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Histórias do Mar

REPORTAGEM

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Brasileiro recordista em viagens de cruzeiro busca marca histórica

Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Colunista do UOL

28/05/2022 04h00

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Você gosta de cruzeiros marítimos? Gosta muito? Muito mesmo?

Pois, muito provavelmente, não gosta tanto quanto o paranaense Celso Ricardo Moreira, considerado o brasileiro que mais cruzeiros marítimos já realizou.

Ele já soma 94 cruzeiros (com os mais variados navios, durações e destinos), desde que embarcou, literalmente, nesse tipo de viagem de lazer, 24 anos atrás.

Começou em 1996, fazendo um cruzeiro até a ilha de Fernando de Noronha, em um antigo navio português, o Funchal.

E não parou mais.

Cinco cruzeiros só este ano

Celso Ricardo Moreira Abravanel - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Celso, hoje com 60 anos, garante que só não chegou (ainda...) à célebre marca de 100 cruzeiros marítimos realizados, porque a pandemia impediu que os navios navegassem por quase dois anos.

Mas, agora, determinado, corre atrás da invejável marca, e sonha com o seu centésimo cruzeiro — que espera atingir já na próxima temporada brasileira de verão.

Celso Ricardo Moreira Abravanel - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Só este ano, com a retomada das viagens marítimas, Celso já fez cinco cruzeiros (ou dez após a pandemia), incluindo uma longa travessia de 24 dias, do Brasil para a Europa, no mês passado, onde, chegando lá, embarcou em outro navio, para mais 11 dias navegando pela costa da Irlanda e Inglaterra.

O próximo já está marcado

Dias atrás, ele retornou ao Brasil — de avião, o que, no caso das suas viagens é algo extremamente raro —, mas já sabe quando irá embarcar de novo.

No final de outubro, o incansável passageiro virá da Grécia para o Brasil a bordo de um navio, e aqui fará vários cruzeiros pela costa brasileira — os seus favoritos, por sinal —, em busca da tão sonhada marca de 100 embarques.

Celso Ricardo Moreira Abravanel - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal
Celso Ricardo Moreira Abravanel - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Adoro cruzeiros, mas nenhum se compara aos que acontecem no Brasil", diz, com a autoridade de quem conhece bem muito bem o assunto.

Nome artístico

"O brasileiro é o povo mais alegre do mundo e transforma qualquer cruzeiro em festa. E festa é comigo mesmo", diz Celso, que, no entanto, não se apresenta — nem usa — o nome que tem: apenas o pseudônimo "artístico" Ricardo "Abravanel"— sobrenome que tomou emprestado do apresentador Silvio Santos (cujo nome verdadeiro é Senor Abravanel), de quem sempre foi "macaco de auditório" confesso.

"Ninguém jamais teve a capacidade de comunicação que ele tem", diz Celso/Ricardo, o que ajuda a compreender a personalidade totalmente extrovertida que ele incorpora quando está dentro de um navio.

E sempre com boa dose de exotismo.

Celso Ricardo Moreira Abravanel - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Sempre fantasiado

Nos cruzeiros que faz (média de meia dúzia por ano, podendo chegar ao dobro disso, "se o bolso permitir"), Ricardo leva duas malas: uma pequena, com roupas convencionais, e outra, enorme, repleta de fantasias.

Celso Ricardo Moreira Abravanel - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal
Celso Ricardo Moreira Abravanel - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Fantasiado (de Aladim, de faraó, sheik, pirata e por aí afora) é que ele costuma passear pelos corredores do navio, para diversão dos demais passageiros — que facilmente se tornam novos amigos do simpático e carismático passageiro mais que frequente.

A cada novo cruzeiro, minha lista de amizades e seguidores explode", diz Ricardo, satisfeito.

"Venho para os navios para me divertir e acabo divertindo os outros passageiros também", acrescenta, sempre com um sorriso no rosto, além de uma eterna garrafa de cerveja nas mãos.

Até de Carmem Miranda

Celso Ricardo Moreira Abravanel - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Nos últimos cruzeiros, Ricardo fez especial sucesso vestido de Carmem Miranda, uma de suas fantasias prediletas.

Mas não a mais frequente, que é a de capitão.

Celso Ricardo Moreira Abravanel - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

"Meu sonho sempre foi ser marinheiro", explica. "Mas não deixaram eu prestar exames na Marinha, porque disseram que eu não tinha estatura para isso. Daí, resolvi virar logo comandante de navio de cruzeiro", diverte-se Ricardo, que tem mais de meia dúzia de trajes do gênero, e usa quepe de capitão praticamente o tempo todo.

Já cansei de ser abordado por passageiros pedindo para tirar fotos comigo ou perguntando coisas do navio, achando que eu era o comandante. Eles só estranham um pouco a cerveja na mão...", diverte-se.

Cruzeiros tatuados no corpo

Celso Ricardo Moreira Abravanel - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Com tamanha popularidade e experiência em cruzeiros marítimos ("Tenho mais milhas navegadas do que muitos comandantes por aí", diz, sem grandes exageros), Ricardo, que tem os símbolos de três grandes empresas marítimas tatuados no corpo, já foi até sondado para trabalhar para elas.

Mas recusou quando soube que, como funcionário, não poderia beber a bordo.

"Navio sem cerveja não é a mesma coisa", justifica.

Celso Ricardo Moreira Abravanel - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Por essas e outras, ele costuma ser brindado pelas empresas com certos mimos a cada novo cruzeiro, como upgrades de cabine e champanhe de boas-vindas no quarto.

Mas diz que preferiria mesmo ter desconto nos preços dos cruzeiros, já que há quase um quarto de século esse tipo de viagem se tornou a principal diversão de sua vida.

De onde vem o dinheiro?

Antes de virar Ricardo "Abravanel", Celso, que hoje mora em Guaratuba, no litoral do Paraná, trabalhou como funcionário público federal e vivia de um simples salário.

Quando se aposentou, passou a usar quase o dinheiro inteiro da aposentadoria para continuar comprando cruzeiros.

Celso Ricardo Moreira Abravanel - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

"Gasto 70% do que recebo com navios", garante. "Nunca fui rico, mas sempre compro parcelado, porque o preço é o mesmo de à vista", ensina. "Também compro com muita antecedência, para pagar menos, e escolho apenas cabines internas, que são bem mais baratas, já que nos navios toda a diversão acontece do lado de fora".

E acrescenta:

Faz tempo que minha casa precisa de uma reforma, mas prefiro gastar o dinheiro comprando mais um cruzeiro. É nos navios que me divirto".

"Importante é ser feliz"

Ricardo é divorciado, tem um filho já adulto, mas quase sempre viaja sozinho - porque, com seu jeito extrovertido, sabe que não faltarão novos amigos e companhias.

"Pratico o que o meu filho sempre me diz: o importante é ser feliz, não importa o que os outros pensem de você. E é como eu me sinto quando entro em um navio e visto uma fantasia", resume o paranaense, que também sempre cultivou o hábito de guardar os cartões de embarque dos cruzeiros que já fez.

Celso Ricardo Moreira Abravanel - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Minha coleção de cruzeiros já está em 94, mas, logo, logo, chegará a 100. Até o próximo verão, eu chego lá".

A passageira que jamais desembarcava

Ricardo não pode cravar que seja o brasileiro com mais viagens de navio no currículo, mas garante que não conhece ninguém com mais cruzeiros do que ele.

Ele também diz que, se pudesse, moraria em um navio de cruzeiro, como algumas pessoas fazem

Só que todas ricas, ao contrário dele.

A mais famosa "moradora" que um navio já teve foi a milionária - e solitária - americana Clara Macbeth, que, nos anos de 1950, decidiu se mudar para o mais luxuoso navio da época, o transatlântico inglês Caronia — e dele nunca mais saiu.

Durante 15 anos, Clara Macbeth morou na mesma suíte daquele transatlântico, viajando sem parar, mas sem nunca desembarcar, o que lhe rendeu a fama de a mais reclusa passageira que um navio já teve — clique aqui para ler esta interessante história, que teve um final igualmente curioso.

O paranaense Ricardo sabe que não conseguirá bater o recorde da milionária americana. Mas garante que chegará aos 100 cruzeiros marítimos e irá bem além disso.