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"Melhor reserva do mundo", Giovane sabia que o saque do título seria seu

GIOVANE FALA SOBRE SER O "MELHOR RESERVA DO MUNDO"

UOL Esporte

Por Carlos Padeiro e Giuliano Zanelato

20/10/2017 04h00

Há 15 anos, a seleção do técnico Bernardinho viajou à Argentina para buscar o único título que faltava ao vôlei masculino nacional. O Brasil era campeão de quase tudo - olímpico, da Liga Mundial, sul-americano, pan-americano. Faltava ganhar o Campeonato Mundial. E o tabu foi quebrado em outubro de 2002, após uma vitória histórica sobre a Rússia por 3 sets a 2, com 15 a 13 no tie-break.

O último ponto saiu das mãos de Giovane. Foi um saque premeditado pelo atleta, à época com 32 anos e reserva na equipe do técnico Bernardinho. Mas não era um ‘reserva comum’. Ele se considerava o “melhor reserva do mundo”.

Antes de explicar por que foi um saque premeditado, é preciso contextualizar a trajetória de Giovane. O mineiro de Juiz de Fora foi um dos maiores nomes do vôlei brasileiro e mundial durante a década de 1990. Campeão olímpico em 92, migrou para o vôlei de praia após a Olimpíada de 96. Não satisfeito com sua performance nas areias, retornou às quadras quatro anos depois.

Porém, outras atletas mais jovens do que ele, caso de Giba, ocuparam a sua vaga. E ele teve que se adaptar à ideia de ser suplente.

“Se eu entrasse numa ‘deprê’ de ficar no banco, de achar que aquilo era ruim, não seria bom. Aí mudei um pouco a ótica do negócio: ‘eu treino todo dia contra a melhor seleção do mundo, então eu sou o melhor reserva do mundo’. Gostei e comecei a agir dessa forma. Usava os melhores jogadores do mundo para melhorar. Treinava contra o saque do Giba, contra o bloqueio do Gustavo, contra a recepção do Nalbert...”

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O camisa 3 afirma que as conquistas olímpicas foram os maiores momentos de sua carreira. E surpreende ao revelar um carinho maior pelos anos em que era reserva do time de Bernardinho.

“Costumo dizer que tive duas fases na seleção brasileira. Na primeira delas, nos primeiros anos, era titular absoluto, jogava o tempo inteiro e fazia 30 pontos por jogo. Na última, era reserva absoluto, entrava pouco e jogava pouco, mas tenho a sensação de que fui mais importante nos últimos quatro anos do que nos primeiros. Na conquista em Atenas eu não entrei, mas tenho uma lembrança muito forte, um gosto de realização muito grande.”

O saque do título: "EU JÁ SABIA"

Domingo, 13 de outubro de 2002. Na noite argentina, o Brasil disputaria com a Rússia o título do Campeonato Mundial. Pela manhã, o último treino antes da partida. E Giovane estava com um bom pressentimento.

Giovane, Mundial de 2002 - AP Photo/Marcelo Hernandez - AP Photo/Marcelo Hernandez
Giovane definiu o jogo na conquista do primeiro Mundial pela seleção brasileira, em 2002
Imagem: AP Photo/Marcelo Hernandez
“Na manhã do dia do jogo eu falei que ia fazer o saque do título, que ia fechar a partida. Falei para o fisioterapeuta que estava do meu lado e fiquei treinando um pouco mais de saque durante o treino”, conta o camisa 3. 

2 sets a 2. 12 a 12 no tie break. Giovane entrou e fez 13 a 12 para os brasileiros.

Os russos empataram.

"Eu estava na última posição, antes do saque. Aí caiu a ficha: '13 a 13, se a gente rodar fica 14 a 13 e eu vou para o saque'".

O próprio Giovane finalizou aquele ponto: 14 a 13 para o Brasil. Faltava um para erguer o troféu do Mundial.

"Fui na direção do saque. O Bernardo ia fazer a substituição ao contrário, mas falou 'não, você vai sacar'. Fiquei batendo a bola no chão, tinha superstição de bater múltiplos de três (1,2,3... 1,2,3...) e sacar. O técnico russo pede uma substituição e coloca um cara bem no buraco onde eu tinha imaginado sacar. Foram 24 vezes que eu bati a bola no chão e deu tempo de pensar o que eu iria fazer. ‘Vou pra onde acho que tenho mais facilidade, que é a paralela, o corredor’. Pensei em jogar a bola um pouco mais pra dentro da quadra, porque eu ganhava um pouco mais de campo. O time russo não imaginava que eu iria meter essa bola na linha. E aí foi pra linha".

Na sequência sorri: "Foi um pouquinho de cagada, mas também faz parte do esporte". 

Os detalhes daqueles minutos finais da decisão estão todos na memória do Giovane. E ele conta orgulhoso.  

"O maior aprendizado que tive com essa situação foi o seguinte. O Giba fez 400 pontos nesse campeonato, eu fiz três. Talvez todo mundo lembre mais de mim do que dele. As pessoas às vezes se acham muito pequenas. ‘Ah, eu não posso mudar o rumo das coisas, sou só um funcionário pequeno’. Se a gente acreditar, muda. A oportunidade às vezes aparece, e a gente tem que se preparar". 

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A entrevista com Giovane Gávio foi realizada pelo ESPORTE(ponto final), um canal produzido a partir de depoimentos de ídolos sobre os grandes momentos do esporte.

A cada semana, novos episódios serão lançados na página especial do ESPORTE(ponto final). E você também pode acompanhar nas mídias sociais: youtube.com/esportepontofinal e facebook.com/esportepontofinal.

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