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Alexandre Mattos: Dirigente estatutário é dificultador em clubes brasileiros

Do UOL, em São Paulo

26/03/2021 12h00

O cargo de executivo de futebol ainda é recente no futebol brasileiro, sendo utilizado há mais tempo no futebol europeu, e Alexandre Mattos afirma que uma das dificuldades que um profissional encontra na função em clubes do Brasil é a pressão que muitas vezes ocorre por parte de dirigentes estatutários.

Em entrevista a Mauro Cezar Pereira no programa Dividida, do UOL Esporte, Mattos cita a diferença que encontrou no futebol europeu quando esteve na Inglaterra para a estreia de Gabriel Jesus no Manchester City como exemplo da tranquilidade e o planejamento para um executivo em clubes com proprietários, enquanto no Brasil os clubes sociais e a participação de dirigentes como conselheiros costuma interferir no andamento do trabalho.

"O dirigente estatutário, que a gente chama, eu acho que é o grande dificultador dos clubes brasileiros. A gente fica vendo a Europa, eu tenho uma passagem onde eu vendi o Gabriel Jesus e o primeiro jogo dele no Manchester City e eu vi do lado do diretor executivo do Manchester City, e ele lá calmamente, estava até tomando uma cerveja e vendo o jogo, eu falei, 'isso é impensável no Brasil, imagine o diretor executivo tomando uma cerveja e vendo o jogo'. Era o segundo ano do Guardiola, no primeiro ano do Guardiola não tinha ganho nada", conta.

"Eu falei 'Txiki [Begiristain], e aí, não tem pressão?'. Eles empataram o jogo com o Tottenham, 2 a 2, e ele falou 'não, aqui é o seguinte, nós temos um planejamento de 10 anos, então a gente está indo, subindo e subindo, porque tem um dono'. Aqui não, de dois a três anos, você pode ter uma mudança política e o resultado tem que acontecer a qualquer preço, porque, se não, vem pressão, vem cobrança, vem perda do poder?, completa.

Mattos explica que o fato de os clubes no Brasil não terem proprietários, além do histórico de participação de dirigentes estatutários muitas vezes provoca a pressão que custa a sequência de treinadores e dirigentes remunerados.

"A maior dificuldade é por aí, essa necessidade que precisa resolver alguma coisa, precisa dar alguma coisa positiva, porque essa pressão, ela faz derrubar treinador, ela faz derrubar diretor, ela faz derrubar metodologia de trabalho, ela faz derrubar normas e sistemas já vencedores dentro do clube, ela faz derrubar uma visão estratégica de contratações, de vendas, então a questão estatutária é você como diretor executivo se impor dentro de um limite que é permitido?, afirma o dirigente.

"A caneta é do presidente, mas saber mostrar o norte que você precisa seguir dentro daquilo que você organizou, você precisa fazer gestão para que dê certo no momento que você está lá, mas que o seu legado seja positivo também, para que surja pelo menos para o clube no futuro. Então essa é a maior dificuldade que você tem diariamente com a quantidade enorme de conselheiros ou de pessoas próximas ou de torcedores que têm acesso a quem tem a caneta e você precisa passar uma confiança de que o projeto está certo ou que o projeto precisa ter uma cara nova", conclui.

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