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Edu de Meneses: repórter da ESPN e o dia em que técnico do Palmeiras gritou olhando para ele

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Gabriel Vaquer

Colaboração para o UOL, em Aracaju (SE)

03/05/2020 04h00

Eduardo de Meneses se transformou em um dos principais repórteres da ESPN na atual fase da emissora esportiva. Ao mesmo tempo em que consegue informações quentes e cobre o dia a dia do Palmeiras, De Meneses tem conseguido fãs nas redes sociais pelo estilo bem humorado.

Algumas de suas histórias folclóricas sobre o que já viveu no mundo do futebol foram mostradas ao vivo e ele é o rei das entrevistas engraçadas. "Eu não sei o que acontece, eu não combino nada. Tenho uns amigos que me dizem isso, que eu atraio as coisas", conta ele, em conversa com o UOL Esporte.

Um dos episódios mais lembrados foi quando Edu teve que provar, sem gostar muito, um lanche típico do Chile, durante a cobertura da Copa América de 2015. "Eu estava ao vivo e passaram para fazer uma enquete sobre o Valdivia. Só que eu fui entrevistar uma senhora que estava bem brava e não queria falar comigo. Ai fui para outro senhor que não queria falar também. Ai eu pensei: 'bom, preciso fazer com que esse ao vivo fique legal'. Eu olhei para o lado e pensei comigo: 'É, já que ninguém quer falar comigo, vou aqui no lanche'. Aí eu fui. Quando vi que tinha uma montanha de carne, pensei: 'Acho que é pernil'. Era um lanche típico do local. Eu não sabia como era, mas comi. Confesso que não gostei muito".

Rômulo Mendonça, Bruno Vicari e Eduardo de Menezes, da ESPN - Reprodução - Reprodução
Rômulo Mendonça, Bruno Vicari e Eduardo de Menezes, da ESPN
Imagem: Reprodução

Como repórter, Edu já viajou bastante. A viagem profissional que mais marcou é uma que os torcedores do Palmeiras lembram bem: a do jogo entre Palmeiras e Peñarol, pela Libertadores de 2017, que terminou em uma coletiva conturbada do então técnico alviverde Eduardo Baptista. O repórter foi citado nela sem querer. "Eu fiquei achando que o Eduardo estava falando comigo, achei que tinha feito alguma coisa, porque ele fala aquilo tudo olhado para mim", brinca o jornalista.

Entre outros assuntos, Eduardo de Meneses também fala da relação com Ale Oliveira, com quem teve relação muito próxima na ESPN Brasil. "Sou padrinho de casamento do Ale", revela. Confira a entrevista completa:

Sou de uma geração que sempre te viu a ESPN, onde você já está lá há um bom tempo, como foi o começo de sua carreira?

A minha história é longa... Quando comecei a trabalhar com Comunicação eu tinha 18 anos. Hoje, com 38, estou completando 20 anos de carreira. Sou de São Paulo, mas fiz faculdade em Campinas, na PUC, e me formei lá. Eu tinha uns tios que moravam em Americana e eu morei um ano por lá, onde comecei como estagiário na TV Americana. Após isso, passei por rádios de Campinas. Participei de alguns projetos e voltei a trabalhar e morar em São Paulo. Só que ainda continuava estudando em Campinas. Passei como estagiário na rádio Bandeirantes e na Eldorado, depois entrei efetivamente na Rádio Globo. Costumo dizer que a ESPN é aquela moça bonita que eu sempre quis casar, mas a Rádio Globo é a mãe, pois foi lá que eu entrei como estagiário e sai como repórter e apresentador. Fiquei na Globo durante sete anos e meio. Saí e fui para a Record onde fiquei dois anos e meio. Já passei também pela rádio Transamérica, onde fazia paralelamente participações no Band Esporte.

Um belo dia recebi um telefonema de João Palomino me convidando, junto com o Conrado Giulietti, para ser integrante da ESPN, me tornando, assim, o primeiro profissional a ser contratado para atuar na rádio e na TV. A minha carreira é muito louca. Além de atuar no esporte, eu escrevia na Rolling Stone, fazendo resenha de livros, e na Placar, com matérias de futebol e comportamento. Passar por tudo isso foi bem legal pois mostra que a gente carrega um pouco, não só de conhecimento, mas muitas amizades nas quais vamos deixando ao longo do caminho.

Você fazia resenha de livro? Como era isso?

Eu trabalhei como freela na Rolling Stone. Eu sempre gostei muito de ler, sou pós-graduado em Jornalismo Literário. O que costumo dizer é que todos os dias pratico contar a história das pessoas, o que eu acho muito bacana. Por esse amor à leitura e por fuçar bastante, fiz alguns textos para a Trip. Um dos editores, que estava agora trabalhando na Rolling Stone, ligou falando que teria uma vaga na revista para ganhar um extra com resenha de livros. Eram livros de literatura de cordel e algumas outras histórias. Foi uma época bem bacana pois aprendi que o jornalismo esportivo não é só esporte, ele está inserido em uma sociedade em que a gente tem que contar histórias.

Eduardo de Manezes, repórter da ESPN, e Dudu, do Palmeiras - Divulgação - Divulgação
Eduardo de Manezes, repórter da ESPN, e Dudu, do Palmeiras
Imagem: Divulgação

Tem uma coisa que acho curiosa. Dizem que você é o rei das entrevistas malucas. Fala um pouco sobre elas: você busca esses momentos inusitados?

Eu costumo dizer que tem muitos amigos que me falam isso: "Edu, você atrai as coisas". Mas eu acho que é uma coisa muito minha. Pode parecer um pouco piegas, mas eu coloquei como filosofia de vida que a gente tem que agradecer a todo mundo e por toda oportunidade de poder fazer uma coisa e ter um dia de vida. Mas, no meu caso, eu sempre acho bacana que estão me dando uma oportunidade de fazer o que eu gosto e me divertir.

Eu não combino nada, as coisas vão acontecendo. Por exemplo, a entrevista no Chile: eu estava ao vivo e passaram para fazer uma enquete sobre o Valdivia. Só que eu fui entrevistar uma senhora que estava bem brava e não queria falar comigo. Ai fui para outro senhor que não queria falar também. Ai eu pensei: bom, preciso fazer com que esse ao vivo fique legal. Eu olhei para o lado e pensei comigo: "É, já que ninguém quer falar comigo, vou aqui no lanche". Aí eu fui. Quando vi que tinha uma montanha de carne, pensei que era pernil. Era um lanche típico do local. Eu não sabia como era, mas comi. Confesso que não gostei muito. Só que o pessoal no estúdio, como eles sabem que eu gosto de fazer essas coisas mais malucas, ficam pilhando (risos).

No ao vivo do gago, o mais legal de tudo foi como ele conseguiu dominar a situação. Eu cheguei nele sem combinar e ele avisou: "Antes de mais nada, eu sou meio gago". Já achei a situação engraçada. Só tomo cuidado porque fazemos uma entrevista descontraída, mas com cuidado para que não passe dos limites e fique a impressão de que você esta debochando da pessoa. Ali, acho que ficou legal pois ele adorou tanto a entrevista que viralizou a ponto dele ter um Instagram dele chamado "meio gago" (risos). Quando é ao vivo, na rua, eu não combino nada. Só saio fazendo. Eu costumo dizer que esse é o jornalismo freestyle com aquela ousadia calculada, que você vai com responsabilidade.

Mas você também tem um jeito assim também com os jogadores, não é?

Nas entrevistas que faço no quadro "Além da Bola", o mais bacana é que os jogadores já vão sabendo que é um papo diferente, mais descontraído, e os que eu não conheço de outros clubes acabam ficando amigos e tendo uma boa relação. Essas entrevistas quebram um pouco de barreiras. O objetivo maior do programa é deixar os jogadores se divertirem.

Qual a linha tênue que você tem para não ultrapassar a amizade do profissional?

Eu respeito muito quem acredita que o distanciamento total é importante. Mas eu acho que quando você tem uma relação muito próxima, cria uma relação de respeito profissional a ponto de uma crítica que fizer não irrite o atleta. A tua crítica, o cara vai entender que é ao trabalho dele e não à pessoa. Você pode ter essa relação próxima, mas com esse distanciamento na análise. E analisar corretamente quando ele está jogando bem ou quando está jogando mal.

Tem algum jogador que você pode falar que é mais próximo, que tem uma relação de grande amizade?

Eu tenho proximidade com todo o elenco do Palmeiras. Mas a historia mais bacana que posso contar é que eu tenho a felicidade de participar de um grupo de WhatsApp com ex-jogadores. Caras que, uns 80%, eu cobri e eles me respeitam. Amoroso, Luizão, Djalminha, Paulo Nunes, César Sampaio.... O Amoroso é um caso desses. Eu cobria e ficamos próximos. Quando ele encerrou a carreira, acabamos nos encontrando em atividades na TV e ficamos amigos.

Você sempre teve uma relação próxima do Alê Oliveira, com quem fez alguns programas juntos na ESPN. Como é essa relação até hoje?

Tivemos vários programas juntos. A minha relação com Alê Oliveira é de muito respeito também. Quando eu entro na TV em 2011, coincide com o período que o Alê começa a sua ascensão, a participar dos programas, como comentarista de futsal. Na realidade, quando eu entro na TV, eu já conhecia o Falcão, que jogou futsal com o Alê, então foi uma empatia que já aconteceu, pois temos uma linguagem parecida. Em 2011, entrei com alguns projetos com o Alê, entre eles o "Jogando por Música", que é um programa de rádio, ainda na época da Rádio ESPN, em que levávamos profissionais dos esporte e alguém da música e da arte. Além disso. fizemos o "Fala Sério?", "O Dia de Craque", e muitos debates juntos. A nossa relação se fez pessoal, tanto que hoje sou padrinho de casamento dele. É uma amizade que eu criei dentro da minha carreira.

Muita gente não gosta dese estilo mais brincalhão, mais piadista no jornalismo esportivo. Como você entende isso?

Entendo muito bem. E acho importante que algumas pessoas não gostem. A letra E na ESPN é de entretenimento. E eu agradeço muito a eles por me darem a oportunidade de criar dentro da TV. Um programa nunca é composto apenas por um apresentador e um comentarista, sempre tem uma diversidade de opiniões e de análises e conhecimentos. Eu acho isso muito saudável para a empresa e para quem está assistindo. Acho que cada um tem seu espaço. Tem espaço pro jornalismo investigativo, tem espaço pro jornalismo mais sério combativo, tem espaço para o analítico, e tem espaço para quem quer transmitir a notícia com leveza e entretenimento.

Qual a viagem mais maluca que você já fez para uma cobertura?

Olha, tem uma viagem que ficou marcada que foi a do Uruguai. As pessoas falam até hoje. Virou até um meme, que é o "Fala a Fonte, Edu!", o "Vem abrir minha coletiva", que é a do Eduardo Baptista. No Uruguai, o Palmeiras enfrentou o Peñarol e eu fui escalado para essa cobertura. Esse jogo foi meio maluco porque teve uma batalha campal, os caras se pegaram no campo. Aí eu desço pro vestiário para fazer a cobertura pós-jogo e eu estou no corredor, perto da porta do vestiário do Palmeiras, por que ali seria a entrevista. Mas eles descem e vem brigando. Ligo pra TV e peço pra entrar ao vivo. Ficamos ali no meio de uma guerra, eu e o cinegrafista. Depois de tudo isso que aconteceu, teve a entrevista com o Eduardo Baptista. Ele se senta para a entrevista extremamente nervoso. Eu estava lá com mais dois repórteres brasileiros. Aí ele começa a se exaltar aos poucos. Então, dá um murro na mesa e grita com todo mundo do nada. Depois disso, ele olha pra mim e dá um murro na mesa, me chamando, e eu fiquei achando que tinha feito alguma coisa, porque ele não parava de olhar para mim (risos).

Do nada, ele vai e pergunta se eu quero abrir a coletiva dele. Eu fiquei a noite toda sem entender o que foi que eu tinha feito para aquele grito (risos). Meu celular começou a bombardear, como se eu tivesse feito algo. No dia seguinte, me encontro com ele no hotel e ele me pede desculpa. "Você não fez nada, mas eu precisava mandar um recado para os jornalistas brasileiros. Como o único que eu sabia o nome era você, ai eu fui e gritei" (risos). O Eduardo Batista é uma pessoa muito boa. Foi lá, pediu desculpas. Depois do jeito que ele gritou, eu achei que tinha acontecido algo mesmo, mas ficou tudo resolvido.

Teve algum jogador que você pensava ser gente boa, mas no final não era bem assim, era bem mala?

Não. Graças a Deus eu tenho uma sorte de poder ter uma técnica para entrevistar as pessoas. Eu não gosto de começar entrevistas com todos em silêncio. Acho que precisa quebrar o gelo. Um exemplo é o Vinícius Júnior. Fui entrevistar e não me conhecia. Aí, normalmente, fico maquinando pessoas mais próximas para que eu consiga quebrar o gelo para que o entrevistado chegue desarmado, por exemplo.

Tem alguém que você ainda não entrevistou que quer ainda?

Vários. Ainda não entrevistei, mas quero muito entrevistar o pessoal do Bola de Prata, que são jogadores renomados. Tenho muita vontade de entrevistar o Pelé no "Além da Bola". Entrevistar fora daquele âmbito do futebol. Entrevistei poucas vezes.

Como você se define como jornalista?

Acho que não é só como jornalista ou como pessoa, mas entendo que agora estamos vivendo um momento em que estamos todos em casa e precisamos olhar para o nosso interior. Esses dias, recebi uma ligação de um motorista da ESPN e ele me disse que está se cuidando, mas me agradeceu pelo meu trabalho e que o meu entretenimento tem feito ele passar por essa fase de uma maneira mais tranquila. Eu fiquei muito emocionado com esse depoimento. É o maior prêmio que a gente pode ter.