Maior navegador brasileiro vai partir de novo. Agora, para o maior desafio

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O que você gostaria de fazer se já tivesse dado cinco voltas ao redor do mundo?
Pois o navegador baiano —embora nascido na Ucrânia—, Aleixo Belov quer repetir a dose e dar mais uma: a sua sexta circum-navegação do planeta com um barco a vela.
Só que, desta vez, ele quer fazer um caminho diferente, dificílimo e inédito para um velejador brasileiro: a chamada "Passagem Nordeste", que atravessa toda a Sibéria, no extremo norte da Rússia, unindo o Atlântico ao Pacífico pelo topo do mundo —uma rota que habitualmente só é feita por grandes navios com capacidade de romper os blocos de gelo que revestem aquelas águas do mar do Ártico praticamente o ano inteiro.

"Será o meu maior desafio", admite Belov, que, entre outros feitos, detém o título de maior navegador brasileiro de todos os tempos —nenhum outro velejador do Brasil navegou tanto quanto ele, embora seja infinitamente menos conhecido do que Amyr Klink.
Só seis semanas por ano
"O gelo no mar da Sibéria só abre por, no máximo, seis semanas ao ano. Se eu não estiver lá na hora certa, a viagem estará perdida, porque tudo congela e será impossível seguir adiante", explica Belov, que por isso mesmo levará uma pequena equipe russa no barco, para ajudar na navegação e também na burocracia, já que aquela parte da Sibéria é considerada uma "área militar" pela Rússia, com acesso tão difícil quanto restrito.
"É preciso ter licenças especiais para navegar por lá, uma região onde ninguém vai. Muito menos para passear, como é o meu caso", diz o navegador baiano, que se entusiasmou com a possibilidade de fazer esta travessia depois de ter cruzado com seu barco (o Fraternidade, um veleiro de aço de 20 metros de comprimento, que ele mesmo construiu) outro caminho desse tipo, a Passagem Noroeste, que liga Oceano Pacífico ao Atlântico também pelo topo do mundo, entre o Alasca e o norte do Canadá, dois anos atrás.
"Aprendi bastante a navegar no gelo naquela viagem, e esse conhecimento será útil agora. Descobri, por exemplo, que você usa mais o motor do que as velas, porque fica o tempo todo manobrando entre os blocos de gelo. Mas ainda não sei o suficiente para encarar a Sibéria. Por isso, vou levar gente experiente comigo, porque sei que será uma jornada bem mais dura e difícil", diz Belov, que, entre outros, terá a companhia de um velho amigo russo, o capitão Sergei Shcherbakov, com larga experiência em navegação polar e que conhece bem o mar da Sibéria.

"Convidei o Shcherbakov e ele aceitou na hora. Isso me animou ainda mais, porque sei que vou precisar de ajuda até com o idioma, para lidar com as autoridades russas, porque embora eu tenha nascido na atual Ucrânia, que na época pertencia a União Soviética, não falo russo tão bem assim e não domino a linguagem técnica necessária para navegar naquela região", reconhece.
82 anos de idade
Além do frio, do gelo, do idioma, da burocracia e das hostilidades de uma região que está entre as mais inóspitas do planeta, Belov ainda terá que lidar com outro dificultador: a idade avançada, já que está com 82 anos.

"Minha saúde até que é boa. Mas meus joelhos estão podres e não tenho mais força para lidar sozinho com as velas do barco. Ter ajuda na travessia será muito bom e necessário", analisa.
Parte no mês que vem

Belov pretende partir de Salvador, onde vive há mais de 70 anos (desde que veio ainda criança para o Brasil), no dia 12 de abril, com uma tripulação formada por brasileiros e russos, e sabe que precisa estar na cidade russa de Nurmansk no final de julho, para tentar obter as licenças necessárias para atravessar a Sibéria —cujo mar só fica navegável entre o final de agosto e setembro.
Ele prevê que, "se der tudo certo", a travessia da Sibéria leve "uns três meses". "Ou, talvez, nem seja possível", admite.
Belov não tem data para retornar ao Brasil. Se conseguir vencer o gelo daquela parte do Ártico, pretende seguir adiante e dar mais uma volta ao mundo —sua sexta circum-navegação do planeta.
Maior navegador brasileiro
Das cinco voltas ao mundo navegando com um barco a vela que já deu, em três delas Belov estava sozinho no barco —nenhum outro brasileiro jamais navegou tanto por puro prazer.

Mas, desta vez, também isso será diferente.
Quando partir de Salvador no mês que vem, para mais uma volta ao mundo —o que vem fazendo seguidamente há mais de meio século—, Belov terá a companhia de mais nove pessoas no barco: sete brasileiros e dois russos.
E, depois, ainda reforçará a equipe com mais velejadores russos, a fim de tentar vencer o gelo da Passagem Nordeste, seu —talvez— último desafio.
"Já estive em todos os mares do mundo, só falta a Sibéria", diz o velho navegador baiano, que tem cinco filhos, três netos, um bisneto, dois casamentos desfeitos e o título de o velejador brasileiro que mais milhas navegou até hoje.
"Mas vou dar um jeito de resolver isso agora", brinca.
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