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01/02/2010 - 06h11

Polêmica no críquete volta a confrontar Índia e Paquistão

Diego A. Agúndez.

Nova Délhi, 1 fev (EFE).- Manifestações, protestos da classe artística e suspensão de visitas diplomáticas dão forma a última polêmica entre Índia e Paquistão, surgida por um aparente boicote da Liga Indiana de Críquete (IFP) a jogadores paquistaneses.

O críquete, indiscutivelmente o principal esporte do sul da Ásia, costumava servir para reduzir tensões entre os dois países, que possuem arma nuclear e se enfrentaram em vários conflitos desde sua independência do Império Britânico, em 1947.

A "diplomacia do críquete", porém, ficou abalada na semana passada durante o leilão de jogadores para a popular IFP, quando nenhum paquistanês foi selecionado por clubes indianos.

"Em qualquer sociedade civil deveria haver um diálogo, e jogar críquete como parte do diálogo com o Paquistão é importante", disse à agência de notícias indiana "Ians" o ex-secretário de Assuntos Exteriores paquistanês Shyam Saran, em visita à Índia.

O presidente da IFP, Lalit Modi, se apressou em negar qualquer "conspiração" e, mais tarde, a organização deixou entrever que os clubes não selecionaram paquistaneses porque temiam não poder contar com os jogadores por eventuais conflitos políticos entre os países.

As explicações, porém, não pareceram convencer as dezenas de paquistaneses que protestaram nas ruas de Lahore (leste) e queimaram bonecos com a figura do presidente da IFP, considerado o principal responsável pelo ocorrido.

E, longe de contribuir como até agora na distensão das relações bilaterais, o boicote cruzou as fronteiras esportivas e levou a uma nova rixa entre os Governos do Paquistão - irritado com a "falta de respeito" - e da Índia.

"A Índia ou qualquer outro país que não respeite o Paquistão será tratado por nós da mesma maneira", disse imediatamente o ministro do Interior, Rehman Malik, a vários canais de TV após conhecer o resultado do leilão da liga.

"Se existe um desejo para melhorar a amizade entre Índia e Paquistão, é preciso respeitar os desportistas paquistaneses", acrescentou.

Pela Índia, falou o chanceler S.M. Krishna, que afirmou que o país concedeu visto a 17 jogadores paquistaneses e destacou que o Governo não tem "nada a ver com a IFP nem com a seleção dos jogadores".

"Não sei por que as equipes da IFP agiram assim. Os amantes do críquete estão zangados. Isso poderia ter sido evitado", afirmou ao canal "Timesnow" o ministro do Interior indiano, P. Chidambaram.

A nova controvérsia do críquete dificultou as perspectivas de um diálogo bilateral, já muito fragilizado após o ataque terrorista de Mumbai (antiga Bombaim) em novembro de 2008, atribuído pela Índia a grupos insurgentes que operam a partir do Paquistão.

Após o leilão do críquete, o Paquistão cancelou a visita prevista à Índia de uma delegação parlamentar porque, segundo disse a presidente do Parlamento paquistanês, Fahmida Mirza, os jogadores foram vítimas de uma "conspiração planejada".

E a possível última - e curiosa - vítima colateral da polêmica foi a feira do livro de Nova Délhi, que começou no sábado na capital indiana, mas sem a presença da Fundação Nacional do Livro do Paquistão.

Sobre o boicote do críquete se pronunciaram escritores e ativistas destacados, como o paquistanês Asma Jahangir, e, como não poderia ser diferente, os atores de Bollywood, grande centro das atenções na Índia.

Se mostraram a favor do boicote Shilpa Shetty e Preity Zinta, atrizes que possuem duas equipes na liga, mas criticou o popular ator Shah Rukh Khan.

Uma vez, em pleno auge da diplomacia do críquete, o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, afirmou perante o Parlamento que nada aproximava tanto o povo do país como o "amor pelo críquete e por Bollywood".

Mas Nova Délhi e Islamabad se viram obrigados nos últimos dias a diminuir o tom para não romper o canal de diálogo dos campos e deixar que as coisas, como disse o próprio Governo do Paquistão, "voltem a estar bem com o tempo".

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