Organização conclui que transplante de Abidal foi realizado de modo legal
A Organização Nacional de Transplantes (ONT) da Espanha concluiu que o transplante de fígado de doador vivo ao qual o ex-lateral-esquerdo Eric Abidal foi submetido "foi realizado de acordo com a lei" e com boas práticas, mas se colocou à disposição para futuras investigações.
Em colaboração com o Hospital Clinic de Barcelona e a Organização Catalã de Transplantes (OCATT), a ONT analisou "cada um dos passos do processo" do ponto de vista clínico e sanitário, segundo informou em comunicado.
A organização iniciou uma investigação interna no início deste mês para revisar o procedimento de doação e o posterior transplante de fígado a Abidal. Segundo o jogador e o Barcelona, clube que ele defendia à época, o órgão foi doado pelo primo do lateral-esquerdo.
Paralelamente, o Departamento de Saúde do governo da Catalunha realizou uma inspeção no Hospital Clinic, cujo relatório final ainda não foi divulgado.
A ONT constatou que Abidal estava na lista de espera para transplante de doador falecido e que, diante do avanço do câncer, a equipe médica considerou a opção de um transplante hepático de doador vivo, o que não excluía a possibilidade do transplante de doador falecido se tivesse surgido um órgão compatível.
De acordo com a averiguação, as identidades de doador e receptor e o parentesco entre ambos foram comprovados documentalmente no hospital, o primeiro filtro que a lei contempla para a doação de pessoa viva.
A organização também afirma que, embora a legislação não exija que a doação entre vivos tenha que ocorrer no âmbito familiar, ao saber a relação de parentesco com o doador, esta foi verificada documentalmente.
"No Hospital Clinic constam a certidão de nascimento e o livro de família tanto do doador como do receptor, pelos quais se deduz que são primos-irmãos", acrescentou a ONT.
O doador foi submetido a uma "rigorosa" avaliação médica, cirúrgica e psicossocial, na qual foram analisados os motivos para a doação e a relação com o receptor.
Depois, o caso foi avaliado pelo Comitê de Ética assistencial do centro com resolução positiva - o segundo filtro necessário para esses processos -, que concluiu que existia um entorno familiar, trabalhista, econômico e social do doador favorável à doação.
Antes da intervenção, o primo de Abidal se encontrou com a juíza encarregada do Registro Civil de Barcelona, que comprovou documentalmente a relação entre doador e receptor e certificou que o processo seria feito de forma livre e altruísta, ou seja, que cumpria o terceiro e último filtro legalmente estabelecido.
O Hospital Clinic confirmou que no cartório de Registro Civil de Barcelona no qual o doador compareceu existe uma cópia do seu documento de identidade.
A comunicação com o doador, que só fala francês, foi feita por um membro do equipe de Coordenação de Transplantes do Hospital Clinic de Barcelona que domina o idioma, por isso não foi necessária a participação de um tradutor.
Apesar de tudo isso, "dada a gravidade extrema dos fatos denunciados" e levando em conta que as suas competências se limitam ao âmbito clínico-sanitário, a ONT se apresentará como acusação particular caso a Justiça decida reabrir o caso.
Segundo a organização, se os fatos não forem averiguados a fundo podem gerar desconfiança entre a população sobre o processo de doação de órgãos, que permite salvar milhares de vidas todos os anos.
A ONT se colocou à disposição do Ministério Público e da Guarda Civil para proporcionar qualquer tipo de informação que possam necessitar em relação a este caso e declarou ter "tolerância zero" com o tráfico de órgãos.
Entenda o caso
Há um ano, uma juíza de Barcelona abriu uma investigação sobre a suposta compra ilegal de um fígado para ser transplantado a Abidal, que teve câncer no órgão, mas arquivou o caso após não encontrar indícios de crime.
Segundo o portal "El Confidencial", nas escutas feitas como parte da investigação sobre lavagem de dinheiro contra Rosell, o ex-dirigente do Barcelona conversou com um indivíduo identificado como "Juanjo", que mencionou que "compraram um fígado ilegal" para Abidal, de modo que o transplante fosse realizado em abril de 2012.
Em comunicado escrito na prisão onde está recluso, na cidade espanhola de Soto del Real, o ex-dirigente afirma que o transplante do ex-jogador do clube catalão foi "um exemplo da qualidade excepcional da medicina no país".
"Até onde eu posso dizer, tanto as autoridades administrativas como as médicas e o Barcelona tiveram uma conduta impecável e irrepreensível", comentou, negando as acusações.
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