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Professor cria escola de karatê para revolucionar zona rural da Gâmbia

07/03/2019 06h02

Saikou Suwareh Jabai.

Sutukoba (Gâmbia), 7 mar (EFE).- A vida de muitos jovens de Sutukoba, no nordeste da Gâmbia, deu uma virada radical há alguns meses quando Saikou Yaffa fundou a primeira escola de karatê, hoje berço de uma nova geração de jovens atletas.

"Nosso principal objetivo é melhorar a autoestima dos nossos alunos e fazer com que sejam pessoas melhores na sociedade", explicou à Agência Efe Saikou Yaffa, campeão nacional de karatê em 2016 e que nasceu em Sutukoba, povoado a 350 km da capital gambiana, Banjul.

O esporte é a arte marcial mais respeitada e popular da Gâmbia, onde uma sólida Federação Nacional de Karatê continua fortalecendo o nome deste pequeno país da África em escala internacional. No entanto, a entidade fracassa em levar a modalidade às zonas rurais do país, onde vivem quase 40% dos 2 milhões de habitantes.

Quem vive lá muitas vezes se vê privado da prática esportiva devido à falta de instalações próximas e à dificuldade que representa a ida até a capital, onde acontece a maioria das competições nacionais.

Assim, com a ideia de suprir esta deficiência e de reunir a alguns dos vários adolescentes que diariamente praticam o esporte na rua, Saikou fundou em agosto do ano passado o Clube de Karatê Sutukoba, com capacidade para atender 60 alunos.

A ideia já estava na cabeça do professor há algum tempo. Depois de ganhar o campeonato nacional, em 2016, Saikou se deu conta de que, como ele, muitos outros jovens da aldeia também poderiam vencer neste esporte se tivessem a chance de ser treinados.

De acordo com Sarjo Yaffa, de 18 anos, sem o clube aprender essa arte marcial seria impossível. "Gosto do karatê desde criança. Cresci vendo filmes chineses e isso me inspirou muito", disse o jovem.

Além de força física, os pupilos de Saikou trabalham a concentração, a disciplina e a autoestima; qualidades imprescindíveis para sobreviver em um competitivo mercado de trabalho, no qual a taxa de desemprego entre os jovens gira perto de 13%, conforme dados de 2017 do Banco Mundial.

Apesar do pouco tempo de existência, o clube se propôs a organizar uma competição anual na região. Com centenas de espectadores - muitos pais de alunos - o objetivo é mostrar as habilidades marciais que os jovens adquiriram.

Na véspera da competição, que em 2019 aconteceu em 16 de fevereiro, Saikou reuniu todos os alunos para um último teste na escola do povoado, onde treinaram golpes e movimentos defensivos imitando os gestos do mestre.

O prefeito de Sutukoba, Kumuntung Jabai, presente o dia da competição, se comprometeu a doar ao clube um terreno para a construção de um espaço apropriado para os treinos.

"Estou muito feliz de ver o quão longe chegaram. As suas habilidades serão úteis não só como autodefesa, mas também para proteger o nosso povoado no caso de ataques externos", brincou ele.

No entanto, o caminho até aqui não foi fácil. Sem patrocinador e com pouco apoio do governo, alguns alunos não têm nem mesmo o quimono, já que as famílias não podem comprar.

"As dificuldades são várias. Não temos equipamentos e um espaço adequado para treinar, por exemplo. Até agora, usamos as salas de aula da escola, por isso o ambiente não é adequado", lamentou o instrutor.

Com ou sem quimono, muitos jovens que hoje imitam os passos de Saikou - a quem, mais que a um mestre, consideram um exemplo para a sociedade - se aproximam cada dia mais do sonho de se tornarem campeões no karatê e na vida. EFE