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Tuka diz confiar em mudanças na Stock: "Ninguém é louco de deixar como está"

Carro de Tuka Rocha pega fogo: alerta sobre rapidez das chamas já havia sido feito -  Marcos Velloso/Photocamera
Carro de Tuka Rocha pega fogo: alerta sobre rapidez das chamas já havia sido feito Imagem: Marcos Velloso/Photocamera

Rafael Krieger

Em São Paulo

07/07/2011 07h00

Depois de conseguir escapar ileso das chamas que invadiram o seu cockpit durante a corrida do último fim de semana da Stock Car, o piloto Tuka Rocha disse estar certo de que a categoria terá carros mais seguros já na próxima etapa.

TUKA EXPLICA COMO TUDO ACONTECEU

Tive um vazamento de óleo, que começou a acontecer já na metade da segunda volta. Três curvas antes, o carro começou a sair muito de traseira, e vi que alguma coisa estava acontecendo. [A equipe afirmou que o piloto teve um pneu furado]. Mas não tinha noção de que estava pegando fogo. Só vi na entrada da ultima curva, pelo espelho retrovisor.

Foi em questão de segundos. Na hora que começou a pegar, o fogo estava incontrolável. Foi o tempo de virar para olhar no retrovisor, e o fogo já estava pegando muito forte, explodindo, me queimando. Nessa hora, eu tive que ter muita calma, porque ali não tinha chance de errar. Tive que pensar em fazer tudo.

Só deu tempo de encostar o carro do lado e tirar o volante. Andei um bom trecho sem o volante engatado. Tive que desconectar várias coisas, é muito difícil sair de um Stock Car. Precisei bater na porta para quebrar a trava. Tentei me pendurar, não queria me jogar na pista em alta velocidade. Mas estava começando a perder a consciência por causa do fogo e da fumaça, e tive que me jogar mesmo.

Quase desmaiei, mas estive sempre consciente. Graças a Deus que a porta não caiu em cima de mim. Ali eu tinha certeza que ia quebrar alguma coisa na queda, mas acabou não acontecendo nada comigo. Nessa hora eu levantei com uma felicidade tão grande, porque foi muito assustador, terrível. Nunca quero mais passar por algo parecido por isso.

Tinha certeza de que ia morrer, era muito fogo, muita fumaça, derreteu meu capacete. Mas fiquei muito calmo e consegui fazer tudo certo. Saí daquele filme de terror, era uma cena do inferno, e comemorei como se tivesse vencido uma corrida. Andei mais dois metros e não conseguia segurar minha perna, cai no chão.

“Ninguém é louco de deixar o carro como está. Confio muito na JL [fabricante dos carros da Stock] e sei que eles vão arrumar, alguma coisa vai ser feita. Por pouco não morri, então acho que as coisas vão ser feitas”, declarou Tuka, confiante em voltar para a Corrida do Milhão, marcada para o dia 7 de agosto.

A rapidez com que o fogo e a fumaça tomaram conta do carro surpreendeu o piloto, que viu seu capacete e a parede corta-fogo do cockpit derreterem. E não é a primeira vez que isso acontece na Stock Car. Nos treinos livres de 2009, Cacá Bueno também teve seu carro tomado pelas chamas e conseguiu escapar depois de quase desmaiar pela falta de ar.

Não por acaso, Cacá fez um desabafo no rádio da equipe ao saber do incidente com Tuka: “Falei umas 80 vezes disso nas reuniões”. Mais tarde, o piloto esclareceu que o número foi exagerado, afinal, ele estava tenso e nem sabia que sua fala ia ao ar na transmissão. Mesmo assim, não faltaram avisos.

“A primeira vez que eu falei disso foi em 2009, quando eu peguei fogo. Mas senti que as pessoas trataram como se fosse um exagero. Alertei para o excesso de fumaça preta e da dificuldade de sair do carro por causa disso. Conversei com a organização e com a JL sobre a questão que me preocupava mais: o policarbonato que fica atrás da cabeça do piloto, que derreteu e permitiu que a fumaça e o fogo entrassem no cockpit”, explicou Cacá.

O tricampeão lembrou ainda que o assunto foi retomado neste ano, depois do acidente fatal de Gustavo Sondermann em Interlagos: “Fizemos uma reunião, e estava na lista essa parede corta-fogo que a gente não considera 100% eficaz, além da velocidade com que a chama e a fumaça se propagam”. Depois disso, a única medida tomada pela JL foi usar uma tinta resistente ao fogo, que não se mostrou eficaz durante o acidente de Tuka.

APÓS PESADELO, TUKA QUER SER CAMPEÃO

Mesmo se as melhorias acontecerem até a Corrida do Milhão, Tuka reconheceu que será difícil esquecer a “cena do inferno” da etapa de Jacarepaguá: “Não pensar nisso vai ser difícil, mas acredito muito na categoria e no que a fabricante do carro vai fazer. O carro é feito para ser seguro, mas infelizmente tinha muitos produtos que não poderiam estar ali, mas que vão ser retirados”.

CACÁ ESCAPOU EM 2009


É muito complicado o piloto conseguir se soltar de todo o equipamento sem conseguir ver nada ou respirar por causa da fumaça. Incêndios acontecem e não é raro em carros de corrida. O que não pode acontecer é que haja tanta fumaça preta

Cacá Bueno, tricampeão da Stock Car

“Já estavam para fazer isso. Tem uma reunião marcada com todos os pilotos e equipes para a semana que vem, e essas mudanças vão acontecer com certeza. Tudo isso vai servir de motivação para melhorar o carro e continuar, afinal, quero ser campeão da Stock Car. Não tive a oportunidade de realizar o sonho de ir para a Fórmula 1, mas agora quero aproveitar essa oportunidade”, concluiu Tuka.

CACÁ DUVIDA DE MELHORIAS A CURTO PRAZO

O otimismo de Tuka não é compartilhado por Cacá: “Não acho que essas melhorias serão feitas rapidamente, sinceramente, porque já aconteceu comigo e acharam exagero. Agora que foi mais grave e todo mundo viu, acho que vão se mexer, mas não acredito em uma solução a curto prazo. Há uma serie de mudanças a serem feitas, que levam algum tempo para terem 100% de eficácia”.

Cacá já viu seu carro pegar fogo outras duas vezes: uma pela Stock Car em 2004, e outra pelo WTCC. Segundo ele, nada que pudesse ser comparado ao susto que levou em 2009. Afinal, todo carro de corrida está sujeito a pegar fogo. O problema é a quantidade de fumaça e chamas dentro do cockpit, como foi visto nos últimos incidentes envolvendo Cacá e Tuka Rocha.