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Futebol Sem Fronteiras

O jogo por trás do jogo. Com Jamil Chade e Julio Gomes


ANÁLISE

Futebol sem Fronteiras #14: Como PSG virou gigante dentro e fora de campo

Do UOL, em São Paulo

12/08/2021 16h00

Com a confirmação da contratação de Lionel Messi, o Paris Saint-Germain deu mais um passo para a formação de um elenco estelar. Nas últimas temporadas, o clube não economizou para se reforçar, mesmo em um momento de retração da economia mundial por conta da pandemia. Enquanto muitos tentam enxugar gastos, o PSG parece ter uma fonte infinita de dinheiro. Como isso é possível?

No podcast Futebol sem Fronteiras #14 (ouça na íntegra no episódio acima), o colunista Julio Gomes e o correspondente internacional Jamil Chade conversaram com Stéphane Darmani, correspondente do Canal+ e comentarista dos canais ESPN/Fox. Eles debateram sobre a montagem de um time dos sonhos do PSG para a temporada 2021/22 e como o clube consegue ter uma situação financeira tão tranquila que lhe permite trazer "apenas" um nome como o de Messi.

Jamil respondeu a uma dúvida comum: como o Barcelona, um dos clubes mais poderosos do planeta, não conseguiu manter Messi em seu elenco e o PSG teve tanta facilidade para acertar com o argentino? "Tem uma explicação lógica. O PSG é um dos poucos times europeus que não dependem do dinheiro do futebol. Ele tem outra fonte de renda, que é um estado soberano sentado sobre energia. É um dinheiro que não falta e, claro, muda toda essa perspectiva. Também há outros motivos: a França não tem fair play financeiro", explicou.

Darmani contou como começou esse projeto do clube, há cerca de dez anos. "Tudo nasceu em 2011, quando o Qatar quis implementar essa nova política de soft power, de usar o esporte como uma arma diplomática e pensando na Copa do Mundo que iria organizar e fazer uma aproximação política no mais alto escalão. Foi o próprio presidente da França [na época, Nicolas Sarkozy], grande torcedor do PSG, que fez a intermediação entre um fundo de investimento que era dono do PSG na época, mas que não queria gastar dinheiro e quase caiu para a segunda divisão, com um xeque do Qatar, grande amigo dele", comentou.

Jamil falou sobre como os clubes europeus têm encarado toda essa movimentação. "Tem duas reações. A primeira, dos clubes pequenos da França que já não podiam concorrer com os médios e grandes do país, dizendo 'ótimo'. Isso vai representar mais dinheiro para o Campeonato Francês e eventualmente esse dinheiro vai chegar aos clubes. Eles não competem pelo título, mas para sobreviver na primeira divisão. No resto da Europa, há um certo temor de duas divisões: a dos ricos e a dos muito ricos. Uma situação na qual a maioria será só coadjuvante e campeonatos definidos por seis ou sete times, no máximo. Isso estou falando da Liga dos Campeões", observou.

Para Darmani, a concorrência entre PSG e os demais clubes do continente sofreu um grande desequilíbrio por conta dos interesses políticos e econômicos do Qatar. "Ninguém imaginava que essa parceria entre PSG e Qatar pudesse chegar a contratar os melhores jogadores da temporada 2017/18, Neymar e Mbappé. Com o Messi, chegamos a um nível que superou essa primeira ofensiva. Você junta essas duas estrelas com o melhor jogador do mundo. Tudo isso é possível porque é um país que compra, além de jogadores, uma diplomacia, uma defesa de suas relações internacionais. O salário do Messi é muito pequeno comparado a isso", enfatizou.

Se alguém acha que futebol e política não se misturam, Jamil mostrou como tudo está interligado. "Essa costura teve um papel político, mas também uma gestão muito inteligente da parte do Qatar, que disse: 'Claro, invisto no seu país, mas para isso precisa da Copa do Mundo em 2022. Para isso, preciso do voto dos europeus. Olha que coincidência: tem um francês que é presidente da Uefa. Por que não o chamar para um almoço?'. Daí houve o famoso almoço entre Sarkozy, o emir e [Michel] Platini [presidente da Uefa na época], que até hoje diz que não sabia que o emir estaria lá", ressaltou.

Darmani também falou desse jogo de interesses políticos e como essa relação ajudou a impulsionar o PSG. "O Sarkozy sempre foi um cara esperto para relações diplomáticas e entendeu rapidamente que, além de ser o time dele, pensou como um político e homem de negócios. Havia um monte de dinheiro que poderia ser injetado não só no clube, mas também na economia francesa com impostos altíssimos. O Campeonato Francês não tem um fair play financeiro tão forte, mas tem um órgão que controla. O PSG não perde dinheiro, até porque tem uma injeção infinita do Qatar, e nunca vai apresentar um balanço tão deficitário", completou.

Ouça o podcast Futebol sem Fronteiras e confira também o debate sobre a engenharia financeira do PSG para arcar com os custos de ter Messi e a crescente influência de Nasser Al-Khelaifi, CEO do PSG, nos bastidores do futebol europeu.

Não perca! Acompanhe os episódios do podcast Futebol sem Fronteiras todas as quintas-feiras às 15h no Canal UOL.

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