Mar revolto danifica veleiro da Família Schurmann: 'Água entrou no barco'

Nas primeiras horas da manhã do último sábado, quando navegava sob fortes ventos, que passavam dos 80 km/h, e com ondas acima dos cinco metros de altura, entre as ilhas Fiji e a Nova Zelândia, o veleiro da mais famosa família navegadora do Brasil, os Schurmann, que estão dando mais uma volta ao mundo — desta vez para divulgar os efeitos daninhos dos plásticos nos oceanos -, começou a apresentar entrada de água na parte de baixo do casco, o que levou o seu atual comandante, Wilhelm Schurmann, a acionar todas as bombas que o barco possui, a fim de tentar expulsar o volume de água que entrava.
Deu certo e a inundação parcial do casco foi controlada.

Mas, até agora, a situação continua a mesma, com a família tendo que recorrer ao uso permanente das bombas de sucção, responsáveis por drenar a água que empoça no fundo do casco, a fim de impedir a inundação completa do barco.
"Eles estão bem, relativamente tranquilos, mas totalmente atentos ao comportamento do barco no mar", diz David Schurmann, um dos membros da família, mas que, desta vez, não está a bordo na viagem — bem como o patriarca Vilfredo Schurmann, que está no Brasil, finalizando um tratamento de saúde.
Seguem em velocidade reduzida

No barco, além do capitão Wilhelm, estão mais cinco pessoas: sua mãe, Heloisa, sua esposa, Erika, a bióloga Katharina Grisotti, o fotografo Alex Nahas e a operadora de drones Carmina Reñones, todos integrantes da equipe do Projeto Vozes dos Oceanos.

"Eles seguem navegando, mas com velocidade reduzida, rumo ao porto mais próximo, na Nova Zelândia, onde devem chegar dentro de dois dias, se o mar ajudar", diz David, que, juntamente com o pai, Vilfredo, vem mantendo intenso contato com a família desde que começou o problema no barco, no último sábado.
700 km da terra firme mais próxima

Quando isso aconteceu, os Schurmann estavam no meio da travessia entre as Ilhas Fiji (de onde partiram no último dia 13, após uma emocionante despedida promovida pelos funcionários da marina onde estavam) e a Nova Zelândia, a cerca de 700 quilômetros da terra firme mais próxima.
Agora, estão a menos da metade dessa distância, mas navegando com muita cautela e prontos para qualquer emergência.
"Meu irmão, que é um capitão muito experiente e cauteloso, já preparou a balsa salva vidas inflável e os kits de abandono do barco, no caso de alguma eventualidade. E, desde sábado, deixou de sobreaviso o serviço de resgate marítimo da Nova Zelândia. Mas, felizmente, até agora, nada disso foi preciso", diz David.
Não sabem o que causou o problema
No dia em que começaram as infiltrações de água no barco — causadas, ao que tudo indica, por pequenas fissuras junto à quilha ("Só saberemos o que aconteceu quando pudermos tirar o barco da água e examinar o casco por baixo", diz David), o veleiro dos Schurmann, batizado Kat, de 21 metros de comprimento, perdeu também uma das velas, rasgada pelos ventos fortíssimos.
"Mas isso não é nenhum problema, até porque eles estão navegando bem devagar, para não forçar o casco", explica David.
O objetivo é chegar à Nova Zelândia com a mesma segurança que eles vêm navegando desde sábado. Até agora, está dando certo, apesar da água continuar entrando no barco".
Conseguiram fugir do super ciclone
O que possivelmente causou — ou agravou — o problema foram as condições meteorológicas adversas que os Schurmann enfrentaram durante a travessia. Mesmo tendo partido das Ilhas Fiji bem antes do início da temporada anual de ciclones no Pacífico Sul — precaução sempre tomada pela família —, eles foram colhidos por uma forte depressão, que acelerou os ventos e deixou o mar muito revolto, no meio da jornada.
"Poderia ter sido ainda pior, porque, este ano, a temporada de tormentas começou bem mais cedo por lá", explica David.
"Neste exato instante, o ciclone Lola está se transformando em uma tempestade da categoria 5, a mais forte de todas, com ventos de até 300 km/h, que devem atingir as Ilhas Vanuatu dentro de poucas horas. Mas, felizmente, ele não está na rota deles", respira aliviado.
Perderam os mastros na mesma região
Coincidentemente, foi nesta mesma região, mas no sentido oposto, que os Schurmann viveram aquele que foi o maior incidente da história da família que já deu três voltas ao mundo navegando — e, agora, está na quarta.
No início dos anos de 1990, durante a travessia da Nova Zelândia para a ilha de Tonga, na primeira volta ao mundo dada pela família, eles ficaram à deriva no mar, após outra forte tempestade derrubar, de uma só vez, os dois mastros do barco.

"Mas tudo terminou bem, como, agora, vai ser também", torce David, que, tal qual o pai, Vilfredo, vive certa angústia pelo que o resto da família vem vivendo no mar, há três dias.
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