Histórias do Mar

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Como dois pescadores brasileiros chegaram à Europa após 'sumirem' no mar

No dia de hoje, 65 anos atrás, dois humildes pescadores — os cariocas Benony Felix Moreira, que todos conheciam pelo apelido "Bengo", e seu amigo Manoel de Zoli - viveram uma experiência que nem em sonhos poderiam imaginar: saíram para pescar alguns peixes para o jantar, bem em frente à vila onde moravam, na então primitiva Arraial do Cabo, no litoral norte do Rio de Janeiro, e dias depois estavam na Europa, do outro lado do oceano, a milhares de quilômetros de distância.

Como isso aconteceu é uma história que até hoje os descendentes daqueles dois pescadores - ambos já mortos - não se cansam de lembrar. E contar.

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Imagem: Reprodução

Tudo começou quando o motor do barquinho que Bengo e Manoel tinham em sociedade - e que era pouca coisa maior do que uma canoa - pifou logo após a pescaria, e eles foram sendo arrastados pela correnteza para o alto-mar.

No começo, ninguém ficou preocupado - nem mesmo os dois pescadores, mesmo estando à deriva no oceano -, já que a dupla tinha o hábito de passar a noite pescando, e Bengo e Manoel imaginavam que, no dia seguinte, quando não retornassem, seriam buscados e resgatados pelos outros pescadores da vila.

Mas não foi o que aconteceu - porque nenhum deles encontrou os dois pescadores no mar.

Só três dias depois, quando as duas famílias já estavam conformadas com a perda de Bengo e Manoel e até preparavam roupas para um eventual funeral, é que os dois foram localizados e resgatados em alto-mar, já bem longe da vila onde moravam.

Só que isso aconteceu da forma mais surpreendente possível: por meio de um luxuoso navio transatlântico italiano, cujo comandante estranhou a localização daqueles dois pescadores, tão longe assim da costa, e mandou parar o navio para ver se eles precisavam de algo.

E - sim - eles precisavam. De socorro. Mas tiveram bem mais que isso.

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Imagem: Reprodução

Tratados como milionários

Uma vez embarcados, os dois pescadores ganharam roupas, comida, uma cabine de luxo e a empatia imediata do comandante do navio, o italiano Tito Caosi, que ordenou que eles fossem tratados como os demais passageiros.

Mas, no dia seguinte, quando imaginavam que já estavam chegando ao porto do Rio de Janeiro, onde esperavam desembarcar e voltar para casa, foi que Bengo e Manoel ouviram do próprio comandante italiano a mais surpreendente das notícias: a de que aquele navio não seguia para o Rio de Janeiro, mas sim para a Itália!

E agora eles teriam que ir junto.

E foi assim que aqueles dois humildes pescadores, que nem sabiam bem onde ficava a Itália, foram parar na distante Europa.

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E ainda por cima, a bordo de um luxuoso navio, o Giulio Cesare, sendo tratados como milionários.

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Isso eles jamais esperavam.

Voltaram um mês e meio depois

Bengo e Manoel desembarcaram na primeira escala do navio, na Espanha, e por ali ficaram, até que o consulado brasileiro encontrasse um jeito de mandá-los de volta para casa, já que nem documentos (muito menos passaporte...) eles tinham.

Mas isso só aconteceu um mês e meio depois, quando surgiu a oportunidade de embarcar os dois em um dos navios que vinham para o Brasil.

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E adivinhem só em qual navio eles acabaram sendo embarcados de volta?

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Sim, no mesmo transatlântico Giulio Cesare, do gentil comandante Tito Caosi, que os havia resgatados no mar de Arraial do Cabo.

E foram recebidos com ainda mais gentilezas do comandante.

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Festa durou uma semana

Quando isso aconteceu, as famílias dos dois pescadores - que só ficaram sabendo que eles estavam vivos quando o comandante Caosi comunicou isso a Marinha do Brasil, no dia seguinte ao resgate -, prepararam uma festança que durou uma semana inteira, com direito até a feriado na vila de Arraial do Cabo.

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"Eu era pequena e não lembro de nada. Mas minha mãe contava que teve até excursão dos moradores da vila para receber os dois no Rio de Janeiro, e a principal fábrica da região deu folga a todos os funcionários para recebê-los na entrada cidade. Meu pai e o Manoel viraram celebridades", conta Lyana Moreira, uma das filhas de Bengo, que tinha apenas três meses de vida quando ele "sumiu" no mar para reaparecer dias depois na Europa, que nunca ninguém da vila tinha visitado - e que Bengo, morto em 2015, não se cansava de lembrar.

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Imagem: Reprodução

E ainda por cima de graça, em grande estilo, a bordo de um navio de luxo, cujos detalhes podem ser conferidos em um vídeo recém-lançado sobre essa interessante - e improvável - história, de dois pescadores brasileiros que foram parar na Europa por conta unicamente do acaso - clique aqui para assisti-lo.

Convite
O colunista Jorge de Souza, autor desta história e de outras tantas publicadas nos livros Histórias do Mar, fará palestra gratuita neste domingo, às 19 horas, no São Paulo Boat Show, na Expo São Paulo (Rodovia dos Imigrantes km 1,5, próximo ao metrô Jabaquara), quando contará algumas histórias e conversará com a plateia.
Os interessados em visitar o salão náutico e assistir à palestra, devem fazer contato através do email contato@historiasdomar.com e solicitar seu ingresso - que será gratuito apenas para os primeiros 20 interessados.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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