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Dirigente senegalês acusado de venda de votos pró-Rio 2016 morre aos 88 anos

03/12/2021 12h42

Dacar, 3 dez (EFE).- O senegalês Lamine Diack, que foi presidente entre 1999 e 2015 da então Federação Internacional de Atletismo (IAAF) - atual World Athletics -, morreu na noite desta quinta-feira, aos 88 anos, em Dacar.

"Meu pai acaba de ser chamado por Deus. Teríamos gostado se ele seguisse nos acompanhando, mas se foi", afirmou o filho do dirigente, Papa Massata Diack, em declarações à "Agência de Imprensa Senegalesa".

Lamine Diack foi pivô de um escândalo envolvendo a escolha da candidatura do Rio de Janeiro a sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Em delação ao Ministério Público Federal (MPF), o economista Carlos Emanuel Miranda, suposto "gerente da propina" do ex-governador Sérgio Cabral, disse que o senegalês teria recebido em propina em troca de quatro votos na eleição realizada em 2009 pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) para definir o local da edição do megaevento esportivo.

Segundo a investigação do caso, Sérgio Cabral, o ex-presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) Carlos Nuzman e o ex-diretor do Comitê Rio-2016 Leonardo Gryner solicitaram a Arthur Soares (conhecido como "Rei Arthur" e dono de empresas com contratos com o governo Cabral) que repassasse US$ 2 milhões ao dirigente, por meio de uma empresa de seu filho Papa Massata Diack.

Além disso, Lamine Diack foi condenado pela justiça da França, em 2020, a quatro anos de prisão, por ter elaborado com mais cinco pessoas um esquema de corrupção para obter milhões de dólares para encobrir o doping de atletas russos, além de ter criado um sistema com empresas junto com o filho para desviar fundos da IAAF.

O senegalês sucedeu na presidente da entidade o italiano Primo Nebiolo, que morreu em 1999 e deixou o cargo vago. O senegalês liderou a federação de atletismo até 2015, ano da eleição do britânico Sebastian Coe, até hoje na liderança da IAAF.

O primeiro não europeu a chefiar a entidade nasceu em 1933, em Dacar, praticou esportes como atletismo, basquete, futebol, tênis e vôlei durante a infância e adolescência.

Antes da independência do Senegal, se tornou campeão francês do salto em distância, em 1958, ao saltar 7m63. No ano seguinte, melhorou a marca em nove centímetros, ao conquistar o título do campeonato universitário do país.

Anos depois, em 1973, se tornou o primeiro presidente da Federação Africana de Atletismo. E entre 1985 a 2002, ocupou a presidência do Comitê Olímpico Senegalês.

Além disso, Lamine Diack foi ministro da Juventude e Esportes do país de origem, prefeito de Dacar e deputado.

A brilhante trajetória do ex-atleta e dirigente começou a desmoronar em 2015, quando foi detido em Paris, junto com o advogado Habib Cissé.

Em 16 de setembro de 2020, o ex-presidente da IAAF foi declarado culpado dos crimes de corrupção ativa e passiva, assim como de abuso de confiança, o que rendeu uma condenação com pena de quatro anos de prisão - dois deles isentos de cumprimento.

Além disso, o senegalês deveria pagar multa de 500 mil euros (R$ 3,18 milhões), sanção a que sua defesa recorreu.

Entre os acusados no caso também estava Papa Massata Diack, que se refugiou no Senegal e contra quem pesa uma ordem internacional de prisão. O filho do ex-presidente da IAAF foi condenado a cinco anos de prisão e a pagar multa de 1 milhão de euros.

O escândalo veio à tona em 2012, a partir de denúncias de atletas da Rússia insatisfeitos com o esquema de dopagem, o que acabou resultando em ampla investigação e na exclusão do país de competições internacionais durante quatro anos.

Diack também era acusado em uma investigação sobre irregularidades na escolha de Tóquio como sede dos Jogos Olímpicos de 2020 e dos Campeonatos Mundiais de Atletismo de 2013 (realizado em Moscou) e de 2021 (em Eugene, nos Estados Unidos).

Por causa disso, o passaporte do dirigente havia sido apreendido pelas autoridades, e ele não poderia deixar o Senegal.

Em maio desse ano, o dirigente voltou a viver no país de origem, depois que essa proibição foi anulada, e o clube de futebol Jaraaf, que Lamine Diack presidiu, pagou sua fiança. EFE