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Mauro Cezar: Quem é o mocinho da história? O futebol foi vítima em Itaquera

Do UOL, em São Paulo

06/09/2021 15h57

O cancelamento do jogo entre Brasil e Argentina pelas Eliminatórias Sul-Americanas causou grande repercussão no Brasil e no mundo depois de um representante da Anvisa ter entrado no gramado para a paralisação da partida que já estava ocorrendo devido ao descumprimento de protocolos de segurança em relação à pandemia.

No podcast Posse de Bola #158, Mauro Cezar Pereira afirma que não há discussão sobre os argentinos errarem com o preenchimento de formulário mentindo ou omitindo informações, mas que há muitas questões e o episódio não apresentou inocentes.

"Se o cara falsifica ou coloca informações falsas em um formulário de entrada em qualquer país, é óbvio que o cara está errado, discutir isso é um desperdício de tempo. A questão é todo o contexto que envolve isso, por que caras mais do que conhecidos, todo mundo sabe que eles jogam no futebol inglês, não é novidade nenhuma, entraram sexta-feira no país, foram até a sede do Corinthians lá no Parque São Jorge, onde fizeram algumas atividades de academia, no sábado, no final da tarde, começo da noite, estiveram na Neo Química Arena", diz Mauro.

"Não tinha ninguém da Anvisa, todo mundo sabia, ou quem quisesse saber, poderia identificar qual hotel eles estavam. Por que a Anvisa não foi ao hotel mais cedo com a Polícia Federal? Se é questão de saúde pública, já está tudo errado, porque se esses caras são uma ameaça à saúde dos brasileiros, como é que eles ficaram circulando sexta-feira, ficaram circulando no sábado, no domingo? Então realmente qual é o mocinho dessa história? Quem é que está certo?", questiona.

O jornalista cita a própria posição de Ednaldo Rodrigues, o presidente interino da CBF, e acredita que para que os argentinos tenham ido a campo, algum acordo deve ter ocorrido.

"A questão é todo esse contexto e o próprio presidente interino da CBF dava entrevistas depois do jogo se posicionando ao lado dos argentinos. Por que? Porque eles têm um acordo, é óbvio. O que aconteceu afinal? Por que esse show todo nesse momento? Por que toda essa patacoada? O futebol é que foi vítima, porque a gente vê tanto jogo ruim de eliminatória, quando tem a chance de um jogo um pouquinho melhor, o Messi e o Neymar o futebol é que é sacaneado, o futebol que é vítima", diz Mauro.

Mauro também cita as recentes chegadas ao Brasil de Willian, para o Corinthians, e Andreas Pereira, para o Flamengo, sendo que este até já fez sua estreia pelo clube rubro-negro e aponta que há brechas para interpretações na portaria 655, que pede a quarentena a pessoas provenientes de África do Sul, Índia, Irlanda do Norte e Reino Unido.

"Você pega a portaria, ela dá margem a interpretações e aí você vê situações como o Andreas Pereira, que chega da Inglaterra, dá entrevista no aeroporto no Rio de Janeiro, é recebido com toda a festa no CT do Flamengo, abraça as pessoas, treina e joga contra o Santos, e faz gol. Esse cara não cumpriu 14 dias. O Willian vem da Inglaterra, é tratado como grande reforço que é do Corinthians, é festejado, está ali perto das pessoas, não ficaram em isolamento", diz Mauro.

"Se o cidadão sair daqui e for para a Inglaterra hoje, vai ter que ficar 14 dias no hotel e pagar a conta. Aí você vê que os clubes se agarram ao item 3 da portaria, mas ela dá margem a várias interpretações. Ontem eu conversei com uma infectologista e perguntei sobre isso, ela falou 'não, a portaria tem o propósito de determinar que todos os cidadãos, brasileiros ou estrangeiros, tenham a obrigação de cumprir a quarentena'. Mas existem itens que dão margem a interpretação, ela nem é categórica na sua redação, dá margem a isso. Tudo isso é uma grande bagunça, é um negócio realmente patético", conclui.

Posse de Bola: Quando e onde ouvir?

A gravação do Posse de Bola está marcada para segundas e sextas-feiras às 9h, sempre com transmissão ao vivo pela home do UOL ou nos perfis do UOL Esporte nas redes sociais (YouTube, Facebook e Twitter).

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