Análises | Sid Meier's Railroads! PC "...a maleabilidade é tanta que há muitas e muitas horas de jogo..."
03/04/2007 da Redação | Provavelmente, mesmo aqueles jogadores que nunca brincaram com um ferrorama na vida ou sequer se interessam por trens vão gostar de "Sid Meier's Railroads!", desde que apreciem games com um forte componente econômico. É que a obra de Sid Meier não se preocupa tanto com o aspecto "tycoon" (ou seja, administrativo), tal como fez o seu antecessor, "Railroad Tycoon 3", preferindo focar a construção de uma extensa malha ferroviária e nas melhores formas de lucrar com ela.
Afastado da série desde a produção do original, de 1990, o designer resolveu recriá-lo com gráficos tridimensionais e um apelo estratégico maior. O resultado é um jogo envolvente e viciante a ponto de fazer as horas passarem como se fossem minutos, uma experiência gratificante que só é atrapalhada pelo lamentável excesso de bugs e pela má qualidade da otimização.
Tornando-se um barão
"Sid Meier's Railroads!" dispensa o modo campanha, tão tradicional nos dias de hoje, oferecendo 15 cenários, entre fictícios e históricos, que começam em meados do século 19 e se estendem até os dias atuais. Cada um deles possui vários objetivos, que devem ser cumpridos dentro de um certo prazo, embora falhar não signifique "game over" - na verdade, ser bem-sucedido nos objetivos rende apenas algumas condecorações ao final da partida.
É possível personalizar diversos aspectos, desde o número de adversários controlados pelo CPU até a disposição das cidades no mapa. Os cenários, aliás, são ambientados nos Estados Unidos, Alemanha, Grã-Bretanha etc., e apresentam grande fidelidade histórica com relação às tecnologias da época, os barões e até mesmo quanto à própria evolução da malha ferroviária dentro de cada contexto.
Se há um adversário na jogada, seja este de carne e osso ou não, a meta principal passa a ser adquirir todas as suas ações e, conseqüentemente, dominar o mapa por completo. Todos começam com a mesma quantidade de ações, que naturalmente aumenta (ou diminui, sendo mais pessimista) com o passar do tempo, e há uma série de alternativas para ganhar dinheiro, que corre relativamente fácil em "Sid Meier's Railroads!".
O modo multiplayer, para até quatro participantes, funciona via rede local e internet. Embora jogar contra outra pessoa proporcione talvez os melhores momentos do jogo, muitas vezes a longa duração das partidas pode ser um problema, principalmente online, quando um jogador eventualmente abandona a disputa, assumindo o CPU em seu lugar, mas sem manter o estilo e a própria estratégia do antecessor.
Oferta e demanda
A interface e os controles são intuitivos: construir ferrovias e interconectar cidades ou outros locais do mapa é feito com poucos cliques do mouse. Basicamente, o que dita as regras é o sistema de oferta e demanda. Por exemplo: Las Vegas precisa de ouro que, por sua vez, pode ser obtido em uma mina próxima; então, basta criar uma linha entre dois pontos, escolher o trem, determinar o número de vagões, e pronto: está definida uma rota.
Entre as cidades, inicialmente as matérias-primas principais são passageiros e correspondências, mas as possibilidades não param aí, já que uma das formas de multiplicar ganhos, ainda que a longo prazo, é adquirindo indústrias: vamos supor que Praga, por exemplo, precise de madeira; construa uma usina de móveis na cidade para, então, faturar uma grana extra a cada carregamento entregue.
Claro que só um trem circula no trilho por vez, então quando a malha ferroviária estiver mais complexa, duplicá-la torna-se obrigatório. Com o passar do tempo (dentro da cronologia do jogo), novas tecnologias são liberadas, como motores para as locomotivas, e vale a pena ficar de olho para efetuar os "upgrades" convenientes. Há também muitos leilões e, ao vencer um, você passa a dominar a patente da tecnologia em questão por dez anos, colocando mais algum no bolso.
Ao suprir as demandas das cidades, você poderá vê-las progredindo ao longo dos anos, de singelos vilarejos até grandes metrópoles, processo que é muito bacana de acompanhar, pela interação entre o cenário e as ações do jogador. Construir o império perfeito é difícil, mas o exercício de tentar alcançar uma estrutura excepcional é extremamente desafiador. O dinheiro vai aos cofres a cada entrega feita e os trilhos se adaptam ao relevo e às condições do mapa automaticamente, o que evita desperdício de tempo com opções de construção ou menus de administração.
Bug no trilho
"Sid Meier's Railroads!" tem um visual excelente, embora não ofereça tantas opções na câmera 3D ou no zoom para passear pelos cenários reproduzidos com bastante vida na tela do PC. As texturas das cidades também não são muito caprichadas, mas a atenção a detalhes como o embarque das mercadorias - você vê cada vaquinha entrando no vagão - traz à tona aquele clima fascinante característico das maquetes.
O problema é que a não ser que o seu computador seja realmente uma máquina de ponta, rodar o game em sua plenitude pode não ser tão fácil. Não que ele seja pesado, mas a otimização deixa a desejar. Para completar, sem os patches instalados, a quantidade de bugs beira o insuportável, desde alguns menores, como cenários que se desfiguram de repente, até os graves, como o erro que fecha o jogo sem mais nem menos.
A trilha sonora tem momentos de repetição, mas é competente com as músicas agradáveis e efeitos sonoros que marcam cada momento do jogo, desde a batida do martelo ao vencer o leilão até o indispensável apito do trem chegando ao destino. Novamente, uma simplicidade que cai bem.
Trem da alegria
"Sid Meier's Railroads!" revive a série com ajustes bem-vindos e, embora a ausência de um modo campanha possa dar a impressão de falta de direcionamento, a maleabilidade é tanta que há muitas e muitas horas de jogo aqui, sem as complicações do microgerenciamento. Uma pena que o produto tenha sido lançado com tantas falhas técnicas, mas uma vez instaladas as correções, a diversão vem a todo vapor.
Veja também Videoanálise de "Sid Meier's Railroads!"
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