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Uma década depois, 10 momentos que marcaram a tragédia do Costa Concórdia
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Dez anos atrás, na noite de 13 de janeiro de 2012, o transatlântico Costa Concórdia, capitaneado pelo comandante italiano Francesco Schettino, com 3.206 passageiros e 1.023 tripulantes a bordo, atropelou uma rocha submersa quando navegava, indevidamente, perto demais da Ilha Giglio, na costa da Itália, e, inundado, encalhou, inclinou e matou 32 pessoas, no caso mais famoso do gênero da última década — e, pela atuação do seu comandante, também um dos mais vergonhosos da História.
Confira aqui, dez momentos que marcaram esta tragédia.
1 - SEMELHANÇAS COM O TITANIC
A tragédia ocorreu apenas três meses antes de se completarem 100 anos do afundamento do Titanic, e, ironicamente, teve algumas semelhanças com o naufrágio mais famoso da História. Como estas aqui: também foi causado por uma colisão que rasgou a lateral submersa do casco (uma pedra, em vez de um iceberg); gerou o alagamento de mais compartimentos estanques do que o projeto do navio permitia (quatro, quando o máximo que o Costa Concórdia suportaria seriam dois); houve falha gritante da tripulação em não agir rapidamente (a evacuação dos passageiros só começou mais de uma hora depois) e teve abandono caótico, também por falha do comandante (que fugiu do navio e se abrigou em um hotel na ilha, enquanto os passageiros tentavam sair do navio inundado).
2 - DIFICULDADE COM O IDIOMA
O Costa Concórdia tinha tripulantes de 38 nacionalidades e nem todos dominavam bem o inglês, língua oficial a bordo. Um deles era o timoneiro indonésio encarregado de dar o rumo ao navio, a partir das ordens vindas do comandante Schettino — que era italiano, portanto, falava inglês com forte sotaque, nem sempre compreendido pelo indonésio.
A ordem de Schettino para que o navio se aproximasse da Ilha Giglio consistiu em 14 rápidas consecutivas, ditadas por ele, que o timoneiro não compreendeu bem, pela dificuldade com o idioma. Isso gerou lentidão na operação. O último comando executado pelo timoneiro aconteceu apenas dois segundos antes do choque com a rocha submersa. Não deu tempo de desviar.
3 - ALTERAÇÃO NA ROTA DO NAVIO
A rota original do Costa Concórdia previa que ele passaria a uma distância segura de cinco milhas náuticas (cerca de nove quilômetros) da Ilha Giglio. Mas Schettino resolveu alterar o rumo e se aproximar bastante da ilha, a fim de saudar um ex-comandante da empresa, já aposentado, que fora seu mentor na carreira. A ideia de Schettino era passar rente à ilha e apitar para saudar o amigo. Mas, ao se aproximar demais, bateu o navio em uma rocha submersa e deu no que deu.
4 - DEMORARAM DEMAIS PARA AGIR
A colisão abriu um rasgo de 53 metros no casco e começou a inundar rapidamente o navio. Mesmo assim, Schettino levou 25 minutos para ordenar que o navio rumasse para terra firme, para que fosse encalhado, a fim de evitar o naufrágio. Só 1h15 depois do choque o navio estancou nas margens da Ilha Giglio, onde começou a inclinar barbaramente, dificultando o desembarque dos passageiros e aumentando ainda mais a tragédia. Quando isso ocorreu, o comandante abandonou o navio e fugiu para a ilha.
5 - ABANDONO CAÓTICO DO NAVIO
17 minutos após encalhar na ilha, quando mal havia começando a evacuação dos passageiros, o Costa Concórdia começou a inclinar acentuadamente, por conta do peso da água que já havia entrado no casco. Quando a inclinação passou dos 20 graus, tornou-se impossível baixar os botes salva-vidas do lado oposto a inclinação do casco, o que limitou ainda mais a operação. E o navio continuou adernando, até atingir 70 graus de inclinação - quase como tentar caminhar em uma parede, o que dificultou ainda mais a saída dos passageiros.
6 - A FUGA DO COMANDANTE
Quando percebeu a dimensão da tragédia, agravada pela inclinação incontrolável do casco encalhado, o comandante Schettino tratou de abandonar o transatlântico, alegando que "comandaria as ações de resgate a partir de um barco ao lado do navio". Mas, em vez disso, rumou para a ilha, onde desembarcou e se abrigou em um hotel. Pouco antes disso, ele recebeu uma ligação furiosa do capitão dos portos da região, Gregorio De Falco, que se tornaria histórica: "Vada a bordo, cazzo" ("Vá a bordo, catso!" — expressão-palavrão de espanto), ordenou o capitão. Schettino não foi.
7 - DUAS VÍTIMAS SÓ APARECERAM ANOS DEPOIS
A contabilidade da evacuação dos passageiros e tripulantes mostrou que ainda restavam 32 pessoas a bordo quando não havia mais ninguém apto a abandonar o navio. Ou seja, estavam presos ou mortos, o que se confirmaria nos dias seguintes, quando as equipes penetraram no Costa Concórdia e acharam corpos. Mas não de todas as vítimas. Duas delas só foram encontradas quando o navio já estava sendo desmanchado. A ossada do garçom indiano Russel Rebello, que trabalhava no navio, só foi encontrada por operários do estaleiro em 3 de novembro de 2014 — dois anos e meio depois do desastre.
8 - O JULGAMENTO DO ACUSADO
Quatro dias após a tragédia, o comandante Schettino foi indiciado e preso, em meio a um intenso clamor mundial por justiça. E ela veio — mas, inicialmente, branda demais. Um ano e meio depois do episódio, ele foi levado a julgamento, sob as acusações de causar o acidente, abandonar o navio e homicídio culposo, quando não há a intenção de matar. As famílias das vítimas protestaram, recorreram e um novo julgamento foi feito, em 2015. Nele, Schettino foi condenado a 16 anos de prisão, para satisfação do capitão dos portos Gregorio De Falco, que havia dito que "faria o comandante pagar pelo que fez". Mas Schettino recorreu em liberdade.
9 - MORREU MAIS UM
Pouco antes disso, em 2014, quando ainda estava encalhado na ilha, o Costa Concórdia fez mais uma vítima. Um mergulhador espanhol que atuava nos trabalhos de remoção do navio, ficou preso nas ferragens debaixo d´água e morreu afogado. Foi a 33a vítima fatal do malfado navio.
10 - PRESO ATÉ HOJE
Em julho de 2014, mais de dois anos depois do desastre, o Costa Concórdia foi, finalmente, removido da ilha e levado para o desmanche. Já o recurso de Schettino só foi julgado — e negado — em 2017. A acusação aproveitou para pedir a elevação da pena para 27 anos de prisão. Mas o tribunal decidiu manter a pena anterior. Schettino segue preso até hoje.
Um caso ainda mais absurdo
Não foi a primeira vez que decisões erradas de um comandante de navio de passageiros geraram tragédias.
Ao contrário, a história está repleta de casos assim.
Um dos mais polêmicos na época em que aconteceu, 66 anos atrás, foi a inacreditável colisão de dois transatlânticos, o também italiano Andrea Doria e o sueco Stockholm, no meio do Atlântico, em 1956, causada pela imprudência de um comandante e a displicência de outro.
A sucessão de falhas dos dois comandantes gerou um dos mais improváveis acidentes marítimos da História e deixou 52 vítimas fatais — clique aqui para conhecê-lo.
Mas, como ambos erraram, a justiça entendeu que nenhum deles deveria ser punido - clique aqui para conhecer este caso, que teve um desfecho ainda mais absurdo.
Ao contrário do que felizmente aconteceu com o fatídico comandante Schettino.
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