto, visando aumentar a segurança dos ocupantes, além de mudar o seu nome original, Gigantic, considerado prepotente demais após a tragédia -, o Britannic foi requisitado pelo Almirantado Britânico para atuar como navio hospital na Primeira Guerra Mundial.
E ali encontrou o seu fim.
Botes tragados pelos hélices

No início da manhã de 12 de novembro de 1916, quando fazia sua sexta viagem de remoção de soldados feridos, da Grécia para a Inglaterra, o Britannic colidiu com uma mina marítima deixada por um submarino alemão, e afundou em menos de uma hora, deixando um saldo de 30 mortes - que, no entanto, não teriam ocorrido, se alguns marinheiros não tivessem entrado em pânico e desrespeitado as ordens do comandante do navio, para que aguardassem o melhor momento de baixar os botes salva-vidas.
Logo após a colisão com a mina e a explosão no casco, o comandante do Britannic tentou encalhar o navio em uma ilha próxima, a fim de facilitar o resgate dos seus ocupantes, e por isso manteve os motores em movimento.
Mas, ao perceber que não conseguiria atingir seu objetivo, deu ordens de baixar os botes salva-vidas e evacuar o navio.
Quando isso aconteceu, no entanto, dois botes já haviam sido baixados ao mar por um grupo de assustados marinheiros, e por conta do movimento do navio ainda em curso, acabaram sendo tragados pelos hélices.
Todas as vítimas fatais do naufrágio do Britannic estavam naqueles dois botes salva-vidas.
Já os demais ocupantes do navio - 1 065 pessoas, quase todas soldados feridos nos combates -, foram salvos, um saldo inversamente proporcional à tragédia do Titanic, na qual morreram mais de 1 500 pessoas, das 2 224 que havia a bordo.
O comandante do Britannic foi o último a abandonar o navio, saltando no mar da ponte de comando quando ele já estava afundando, e nadou até um dos botes salva-vidas.
Falhas causaram o naufrágio
Apesar do sucesso da operação de evacuação do navio, nem tudo correu como o esperado.
Algumas falhas de segurança podem ter sido as causadoras do próprio naufrágio, já que o navio inundou rápido demais para uma embarcação tão moderna e poderosa para a época.
Uma das falhas foi que, embora equipado com diversas portas estanques, capazes de deter a inundação do casco, nem todas elas foram fechadas pela tripulação após a explosão. E outras chegaram a ser abertas pelos próprios tripulantes, para que eles pudessem chegar aos seus aposentos e recolher objetos pessoais.
Outra falha foi que nem todas as escotilhas do navio estavam fechadas no instante da explosão. E seguiram abertas mesmo quando o casco começou a adernar, pelo peso da água que entrava. Isso fez com que o navio inundasse ainda mais rápido.
Descoberto por Jacques Cousteau
O naufrágio do Britannic foi encontrado em 1975, pelo famoso explorador oceânico francês Jacques Cousteau, primeiro mergulhador a descer até o navio afundado e constatar que, apesar da explosão, o transatlântico permanecia praticamente inteiro no fundo do mar - na época, o Britannic chegou a ser considerado o maior navio naufragado do mundo.
Desde então, visitar os restos submersos do Britannic passou a ser o objetivo de muitos mergulhadores, o que levou o historiador Simon Mills a comprar os direitos sobre o "transatlântico que jamais transportou nenhum passageiro", e que, graças a inovações inéditas para a época - como banheiros nas cabines, algo que nem a Primeira Classe do Titanic oferecia -, chegou a ser chamado de "O mais maravilhoso navio-hospital de todos os tempos".
A mais famosa sobrevivente
O Britannic foi também um exemplo de operação de evacuação bem executada - já que não era nada fácil remover mais de 1 000 soldados feridos em poucos minutos -, apesar daqueles 30 mortos nos dois botes lançados precipitadamente ao mar.
Mas, ainda assim, mesmo neles, houve sobreviventes.
E ao menos uma daquelas pessoas se tornaria particularmente famosa, pela sua incrível capacidade de sobreviver à grandes naufrágios.

Foi a enfermeira argentina - e ex-camareira de transatlânticos - Violet Jessop, que antes de ser tragada pelos hélices em movimentos do Britannic, e de sobreviver graças a um golpe de sorte, havia sido vítima de dois grandes acidentes marítimos da época, incluindo o pior de todos, o naufrágio do Titanic, apenas quatro anos antes.
Clique aqui para ler a impressionante história de Violet Jessop, que se tornaria conhecida como "a mulher inafundável".





























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