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Promessa da seleção supera preconceito e diz: parei de estudar pelo vôlei

Drussyla chegou à seleção aos 21 anos - Pedro Vilela/MPIX/CBV
Drussyla chegou à seleção aos 21 anos Imagem: Pedro Vilela/MPIX/CBV

Leandro Carneiro

Do UOL, em São Paulo

29/06/2017 04h00

“Negra, nordestina, criada na favela, e sem o segundo grau completo”. Essa foi a frase usada por Drussyla, aposta da nova geração da seleção brasileira de vôlei, após ser atacada nas redes sociais por não ter completado os estudos. A ofensa feita por um internauta não aparenta abalar a jogadora. A ponteira acredita que toda a trajetória que enfrentou a fez se tornar uma pessoa mais forte, uma "guerreira" como ela mesmo diz.

Drussyla chegou ao grupo comandado por José Roberto Guimarães aos 21 anos. Ela esteve no grupo campeão do Torneio de Montreaux e entrará em quadra no Grand Prix. Mas, muito antes disso, ela teve um caminho difícil. Cresceu longe da mãe. Para seguir no vôlei foram algumas horas dormindo na sala de aula até abandonar a escola somadas a desconfiança sobre seu potencial, afinal ela “era marrenta demais” para fazer sucesso.

“Muita gente, quando eu era mais nova, falava da minha postura. Falavam que era marrenta. Não ia chegar a lugar algum. Que eu tinha potencial, mas eu ia ser só mais uma de muitas que não vingaram, não conseguiram ter vôlei como profissão. Para mim, esses dias aqui (na seleção brasileira) não têm sido tão fáceis como achei que ia ser. Estou com saudade da minha casa, da minha família. Abro mão de muita coisa para estar aqui. Quero, já que estou aqui, vou fazer valer a pena. É uma oportunidade que muitas garotas da minha idade queriam ter”, falou em entrevista ao UOL Esporte.

Segundo a jogadora, a “marra” criticada por algumas pessoas em sua trajetória nada mais é que uma postura de atleta que prefere não falar. “Já que tenho essa fama, eu fico na minha e espero as pessoas falarem comigo para verem que não sou desse jeito”.

Sobre o comentário que foi feito no Facebook, em que um internauta disse que "se ela não se matar de jogar, não trabalha nem como doméstica", Drussyla ainda estuda junto com a família o que irá fazer. Ela acha que foi preconceito e contou que sua família ficou ofendida com a frase.

Drussyla - Oswaldo Forte/MPIX/CBV - Oswaldo Forte/MPIX/CBV
Imagem: Oswaldo Forte/MPIX/CBV

Atleta relembra dificuldades e opção por abandonar estudos

A saudade que sente da família faz parte da rotina da atleta. Quando era pequena ela foi com o pai para o Rio de Janeiro e sua mãe ficou no Nordeste, trabalhando para ajudar na construção de sua nova casa.

“Eu nasci e vim para o Rio. Meu pai construiu uma casa no terreno que minha tia deu para gente. Ela já tinha casa lá. Minha mãe trabalhava lá (no Nordeste) e mandava dinheiro para comprar material para construir nossa casa. Sou nordestina, por mais que tenha sido criada no Rio. Eu me sinto nordestina. Minha mãe sempre disse que mulher nordestina tem uma força, acho que vem da minha vó que tinha fazenda, cultivava o que comer. Sempre me passou essa força. A imagem que tenho é de um povo guerreiro, que luta pelo que quer”, ressalta.

Ao lembrar sobre o fato de ter abandonado a escola, Drussyla tenta repor o que perdeu, mas ressalta que a escolha feita foi uma opção para viver um sonho.

“Penso em voltar a estudar. Tenho objetivos na vida. Infelizmente, tive de abrir mão da escola porque viajava muito. Antes de ser convocada pela seleção, eu jogava na praia, tinha etapas na praia. Minha vida foi muito precoce. Eu estou tentando fazer a distância, numa escola que pega o material e estuda em casa para fazer prova. Agora, comecei curso de inglês. Querendo ou não, o curso é mais importante para mim. No momento, eu viajo muito, preciso me virar lá fora. Tenho de abrir mão de alguma coisa para fazer o meu melhor dentro de quadra que é meu sonho também”, relembrou a atleta que dormia na aula devido ao cansaço na dupla jornada quando era mais nova.

Ao falar sobre a primeira oportunidade na seleção, Drussyla disse que se surpreendeu com a convocação. Ela, inclusive, já havia programado outros planos para as férias no clube.

“As coisas esse ano aconteceram muito rápido. Foi no clube, veio convocação. Não estava esperando, tinha planejado outras coisas para fazer nas férias. Eu só estava esperando a convocação da sub-23. Estou querendo aprender. Ganhar meu espaço. Conhecer a comissão que nunca tinha trabalhado antes”, finalizou.