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SP ganha moral na Indy, mas escassez de pilotos brasileiros preocupa

Vista geral do circuito do Anhembi durante os preparativos para a São Paulo Indy 300 - Gustavo Epifanio/Fotoarena/Divulgação
Vista geral do circuito do Anhembi durante os preparativos para a São Paulo Indy 300 Imagem: Gustavo Epifanio/Fotoarena/Divulgação

Rafael krieger

Do UOL, em São Paulo

04/05/2013 08h59

A São Paulo Indy 300 chega à sua quarta edição neste final de semana com o status de segunda corrida mais importante do calendário, nas palavras do vice-presidente da categoria, Greg Gruning. O circuito do Anhembi foi apontado por todos os pilotos como um exemplo para as outras pistas de rua do campeonato. Mas o prestígio da etapa se opõe à fase preocupante do automobilismo no país. Desde 2010, o número de brasileiros no grid caiu pela metade.

Além de Bia Figueiredo, que tem contrato temporário, o Brasil será representado pelos veteranos Helio Castroneves, de 37 anos, e Tony Kanaan, de 38. Nenhum deles pensa em se aposentar, mas as perspectivas de renovação eram mais animadoras quando a Indy pousou em São Paulo pela primeira vez, há três anos.

O então novato Raphael Matos se destacou com o quarto lugar na corrida de estreia da Indy no Brasil, e o grid também contava com os jovens Mario Moraes e Mario Romancini, ambos na faixa dos 22 anos. Nenhum deles, no entanto, conseguiu superar a falta de incentivo.

Agora, a nova geração depende de cinco brasileiros das categorias de acesso. Na Indy Lights, a mais imediata, Victor Carbone não chega a disputar todas as provas. Dois degraus abaixo, Danilo Estrela, Felipe Donato e Arthur Oliveira tentam a sorte na USF2000. Ainda na transição do kart para os monopostos, uma das esperanças brasileiras é Roberto Lorena, de 17 anos, que espera poder acelerar no Anhembi lá por 2016, se os seus planos derem certo.

Roberto corre na Fórmula 2000, e ainda está a três passos da categoria principal. Depois de concluir que teria mais chances no automobilismo norte-americano do que no europeu, ele se tornou um dos poucos aventureiros a tentar cavar seu espaço na Fórmula Indy. Para correr ao lado dos melhores, ele terá que ser vitorioso não só dentro das pistas, mas também fora, na conquista de verba nos bastidores.

Pensando nisso, ele virou uma espécie de “faz-tudo” da equipe Rahal Letterman, que o contratou para um serviço voluntário de consultoria. Roberto se ofereceu para cuidar das necessidades da escuderia durante a estadia no Brasil, de olho em uma oportunidade futura. Um trabalho que não tem nada a ver com o automobilismo, mas que pode ser uma saída para driblar a crise.

“O interesse diminuiu. Muitas categorias estão perdendo patrocinadores para a Copa e as Olimpíadas, que centralizarão a maior parte da mídia. Quando o Ayrton Senna ganhava corridas, muitas pessoas queriam se tornar pilotos. O que ele fez foi incrível, abriu espaço para novos pilotos. Hoje, está difícil, não tem nenhum brasileiro fazendo coisas tão significativas a ponto de atrair interesse. Acaba dificultando para a gente. Se você não for guerreiro e comprometido, não vai conseguir. Tem que fazer um trabalho muito correto desde o começo para conseguir um retorno lá na frente”, desabafou.

Enquanto Roberto faz de tudo para conseguir uma oportunidade, até mesmo o consagrado Tony Kanaan disse temer que as dificuldades abreviem a sua carreira: “Tenho muito etanol para queimar ainda, mas como no automobilismo tem essa luta constante por patrocínio, é capaz de me aposentarem antes de eu querer. Espero que isso não aconteça”.

Helio Castroneves ainda não pensa nesse tipo de problema, até por estar consolidado na Penske, uma das equipes de ponta da Indy. Mas, em entrevista ao Tazio, o tricampeão das 500 Milhas admitiu estar preocupado com a renovação de sua geração: “Você sempre procura ter certos degraus para chegar a um campeonato como a Indy, que não tem categorias de base ruins. O problema maior é que, quando chega na Lights, tem só nove carros, e isso desestimula. Isso se junta à atual dificuldade econômica, e realmente deixa escassa a safra de pilotos”.

Ao meio-dia de domingo, Castroneves será a maior esperança do Brasil para conquistar uma vitória inédita no Anhembi e, quem sabe, contribuir para a valorização do automobilismo nacional. Quando à organização da corrida, ele foi só elogios. “O Anhembi é um exemplo de circuito de rua para os Estados Unidos, e espero que um dia eles possam analisar a nossa pista com mais carinho para usar isso lá", comentou o piloto da Penske, que buscará a pole no treino das 14h50 deste sábado.

No mesmo tom, Greg Gruning, representante mais alto da direção da Indy presente no Brasil, lembrou que a etapa de São Paulo só perde para Indianápolis em audiência: "Adoro o circuito por muitas razões. Tem a maior reta de todo o calendário, e todo ano que venho para cá, gosto muito do produto que recebemos e de como somos tratados. Não dá para ser melhor", elogiou o dirigente. Mas, para a nova geração de pilotos brasileiros, o legado de tudo isso ainda deixa a desejar.