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05/03/2009 - 23h24

"Games na telona": "Mario" foi início com o pé esquerdo

OTÁVIO MOULIN
Colaboração para o UOL

Reprodução

'Super Mario Bros.' foi um verdadeiro fiasco de bilheteria

'Super Mario Bros.' foi um verdadeiro fiasco de bilheteria

Depois de reinar absoluta a partir da segunda metade da década de 1980 nos EUA, a Nintendo não quis arriscar perder seu território para os concorrentes e continuou a investir pesado em divulgação. Era algo que vinha dando certo desde que a empresa começou a apostar em vários projetos multimídia, com o objetivo de promover suas propriedades fora do universo dos jogos e conquistar maior abrangência. Foi o caso dos desenhos animados "Super Mario Bros." e "Capitão N", e do filme "O Gênio do Videogame" (1989), que mostrava Fred Savage, o garoto da série "Anos Incríveis", em uma viagem pelos EUA para levar o irmão para disputar um torneio de games.

Com o lançamento do Super NES em 1990 e a briga acirrada contra o Mega Drive da Sega, a gigante japonesa resolveu pegar pesado e apostar novamente no cinema, desta vez para tornar um de seus jogos em filme com atores de carne e osso. O projeto começou a ser tocado em 1992, quando a empresa se associou a algumas produtoras ligadas aos estúdios Disney para rodar a primeira grande adaptação de um videogame para a tela grande. A parceria escolheu o incrivelmente popular encanador Mario para ser o astro do projeto, em uma decisão que parece ter julgado apenas o apelo do personagem diante do público e não as dificuldades em adaptar um universo tão lúdico e fantasioso.

A equipe formada parecia boa no papel. A produção ficou a cargo Roland Joffé (indicado anteriormente a dois Oscars de melhor diretor) e para a direção foi contratado um casal, Rocky Morton e Annabel Jankel, famoso no meio publicitário e que até então só havia dirigido um longa-metragem em Hollywood, o competente policial "Morto ao Chegar" (1988). O elenco foi encabeçado por outros atores previamente indicados a Oscars: o inglês Bob Hoskins ficou com o papel de Mario enquanto o icônico Dennis Hopper se tornou o vilão Koopa - já Luigi foi interpretado por um ainda novato John Leguizamo.

Infelizmente o currículo dos envolvidos não foi capaz de salvar o projeto. Estouros no orçamento e visões artísticas diferentes atrapalharam as filmagens - os diretores queriam algo mais adulto e sombrio enquanto os produtores queriam algo infantil para agradar o público dos jogos. Com as brigas, o roteiro foi reescrito por tantas vezes que os atores muitas vezes improvisam as falas devido à falta de tempo para memorizar as constantes mudanças. Morton e Jankel também arrumaram confusão com boa parte da equipe e ficou antipatizados, o que obrigou Joffé a dirigir algumas cenas para tentar consertar a narrativa quebrada pelas revisões de script. Foi um projeto tão caótico que, de acordo com depoimentos dados anos mais tarde por alguns atores, o elenco se embebedava durante a produção para tentar relaxar e ficar alheio às brigas.

Antes de Bob Hoskins aceitar o papel do encanador Mario em "Super Mario Bros.", o personagem foi oferecido a Danny DeVito, que vinha do sucesso de "Batman - O Retorno", quando interpretou o vilão Pinguim. Dustin Hoffman também quase aceitou o papel por insistência dos filhos, que eram fãs dos games.
"Tô fora"
"Super Mario Bros. - O Filme", ainda que aos trancos e barrancos, conseguiu chegar aos cinemas do território norte-americano no dia 28 de maio de 1993, início da lucrativa temporada de verão. Mas nem mesmo as férias e o apelo dos personagens evitaram o desastre: foram arrecadados penas US$ 21 milhões de bilheteria doméstica diante de um custo de US$ 48 milhões, o que levou a distribuidora a lançar diretamente em vídeo em outras regiões, o que era um atestado de fracasso na época. Até hoje membros envolvidos no projeto, como Hoskins, Leguizamo e Hopper falam em entrevistas que o filme foi o pior de suas carreiras, o que deve realmente ser verdade, já que os diretores nunca mais trabalharam em nenhum outro longa.

A falta de sensibilidade em detectar a essência da franquia adaptada e os desejos dos fãs infelizmente não fez apenas uma vítima, mas outras duas logo em seguida. "Double Dragon", que estava na gaveta há três anos, seria a transposição da famosa série de briga de rua envolvendo gangues brutais e certo misticismo asiático. No entanto, o que se viu foi um produto bem diferente do material original.

Mesmo contando com roteiro de Paul Dini (premiado escritor dos desenhos do Batman e seus quadrinhos) e produção de Don Murphy (que anos mais tarde iria tirar do papel "Transformers" e "Do Inferno"), a aventura dos irmãos Jimmy e Billy Lee se transformou em uma grande brincadeira de criança, com personagens coloridos, humor rasteiro e ação de matinê, sob regência do clipeiro James Yukich.

Reprodução
Nas telonas, brigas de 'Double Dragon' se transformaram em brincadeira de criança...
Reprodução
... enquanto os combates de 'Street Fighter' se perderam em meio a elenco de estrelas.
Ainda que de produção B, de orçamento que dificilmente ultrapassou a faixa dos US$ 10 milhões, o filme não conseguiu gerar o retorno esperado e arrecadou pouco menos de US$ 3 milhões nas bilheterias dos EUA no final de 1994. Logo se tornou mais um produto para o mercado de vídeo, a exemplo de outros títulos de sua produtora, a Imperial Entertainment, como "O Rei dos Kickboxers" ou "Nemesis - O Exterminador de Andróides".

A terceira vítima estreou nos cinemas dos EUA poucos meses depois de "Double Dragon", em dezembro de 1994. "Street Fighter - A Última Batalha" foi um raro caso de adaptação que gerou lucro - ainda que pelos motivos errados. O preço no entanto, foi um pouco caro diante do constrangimento causado aos envolvidos na produção e aos próprios fãs do jogo, facilmente um dos mais populares e influentes daquela década.

O mais irônico é que o projeto foi supervisionado pela própria Capcom, em um raro caso em que uma desenvolvedora investiu dinheiro do próprio caixa para bancar sozinha uma adaptação - na maioria das vezes os criadores originais, quando muito, servem apenas como consultores. A companhia japonesa se associou ao produtor Edward R. Pressman - calejado em resolver problemas de produção depois que Brandon Lee morreu durante filmagens de seu "O Corvo", deixando-o incompleto - e escalou o famoso roteirista Steven E. de Souza (de "Duro de Matar") para escrever o script e utilizá-lo para sua estreia na direção.

A cereja do bolo seria Jean-Claude Van Damme, que estava em alta na época e foi escalado para interpretar o militar americano Guile. Ironicamente, astro belga teve que recusar o papel de Johnny Cage - personagem criado originalmente como homenagem a ele - na adaptação de "Mortal Kombat" que estava sendo planejada paralelamente. O respeitado ator porto-riquenho Raul Julia aceitou interpretar o vilão M. Bison para agradar os filhos pequenos, mesmo com a saúde debilitada devido a um câncer no estômago que veio a vencê-lo logo depois do término das filmagens. O restante do inchado elenco foi preenchido com atores menos conhecidos, com um destaque para a cantora australiana Kylie Minogue, que ficou com o papel de Cammy.

Este inchaço no elenco foi o que acabou por sabotar a produção. A Capcom fez questão de manter os visuais originais vistos nos jogos e utilizar praticamente todos 14 os personagens criados até então - substituindo o chinês Fei Long por um nipônico chamado Sawada, graças a seu intérprete, Kenya Sawada, que estava em ascensão no Japão. Com tanta gente para encaixar na história, de Souza foi obrigado a transformar um filme voltado para um torneio de lutas em uma colcha de retalhos sobre uma luta pela liberdade, mostrando os esforços de um bando de sujeitos em uniformes coloridos contra um espalhafatoso ditador do sudeste asiático.

GUILE NA TELONA
Divulgação
Jean-Claude Van Damme teve problemas com a carreira a partir de "Street Fighter". Em alta na época, ele assinou contrato para aturar em vários filmes dos estúdios Universal e Columbia, mas seus ataques de estrelismo potencializados pelo vício em cocaína colocaram tudo a perder. Hoje os filmes do ator são feitos com orçamento reduzido e não passam mais nos cinemas, voltados diretamente ao mercado de DVD.
Massacrado pela crítica, "Street Fighter - A Última Batalha" arrecadou pouco mais de US$ 33 milhões nas bilheterias dos EUA, quase pagando ao menos os custos de produção, orçada em US$ 35 milhões. O lucro veio mesmo graças aos produtos licenciados (como um jogo baseado no longa) e, principalmente, devido à presença de Van Damme. Embora o ator nunca tivesse se tornado um astro intocável nos EUA, ele gozava de grande popularidade em mercados importantes ao redor do mundo, como Japão, Inglaterra, França e Brasil e seu nome nos créditos chamou a atenção até mesmo daqueles que não eram jogadores. Graças ao desempenho no exterior, o filme conseguiu arrecadar um total de quase US$ 100 milhões, somente nos cinemas. Como uma espécie de pedido de desculpas com segundas intenções, a Capcom logo engatou o lançamento mundial de um longa em animê, bem mais fiel aos jogos e que também fez boa carreira.
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