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Dividida

Mauro Cezar Pereira entrevista personagens de destaque do universo esportivo


Muricy Ramalho: "São Paulo não pode estar na situação em que está"

Do UOL, em São paulo

11/03/2021 15h37

Campeão pelo São Paulo como jogador e técnico, Muricy Ramalho deixou seu trabalho como comentarista na TV para voltar ao clube como coordenador de futebol após o pedido do novo presidente Julio Casares com a missão de recuperar o passado de conquistas que o torcedor espera há oito anos. Em entrevista a Mauro Cezar Pereira no programa Dividida, no UOL Esporte, o coordenador de futebol do São Paulo fala sobre o desafio assumido, os problemas encontrados, o que deu errado com Fernando Diniz, o processo seletivo por um técnico e o que esperar de Hernán Crespo.

Muricy afirma que sabia que teria condições difíceis no São Paulo quando foi chamado por Casares para o cargo de coordenador, mas não esperava que os problemas fossem tão grandes e que a condição deixada em gestões anteriores é inadmissível para um clube com a grandeza do tricolor paulista.

"O cenário realmente não era bom e nós sabíamos o que íamos encontrar, que o cenário não era bom, isso o Casares me falou também lá quando ele fez o convite, que a coisa realmente não estava boa, mas quando você vê de perto a coisa, quando eles mostram a planilha para você e o que foi feito, você se assusta porque um time desse tamanho não pode estar na situação que nós estamos, a gente pega um dinheiro ali e tem que pagar uma outra coisa ali na Fifa ou não sei aonde, sabe, isso um clube do tamanho do São Paulo, isso para mim não é admissível", afirma Muricy.

Apesar dos problemas financeiros, Muricy é otimista com o trabalho iniciado e tem gostado das primeiras impressões deixadas também pelo novo técnico, o argentino Hernán Crespo, que foi contratado após um processo seletivo no qual a direção são-paulina entrevistou ao todo dez treinadores, com candidatos argentinos, portugueses e uruguaios. Mesmo com a condição financeira ruim, o São Paulo contará com reforços para a temporada.

"Eu estou muito animado porque encouramos pessoas que estão pensando em prol do São Paulo. Claro que nós temos que fazer um equilíbrio da parte financeira, porque a gente não tem dinheiro para investir, mas ao mesmo tempo a gente tem que trazer reforços porque o treinador está pedindo, não é muito não, uns quatro reforços está bom, mas é sem dinheiro, é muito difícil", diz Muricy.

"Vamos ter muito cuidado agora, nós tivemos com o treinador e agora com os jogadores também, você vê que nós estamos demorando um pouco porque tem uma meta lá agora para atingir financeiramente, porque a gente não tem mais nada, então nós estamos sendo criativos, passando para a frente alguma coisa, contratamos o Rui, que é o executivo para ele conversar com os dirigentes quem vai contratar, saber negociar, então a situação não é fácil, não adianta eu vir aqui e falar 'estamos beleza, vamos contratar não sei o quê'. Não vamos", completa.

Muricy ressalta que o treinador chegou ao Morumbi ciente da situação do São Paulo para ter os reforços necessários, mas conta com a confiança para fazer com que o time são-paulino seja capaz de jogar o futebol esperado pelo torcedor em busca de títulos.

"Tudo isso o que eu estou falando para você, para o torcedor, eu abri para o Crespo também, e para todos os treinadores que eu falei, para quando chegar aqui não falar 'eu quero dez, quero isso, quero aquilo, quero o Pelé, o Rivellino', não tem condições. Eles já estão aqui sabendo o que eles iriam enfrentar também, então, agora, nós encontramos um treinador que está disposto, que é o Crespo, um cara que é do mercado, um cara que tem uma boa formação, que teve uma formação boa fora da Argentina, foi mais na Itália, foi um grande jogador, é jovem, é da nova geração, tudo o que se tem no futebol hoje ele tem", afirma Muricy.

"Isso foi o que nós perguntamos para ele na videoconferência e agora estou vendo de perto e estou mais feliz ainda do que eu estou vendo de perto o trabalho dele, um trabalho atual, um trabalho que o futebol exige hoje, de muita pegada, de muita intensidade, trouxe uma comissão técnica muito competente, que isso também é importante. Trouxe muito competentes professores, treinadores, então a gente está muito animado, muito animado e ele está com a mesma fome que nós estamos também", conclui.

Elenco desequilibrado foi obstáculo para Diniz

Muricy Ramalho acredita que o trabalho do técnico Fernando Diniz tenha tido problemas devido à perda da confiança com a eliminação na semifinal da Copa do Brasil para o Grêmio, mas também aponta outras questões que dificultaram o sucesso ao final da temporada e já trabalha para evitar que o argentino Hernán Crespo venha a ter a mesma dificuldade.

"Nós temos ainda, continuamos com o mesmo elenco, o mesmo plantel, mas a gente tem um plantel um pouco desequilibrado, a gente tem muita gente em uma posição, mas não tem em outra, então, por exemplo, na minha opinião, ele [Diniz] tinha um time que ele gosta de ter a posse de bola, é um time que gosta de ter o controle do jogo, mas quando ele passava da última parte do campo, ele não tinha velocidade. Mas por que ele não tinha velocidade? Porque ele não tinha jogador para isso", afirma o coordenador.

"Isso é uma coisa que dificultou demais ele, eu conversava muito com ele em relação a isso, mas o que mais me chamou a atenção foi isso, foi a parte da desclassificação contra o Grêmio e aí começa a desconfiança e você sabe que no futebol tudo é confiança, o cara bate e a bola entra, já depois não começou a entrar, e aí, é claro, vem o nervosismo de todo mundo e aí a coisa realmente desandou um pouco", conclui.

O Dividida vai ao ar às quintas-feiras, às 14h, sempre com transmissão em vídeo pela home do UOL e no canal do UOL Esporte no Youtube. Você também pode ouvir o Dividida no Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts e Amazon Music.