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04/11/2009 - 07h02

"Chego a ganhar 10 vezes mais do que como médico", diz profissional de pôquer

Guga Fakri
Em São Paulo
Formado em medicina pela UFRJ, o carioca Leo Bello, de 33 anos, decidiu abandonar seu emprego como médico e se dedicar integralmente à carreira de jogador profissional de pôquer. Um dos pioneiros da modalidade no Brasil, Bello já joga profissionalmente há algum tempo, mas só decidiu parar de trabalhar com medicina após seis anos ganhando dinheiro com pôquer.

  • Divulgação

    Leo Bello largou seu emprego como médico para se dedicar integralmente ao pôquer profissional

Assim como a maioria dos jogadores profissionais, ele precisou tomar a decisão de largar seu emprego formal para seguir uma carreira ainda pouco conhecida pelos brasileiros. "Mesmo depois que comecei a ganhar dinheiro jogando pôquer, a medicina continuou sendo meu ganha pão. Foram cerca de seis anos até eu decidir largar meu emprego como médico, em março deste ano. Mas nunca quis largar a medicina, e continuo trabalhando com crianças com HIV, porém não tenho mais um emprego como médico", disse Leo Bello em entrevista ao UOL Esporte.

Os resultados de Leo Bello explicam porque ele decidiu largar uma profissão de prestígio no Brasil para se dedicar integralmente ao pôquer. "Hoje sou patrocinado pelo site Bestpoker, e eles me pagam salário de atleta para representar sua marca em torneios nacionais e internacionais, como o WSOP, por exemplo [Campeonato Mundial de Pôquer]. Também sou patrocinado pela Copag [fabricante de baralhos]. Atualmente, em um mês fraco, ganho cerca de quatro vezes mais do que ganhava como médico. Num mês bom, chega a quase 10 vezes mais."

A renda de Leo Bello não vem só de sua atuação como jogador e de seus contratos de patrocínio. Ele já deu aula particular de pôquer, é sócio de uma empresa que organiza torneios, e é autor de dois livros sobre o tema: Aprendendo a Jogar Poker, da editora Nova Fronteira, que vendeu mais de 25 mil cópias, e Dominando a Arte do Poker, recém-lançado pela editora Ediouro. Para conhecer mais sobre a vida de um jogador profissional de pôquer, confira toda a entrevista concedida por Leo Bello ao UOL Esporte.

UOL Esporte - Como começou a jogar pôquer?
Leo Bello - Foi por acaso. Estava na Alemanha, estudando e trabalhando como médico. Conhecia pouca gente e não falava a língua deles, então ficava em casa quando tinha algum tempo livre. Um dia, assistindo à TV, vi uma propaganda de um site de pôquer que dava 10 dólares de bônus para iniciantes. Aproveitei a promoção e comecei a jogar. Gostei da coisa e fui pesquisar e estudar pela internet. Transformei aqueles 10 dólares em 400, achei isso o máximo e comecei a me envolver cada vez mais.

Como percebeu que poderia viver de pôquer?
Quando voltei para o Brasil, o dinheiro que ganhava com pôquer já ajudava no orçamento, e somava com o que eu ganhava como médico. Porém, ainda jogava só pela internet, porque estava morando em Campinas, e também não conhecia muita gente por lá. Aí, pelo Orkut, descobri que o Leandro "Brasa" [hoje também profissional] ia organizar um torneio na casa dele, e achei que era uma boa oportunidade pra fazer amigos na minha nova cidade. Fui ao torneio, fiquei em quinto lugar e o Leandro foi campeão. Ali, fizemos uma amizade e resolvemos organizar um novo torneio depois daquele. No primeiro, umas 25 pessoas participaram. Três ou quatro torneios depois, já eram mais de 100. Nascia o Circuito Paulista de Hold'em e a nossa sociedade [atualmente, Leandro e Leo são sócios em uma empresa que organiza torneios].

Você sofreu com preconceito?
Por incrível que pareça, nunca tive problema com isso. O problema era maior comigo mesmo. Eu era um médico concursado, sempre fui caxias, fazia tudo certinho, gosto de esportes, então precisei me convencer de que o pôquer é uma atividade lícita e saudável. E isso aconteceu bem rápido. Aí, foi mais fácil de fazer o pessoal lá de casa entender. O que mais me atraiu não foi o dinheiro, mas a competição. Eu percebi que poderia vencer os outros usando a inteligência, e isso me interessou.

Pôquer pode se tornar perigoso?
É fato que existem aquelas histórias de pessoas que perderam muito dinheiro jogando pôquer. Mas as pesquisas indicam que as pessoas viciadas em pôquer representam apenas 3% dos praticantes da modalidade. Acredito que uma pessoa compulsiva faz qualquer coisa em excesso. Tem empresário que chega no escritório as 8 da manhã, sai de madrugada e não cuida da saúde, da família, do casamento. É a mesma coisa. O importante é ter equilíbrio em todas as atividades que a gente faz.

Como é a rotina de um jogador profissional de pôquer?
Para ser um jogador de alto nível, é preciso estudar e praticar, como qualquer outro profissional. Li mais de 60 livros, frequentei fóruns na internet e aprendi muito com outros jogadores. Porém, atualmente não me considero o melhor exemplo, porque minha atividade no pôquer se diversificou demais. Além de jogar profissionalmente, sou sócio em uma empresa que organiza torneios, tenho os livros, tenho meu site [www.leobello.com.br], então já não me concentro somente em jogar. Sempre tive espírito empreendedor, mesmo quando atuava como médico, sempre quis um dia montar meu consultório. E acho que transferi isso para o pôquer também.

Pôquer é esporte?
Dizer que o pôquer é esporte é uma maneira inteligente de alertar as pessoas de que o pôquer é lícito e saudável. Não quero entrar na definição semântica do que é esporte, mas vejo grandes semelhanças com outras atividades esportivas. Quando pratiquei judô, futebol ou tênis, fazia as mesmas coisas: tinha de estudar, praticar e me preparar física e mentalmente. Faço a mesma coisa no pôquer. Tenho de me alimentar bem, dormir bem, estar bem fisicamente e mentalmente. Se estou cansado, ou com sono, não jogo bem. Para mim, pôquer é um esporte mental, como xadrez e gamão. Por que são sempre os mesmos jogadores que estão chegando nas premiações dos torneios? Eles são mais sortudos? Não é sorte não, é preparação e foco.

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