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OPINIÃO

Cultura precisa de pragmatismo político para 'furar a bolha' e avançar

A Ministra da Cultura Margareth Menezes Imagem: Reprodução Instagram

Colunista de Nossa

21/01/2025 05h30

Em artigo recente para a Folha de S.Paulo sobre o sucesso de "Ainda Estou Aqui" e a potência do audiovisual brasileiro, a Ministra da Cultura Margareth Menezes, reconheceu a dificuldade de avançar no Congresso Nacional o tão necessário marco regulatório do VoD (vídeo por demanda) diante do que ela identificou como "lobby contrário dos conglomerados digitais".

Essa regulamentação faria com que as plataformas de streaming incluíssem uma porcentagem de produções nacionais em seus catálogos e investissem no desenvolvimento do nosso audiovisual.

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Aproveitando a empolgação em torno do filme que segue colecionando indicações e prêmios, o Ministério da Cultura poderia ir além do diagnóstico e agir pragmaticamente para criar uma espécie de frente ampla criativa — para usar o termo da moda — que una todo o setor cultural brasileiro, independente de posições ideológicas, para ampliação da sua capacidade de articulação política.

Sem isso perderemos uma oportunidade histórica, e não conseguiremos avanços realmente consistentes.

Em tempos de tensão entre os poderes da República, é difícil imaginar a construção de maiorias para aprovação de medidas que não estejam no epicentro do debate nacional.

Em que pese a bravura dos parlamentares que atuam pelo setor no congresso, é preciso muito mais. A cultura não pode continuar vivendo em uma bolha de pouco alcance político e sectarismo ideológico.

Imagem: Getty Images

Obviamente não é uma tarefa fácil, e todos os dias assistimos dificuldades para pautas contemporâneas avançarem, mas faz parte do trabalho criar as condições para que a economia criativa seja verdadeiramente valorizada. Ela está intrinsecamente ligada às novas relações de trabalho e ao empreendedorismo jovem, pautas que são urgentes para a macropolítica do governo e estão em permanente disputa com a oposição. Não faz sentido, portanto, que esse assunto permaneça sendo tratado de forma lateral.

A unificação de todas as áreas que compõe a indústria criativa — e, com isso, o apoio de toda a cadeia de suprimentos para essa indústria — pode dar a musculatura econômica e política necessária para os embates futuros.

Sem isso, as políticas públicas continuarão sendo insuficientes e as ações estruturantes de nossa indústria cultural, como a própria regulamentação do streaming, permanecerão distantes.

Desde que pesquisas apontaram o importante número de 3,11 % do PIB gerado pela economia da cultura e das industria criativas, o que vimos foram os mais variados representantes de distintas áreas culturais, se gabando dos números. como se fossem totalmente responsáveis por eles.

Tudo para aumentar suas fatias do minguado bolo do orçamento público do setor. Cada um no seu quadrado, cada segmento com sua demanda, tentando garantir o seu, mas com muita dificuldade de se compreender parte de um todo, de uma mesma cadeia industrial criativa.

Imagem: Arte Nossa

É fundamental superarmos preconceitos, aproximarmos diferenças e diminuirmos distâncias, inclusive compreendendo e valorizando novas áreas que compõem nosso ambiente criativo, como aliadas estratégicas.

O setor de games, por exemplo, representa metade do PIB criativo, gera oportunidades para diversos artistas, faz a cabeça da juventude, mas pouco é mencionado nos debates culturais ou envolvido nas suas estratégias.

Somente quando juntarmos a música, o audiovisual, os grandes eventos culturais, o teatro, as artes plásticas, a dança, a gastronomia, a publicidade, a moda, o design , a arquitetura, o artesanato e os games, em torno de um mesmo objetivo e com o pragmatismo de todos os outros setores produtivos do Brasil é que daremos o salto político necessário para atualizarmos nossa política cultural.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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Alê Youssef