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29/06/2007 - 08h22

Engenhão passa de 'elefante branco' a salvação no Rio

FI/Arquivo

Anderson Gomes, especial para o Pelé.Net

RIO DE JANEIRO - Em abril, os cartolas de Botafogo, Flamengo e Fluminense anunciaram que não tinham interesse em concorrer na licitação do estádio olímpico João Havelange, mais conhecido como Engenhão, construído para os Jogos Pan-Americanos deste ano. No entanto, pouco mais de dois meses depois e com as obras encerradas, o discurso é outro.

Com exceção ao Vasco, que possui São Januário, as outras agremiações avisaram que vão entrar na disputa pelo direito de explorar o local que vai abrigar as competições de futebol e atletismo durante os Jogos Pan-Americanos. O edital de licitação foi divulgado nesta sexta-feira.

O estádio, que chegou a ser chamado de 'elefante branco', ganhou novos adjetivos no Rio de Janeiro. "O Engenhão é maravilhoso. Ele é simples, funcional, bonito, a exemplo daqueles [estádios] que vi na Europa", qualificou o presidente do Flamengo, Márcio Braga.

O Engenhão é um estádio muito grande. Não vejo em nenhum clube do Rio capacidade de administrar um estádio daquele
Márcio Braga,
presidente do Flamengo, em abril

Antes, o cartola dizia aos quatro cantos que "o Engenhão era um estádio muito grande e difícil de ser administrado" e que "não via em nenhum clube do Rio capacidade para administrar um estádio daquele".

O clube da Gávea, aliás, foi o último a entrar na disputa pela arena multiuso. Há poucos dias, o dirigente visitou o local acompanhado do secretário municipal de obras, Eider Dantas, e apontou esse encontro como um dos principais motivos a fazê-lo mudar de idéia.

"A conversa que nós tivemos com os técnicos da prefeitura foi muito proveitosa. Eu sou um tabelião, não sou especialista nisso", explicou, acrescentando o período em que esteve no exterior para conhecer outras arenas.

"Essa minha ida à Europa foi muito boa porque me abriu um pouco mais os olhos. No seminário lá de Lisboa estiveram os engenheiros e arquitetos do Engenhão e tivemos uma conversa interessante", continuou.

Mesmo com a intenção de comandar a arena, o projeto de revitalização da Gávea não foi descartado pelo mandatário rubro-negro.

"Não abrimos mão da Gávea. Faremos o centro de excelência, com capacidade no estádio para 30 mil pessoas, o parque aquático e ginásios. Recebemos o terreno em 1932 e terminaremos o que planejamos", decretou.

Deus me livre, se você é meu amigo oferece para o Botafogo, Vasco ou Flamengo
Roberto Horcades,
presidente do Fluminense, em abril

No Botafogo, o presidente Bebeto de Freitas rechaçou ter negado a vontade de concorrer à licitação de concessão do estádio. Ele ressaltou que o clube só estava esperando uma definição do prefeito César Maia.

"Nunca disse que não tinha interesse no Engenhão. Sempre disse que era questão da prefeitura. No momento em que a prefeitura decidiu fazer a licitação, o Botafogo se mostrou interessado", admitiu o cartola.

Entretanto, o dirigente se recusou a falar sobre o tema em abril: "O Botafogo não tem posição sobre isso. Não falo sobre esse assunto".

Desde o início da construção do estádio, em 2003, o time alvinegro foi o que mais teve seu nome ligado a uma possível cessão. Tanto é que o mandatário chegou a viajar para o exterior com o prefeito carioca para apresentar os possíveis parceiros do clube.

"Estamos trabalhando nesse estádio há dois anos. Em junho de 2005, levamos o prefeito César Maia aos Estados Unidos para conhecer a empresa que vai entrar conosco nessa licitação", lembrou Bebeto de Freitas.

O presidente do Fluminense, Roberto Horcades, ao contrário dos outros mandatários, admitiu que adotou o primeiro discurso para tentar "despistar" os possíveis rivais na disputa.

"Não mudou nada de lá para cá. O que acontece é que hoje esporte é business, cada um tem uma tática. Essa foi a que eu utilizei", explicou.

Ainda assim, Horcades levantou um fato novo. Ele indicou que, em abril, as condições para que um clube pudesse explorar o Engenhão eram outras.

"Na época em que eu falei que não tinha interesse, foi oferecido um contrato de administração em que o Fluminense teria que pagar R$ 15 milhões ao ano, e isso não interessava a ninguém", relatou o presidente.

O Botafogo não tem posição sobre isso [Engenhão]. Não falo sobre esse assunto
Bebeto de Freitas,
presidente do Botafogo, em abril

"Quando o prefeito percebeu que a esse preço não poderia passar esse estádio a ninguém, houve algumas reuniões e ficou definida a licitação", prosseguiu. Questionado sobre o assunto, César Maia descartou ter proposto esse tipo de acerto, mas não desmentiu.

"Da minha parte não houve proposta. Não sei se algum órgão a fez", admitiu. A recente conquista da Copa do Brasil também potencializou o interesse do clube das Laranjeiras, já que a equipe conquistou o direito de disputar a principal competição sul-americana em 2008.

"O Fluminense se habilitou a disputar a Libertadores e terá jogos importantes. Vamos precisar de um estádio como o Engenhão, até para aumentar nosso faturamento. Além disso, o nome do clube fica em evidência", ressaltou Horcades.

Para o prefeito César Maia, os clubes perceberam que o novo estádio, além de mais moderno, é também lucrativo. "Essa mudança de idéia deve ter acontecido após a análise comparada das receitas líquidas do Engenhão e do Maracanã", avaliou.

A cada partida realizada no Maracanã, o clube mandante tem uma despesa fixa - paga em sua maior parte à Suderj - de aproximadamente R$ 50 mil, valor que cairia a zero na nova arena.

Parceria é indispensável, mas com ressalvas
Um ponto comum entre os dirigentes é a necessidade de uma parceria para financiar a administração do Engenhão, avaliada em R$ 250 mil mensais. Para isso, as opiniões são distintas. Fala-se em co-gestão com empresas privadas e até na divisão dos gastos entre dois clubes.

Ciente de que não pode arcar sozinho com a manutenção do estádio, Márcio Braga já começou a conversar com companhias especializadas neste tipo de ação, mas preferiu não revelar nomes.

"É indispensável uma parceria com uma empresa que administre estádios, como acontece na Europa. Existem várias e temos contato com algumas. É mais um técnico que tem de ser contratado", brincou.

O dirigente rubro-negro chegou a sugerir uma sociedade com o time de General Severiano, com o objetivo de diminuir o ônus.

RAIO-X DO ENGENHÃO
Nome oficial: Estádio olímpico municipal João Havelange
Área ocupada: 200mil m²
Capacidade: 46.931 pessoas - Arquibancada superior: 21.549 lugares; arquibancada inferior: 23.668 lugares; camarotes: 1.239 lugares; tribuna de imprensa: 125 lugares; 600 acentos para cadeirantes
Campo de futebol com dimensões de 105m x 68m
Pista de atletismo com nove raias
Estacionamento com 1.600 vagas
Dois placares eletrônicos, 60 sanitários, 20 bares, 11 elevadores
"Estávamos conversando sobre essa proposta com o Botafogo. Pode ser insuficiente só o Flamengo para dar rentabilidade. Mas é um assunto que requer tempo para ser realizado", observou.

Contudo, o presidente Bebeto de Freitas fez questão de refutar esta possibilidade. O mandatário alvinegro indicou que essa experiência não traz benefícios para nenhuma das equipes: "A administração não pode ser de dois clubes, isso não dá certo em lugar nenhum do mundo".

O Botafogo, aliás, já definiu sua parceira na concorrência pelo Engenhão. Trata-se da americana AEG, que dirige, entre outros, o ginásio Staples Center, do Los Angeles Lakers, equipe de basquete dos Estados Unidos.

"Essa empresa é especializada nesse tipo de administração. Eles são donos de quatro equipes de futebol, têm estádios de baseball, ginásios de basquete e estão por toda a América Central, México e Europa", disse o mandatário.

"A AEG levou o Beckham para Los Angeles. Eles não querem só o estádio, mas estão interessados em fazer do Rio de Janeiro o centro da empresa na América do Sul", continuou Bebeto, sem dar detalhes sobre o modelo de parceria que foi estabelecido.

Apesar disso, o prefeito do Rio não mostrou empolgação ao se referir à proposta dos americanos: "Essa é uma das três maiores empresas do ramo nos EUA. Mas não senti neles vontade de se associar no capital e sim participar da gestão como contratados".

Já o Fluminense não precisou sair em busca de um parceiro. O patrocinador principal do time de futebol logo se prontificou a auxiliar o clube na tentativa de ganhar a licitação.

"A Unimed vem nessa parceria com o Fluminense há oito anos. Ter um patrocinador desse nível em que o presidente [Celso Barros] é tricolor é uma vantagem. Agora tudo vai depender do edital", afirmou o presidente Roberto Horcades, outro a descartar a idéia de dividir o Engenhão com outro clube.

Para ele, a disputa pela administração da arena não será entre as agremiações, e sim entre as empresas parceiras, que dificilmente aceitariam uma co-gestão. O mandatário do Flu chegou a anunciar depois do título da competição nacional que 'vem aí a Flunimed arena".

César Maia admitiu até a hipótese de a prefeitura auxiliar o vencedor do processo licitatório a administrar o módulo. "O resultado da licitação dirá se a prefeitura se associará ou se o clube assumirá sozinho as despesas", admitiu.

O vencedor da licitação terá o direito de explorar o Engenhão nos próximos 25 anos, contrato que pode ser renovado pelo mesmo período. O resultado do processo deve ser anunciado em agosto, depois dos Jogos Parapan-Americanos.

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