Alê Youssef

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Opinião

Como 'apagão' da economia criativa pesa na queda de popularidade de Lula

Um verdadeiro "apagão" da economia criativa, representado pela ausência de um projeto do governo para o setor, pode ser considerado a "dimensão cultural" que também pesa na queda de popularidade do Presidente da República e se soma a outros problemas crônicos do governo, como a dificuldade de gestão de politicas sociais mais alinhadas com a contemporaneidade e a desconexão com as novas relações de trabalho, especialmente o chamado empreendedorismo popular.

Esse tipo de empreendedorismo está visceralmente vinculado com o comportamento jovem e o gosto das novas gerações por atividades derivadas da criatividade: games, audiovisual, música, eventos, tecnologia, moda, exemplos óbvios de áreas profissionais que são preferidas pelos jovens de hoje, mas que não são percebidas ou estimuladas pelo governo federal.

Durante o período de transição, após a eleição de 2022 que salvou nossa democracia — no momento de recriação do Ministério da Cultura — decidiram extinguir a antiga Secretaria de Economia Criativa, incorporando essa função à Secretaria de Fomentos Culturais.

O que estava disfarçado de um mero ajuste burocrático foi um tiro de canhão que inibiu a possibilidade do MinC articular políticas efetivas para esses setores criativos emergentes e direcionou a pasta para ações focadas na base partidária militante e em políticas de teor mais ideológico, que estão anos-luz distantes da realidade e dos desejos das juventudes brasileiras.

Sem essa agenda no Ministério da Cultura, o setor criativo buscou apoio em outras áreas do governo como nos Ministérios da Industria, Comércio e Serviços, Microempresas e até na área econômica. Em geral, as tratativas não tiveram sucesso.

A discussão sobre a reforma tributária, por exemplo, simplesmente ignorou as especificidades do setor. A estruturante regulamentação do VoD (Video por Demanda) — outro exemplo que beneficiaria muitas dessas áreas, gerando milhares oportunidades de forma transversal — está parada no Congresso Nacional e dificilmente deve ser tratada como prioridade nesse momento politicamente tão problemático.

Outra face desse descompasso é a defasagem dos currículos das políticas de formação profissional. Os ministérios da Educação e do Trabalho não priorizam a qualificação de um enorme contingente de jovens ávidos para atuar nas diversas áreas da criatividade brasileira.

O mais intrigante de todo esse contexto, entretanto, é que, enquanto na esfera federal a economia criativa foi suprimida, em diversos governos estaduais e municipais as secretarias de cultura foram rebatizadas de Secretarias de Cultura e Economia Criativa. Os estados de São Paulo e do Rio de Janeiro, assim como capital paulistana, são exemplos disso.

Como efeito colateral desse cenário, nas eleições municipais as principais produtoras de funk e de games, assim como a maior parte dos micro e pequenos empreendedores criativos da cidade de São Paulo não apoiaram o candidato do governo federal.

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A verdade é que a juventude criativa está ressignificando suas posições políticas em busca de um pragmatismo de vida real. Aquele histórico discurso de Mano Brown na Cinelândia em 2018 segue mais atual do que nunca. Sete anos depois.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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