Avião ou barco? Como o 'Monstro do Mar Cáspio' foi parar nesta praia russa

Os raríssimos turistas que visitam os arredores de Derbent, no Daguestão, uma das muitas divisões federativas da Rússia, à beira do Mar Cáspio, não têm muito o que ver ou fazer na região.
Mas uma atração se destaca: um monstrengo de quase 80 metros de comprimento e 400 toneladas de peso, que jaz encalhado em uma das praias dos arredores da cidade — e que, por isso mesmo, se tornou a cereja do bolo de uma espécie de museu ao ar livre, que precisou ser montado ali mesmo.

Trata-se do Lun, um gigantesco engenho militar russo da época da Guerra Fria, entre a extinta União Soviética e os Estados Unidos, que não chamaria maiores atenções não fosse o fato de ser de um ecranoplano, um tipo de veículo que quase ninguém sabe o que é, muito menos já viu um.
E que foi apelidado de "Monstro do Mar Cáspio", numa referência ao seu porte mais que avantajado e aparência um tanto bizarra.

O que é um ecranoplano?
Os ecranoplanos são veículos híbridos, mistura de aviões com barcos, mas completamente diferentes dos aerobarcos ou hidroaviões.
Sua maior característica é voar a pouquíssima altitude (dois, três, quatro metros apenas) de qualquer superfície lisa, como o mar, graças ao chamado "efeito-solo", que cria um colchão de ar capaz de sustentar o aparelho.
Já a principal vantagem é que, por voarem tão baixo, os ecranoplanos conseguem driblar os radares aéreos e se tornam "invisíveis" — algo especialmente útil em tempos de conflito, como a Guerra Fria, a fim de despistar os inimigos.

Eles foram inventados na União Soviética, na década de 1950, pelo engenheiro Alexeev Evgenievich, mas apenas duas unidades para uso militar foram construídas — ambas enormes, com o objetivo de transportar de tropas e lançar mísseis.
Uma delas — a única que resistiu ao tempo, embora nunca tenha sido efetivamente usada em ações militares — é a que jaz entalada na areia daquela praia deserta nos arredores de Derbent, como uma atração turística um tanto curiosa.

Como ele foi parar ali?
Em 1991, com o fim da União Soviética, o projeto dos ecranoplanos foi abandonado, e o Lun — já então apelidado de "Monstro do Mar Cáspio" pelos americanos — esquecido dentro de um hangar.
Quase 30 anos depois, a cidade de Derbent decidiu erguer um museu dedicado ao patriotismo russo, e requereu a Moscou a remoção do único ecranoplano militar ainda existente para lá. O pedido foi aceito.
Mas, em julho de 2020, quando era puxado, pelo mar, por três rebocadores e escoltado por dois navios, o Lun se desprendeu do comboio e encalhou na praia — de onde nunca mais saiu.
Museu mudou para onde ele está
Como não houve esforço que fizesse aquela enorme máquina voltar para o mar, a única solução foi mudar o museu de lugar, transferindo-o de Derbent para aquele trecho deserto da praia, a cerca de 20 quilômetros da cidade, onde funciona até hoje, mas de maneira bem precária.

Para frustação dos seus poucos visitantes, apenas algumas carcaças de velhos helicópteros, blindados e pedaços de aviões de caça fazem companhia ao único ecranoplano militar que restou no mundo, já que o seu antecessor — e o primeiro do gênero — afundou também ali perto, nos anos de 1960.
"Esteja preparado para também atolar na areia quando for visitá-lo. E não deixe o táxi ir embora, porque, do contrário, não conseguirá voltar para casa, porque ali não passa nem carro", escreveu sarcasticamente um internauta, sobre a precariedade do museu improvisado de Derbent, que precisou mudar de lugar por conta do encalhe acidental da sua principal atração.
Um engenho bem esquisito

O que mais impressiona os visitantes do "Monstro do Mar Cáspio" é o seu tamanho — até porque o acesso ao interior da máquina não é permitido.
Mas os quatro motores lado a lado, em cada lado da fuselagem — e bem na parte da frente da aeronave —, as asas bem pequenas em relação ao comprimento, e a parte de baixo com o nítido formato de um casco de barco não deixam dúvidas de que se trata de um engenho, no mínimo, criativo. Mas um tanto esquisito.
Avião ou barco?

Quando em movimento, o "Monstro do Cáspio" mais parecia um avião cargueiro prestes a desabar na água ou um barco planando no ar — nos dois casos, uma visão impressionante, que ajudou a alimentar a interminável discussão se "aquilo", afinal, era um avião ou um barco?
Ou, então, as duas coisas juntas, já que tinha asas e casco, e fazia parte da Marinha — e não da Aeronáutica — russa.
Uma confusão que, até hoje, alimenta a fama do último ecranoplano militar do mundo, como pode ser conferido clicando aqui.
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