Análises | The Godfather: Blackhand Edition Nintendo Wii "... o uso do Wiimote e da extensão Nunchuk justifica a compra do título..."
19/04/2007 da Redação | A Electronic Arts pode não dar o melhor exemplo à indústria dos videogames quando o assunto é franquias originais. Contudo, a gigante norte-americana sabe explorar suas séries com muito sucesso, re-inventando-as sempre que chegam a um ponto de estagnação.
A adaptação do filme "O Poderoso Chefão" para os videogames chegou tarde, no começo de 2006 para PC, PlayStation 2 e Xbox. O processo de propagação do título para outras plataformas aconteceu lentamente, começando pelo PSP e Xbox 360. Recentemente, o Wii recebeu sua própria edição, que utiliza as características únicas do console enquanto conserva o mesmo conteúdo original (inclusive no quesito gráfico), com algumas pequenas novidades.
A máfia do wii-remote
"The Godfather: The Blackhand Edition" é um jogo com grande liberdade de ação, permitindo explorar uma Nova York da metade do século XX, onde organizações criminosas de origem italiana demarcavam seus territórios. Composta de cinco grandes regiões, como a Little Italy, Brooklyn e Hell's Kitchen, por exemplo, o jogador viverá o papel de um gângster.
O jogo integra partes não-interativas, muitas reproduzindo cenas célebres do filme, com a exploração de um vasto mundo, tendo a liberdade de cumprir as missões essenciais, que fazem avançar o roteiro, ou vagar por Nova York, procurando outros tipos de atividades apenas por diversão.
"The Godfather" começa quando o pai do protagonista é assassinado por mafiosos rivais e sua mãe pede que Don Vito Corleone cuide de você. Seu personagem começa na base da hierarquia dos Corleone - na verdade, fora do organograma - e as missões iniciais são aquelas típicas de aquecimento para conhecer e treinar os controles. Aliás, o tempo é necessário, pois além de numerosos, os comandos abusam do sensor de movimento do wii-remote e da extensão nunchuk, resultando em uma curva de aprendizado lenta.
No combate corpo-a-corpo, você deve movimentar o controle de acordo com o ação desejada no jogo, enquanto mantém o botão "Z" do nunchuk pressionado para travar a mira em um inimigo. Os mais básicos são simples, como movimentos rápidos para frente ou esquerda com o wii-remote para executar um soco ou gancho, respectivamente.
Além da diversidade de socos e chutes, mais um leque de opções se abre enquanto você agarra o oponente. Levantando ambas as partes do controle, seu personagem suspende o inimigo no ar; aproximando e chacoalhando-as você o estrangula; movendo-as simultaneamente para um lado e soltando os botões, você o lança para o lado. Enfim, são tantas as opções de ataque que os combates correspondem a um dos elementos mais ricos e divertidos do jogo.
Golpes mais avançados requerem o uso de até dois botões em adição aos movimentos dos controles, podendo confundir o jogador inexperiente. No entanto, o fato de o personagem imitar o movimento executado pelo jogador (dentro das possibilidades oferecidas pelo jogo, obviamente) torna os combates mais intuitivos.
Para facilitar, enquanto agarra o oponente, quando o jogador se aproxima de algum objeto que possa ser utilizado em sua vantagem, um pequeno ícone surge no topo da tela indicando qual o movimento que deve ser feito para executar uma ação. Dentre diversas possibilidades, pode-se bater a cabeça do oponente em uma mesa, prensá-lo contra a parede ou até mesmo jogá-lo dentro de uma fornalha.
Para garantir que o jogador não fique perdido com a grande quantidade de movimentos possíveis, a Electronic Arts foi muito competente ao disponibilizar uma organizada lista com todos eles, demonstrando como realizá-lo com animações bastante claras.
Extorquir também faz parte
Essa diversidade tem explicação em um dos principais mecanismos de "The Godfather", o poder da influência. Essa não é uma parte obrigatória, a não ser em eventos isolados, mas perder isso é deixar de lado uma das coisas mais divertidas do game. Todos os estabelecimentos comerciais da região estão em poder de algum grupo mafioso, que cobra as famosas taxas de proteção.
O seu trabalho é exatamente convencer os comerciantes a pagar para a sua família, o que também significa que você leva uma parte na "negociação". O grosso de sua "renda" vem diretamente das lojas com as quais você mantém esses "acordos". Enquanto alguns pagam a taxa logo de cara, geralmente, no começo, você tem que usar táticas mais agressivas.
Quebrar a caixa registradora ou móveis, agredir clientes ou o próprio dono do estabelecimento são algumas das ações que podem ser aplicadas para convencer-lhe do pagamento. Cada um deles tem um medidor que mostra sua resistência psicológica e o objetivo é atingir exatamente esse limite, sem ultrapassá-lo. Na zona vermelha, no entanto, ele passa a lhe agredir, e o jeito é matar ou morrer, em ambos os casos, resultando em falha na extorsão. Os lojistas têm pontos fracos, uns têm medo de serem violentados, outros não agüentam ver sua loja destruída, por exemplo.
Desta vez, alguns destes personagens pedem-lhe a realização de tarefas que, se cumpridas, garantem bônus ao jogador. Apesar de não representarem uma grande adição ao jogo, extendem o número de missões secundárias e coisas para fazer na cidade. O estranho é notar que, muitas vezes, o pedido vem dos próprios lojistas e não de alguém de dentro da família Corleonne - que seria mais aceitável.
Extorqüir um lojista fica mais complicado se estiver em domínio de outra facção, pois capangas atacam assim que acontecer algo estranho no recinto. O nível de resistência varia conforme a força da família, mas muitos dos pontos são intocáveis no começo, devido à quantidade de mafiosos e seus armamentos pesados.
Ao tomar um negócio, tão importante quanto o dinheiro das extorsões, é o acesso aos fundos dos estabelecimentos, onde, na maioria das vezes, operam comércios ilegais, e você terá mais oportunidades de negócios. Muitas vezes, se pertencem a bandos rivais, o tiroteio é inevitável, mas só vencendo esse confronto a loja passa de mãos.
Assim, tomando o ponto dos adversários, você vai minando a influência dos oponentes, até que terá a oportunidade de tomar pontos estratégicos, promovendo uma arriscada guerra total. Iniciada a contagem regressiva, o jogador tem apenas a alternativa de exterminar todos da facção adversária ou subornar um agente do FBI para acalmar a situação. Caso contrário, será o perdedor na guerra e todas as lojas do bairro voltam para o poder dos inimigos.
Poder de fogo
Em confrontos tão mortais assim, é bom estar prevenido com armas poderosas. Isso o game tem de sobra, desde revólveres até coquetéis Molotov, bem ao estilo da época. Ao contrário dos combates corpo-a-corpo, o uso das armas de fogo não requer a movimentação do Wiimote, visto que o travamento automático da mira é bastante funcional. No entanto, você pode rejustar a mira com o controle para atirar, por exemplo, na cabeça do oponente, causando sua morte imediata.
Além desses ataques normais, é possível fazer diversos tipos de execuções, que são golpes brutais que põem fim à vida do oponente com um único movimento. Cada arma branca ou de fogo exige um movimento próprio do Wiimote, estes um pouco menos óbvios e intuitivos que os golpes já mencionados. Essas mortes conferem mais pontos de reputação que o normal. Esses pontos são equivalentes à experiência dos RPG e fazem seu personagem subir de nível.
Isso permite ganhar pontos de habilidade, para serem distribuídos entre diversos quesitos, como proficiência em combate corpo-a-corpo, manejo de armas, vitalidade e sabedoria das ruas. Este último faz com que, por exemplo, o seu personagem carregue mais bombas ou fique menos apreensivo durante os combates ou quando roubar um carro. E embora a EA tenha dividido estes atributos em duas categorias distintas ("Enforcer" e "Operator") para a versão do Wii, em nada isso parece resultar.
Recriando um clássico dos cinemas
Se no ano passado o visual de "The Godfather" já não era o que havia de mais avançado em termos gráficos, no Wii o jogo é apenas aceitável. Desta vez, aparentemente, mais pessoas se locomovem pelas ruas de Nova Iorque, sem que o jogo sofra de lentidão - algo comum na versão para o PlayStation 2. Os mesmos problemas do original também aparecem aqui, como texturas de baixa resolução em alguns pontos da cidade.
Para compensar, os personagens são bastante detalhados e os cenários, enormes e com bom nível de minúcias, como papéis voando e outras animações que dão vida aos ambientes. Os efeitos visuais, como fogo e fumaça, também são aceitáveis, assim como o modelo de danos.
O destaque do som é, naturalmente, o memorável tema principal de Nino Rota. Ele aparece sempre nos momentos-chave, desde a excelente abertura até o fim do game. A trilha original do game, no entanto, apenas se perde em meio à ação. Efeitos sonoros como tiros, explosões e vidros se estilhaçando, são altos e claros, proporcionando emoção aos combates.
O crime compensa?
"The Godfather: Backhand Edition" conta com algumas novidades que podem estender o tempo de jogo, como missões secundárias. Contudo, é o amplo e funcional uso do wii-remote e da extensão nunchuk que justifica a compra do título, provando que gêneros mais tradicionais podem se adaptar muito bem ao console da Nintendo.
Veja também Videoanálise de "The Godfather: Blackhand Edition"
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