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Nem a mão de Deus, nem a de Henry: o que o VAR teria mudado nas Copas

08/06/2018 21h10

Olga Martín.

Redação Central, 8 jun (EFE).- A mão de Maradona, ou 'la mano de Dios', como o próprio craque definiu na Copa do Mundo de 1986, e também a do atacante francês Thierry Henry nas Eliminatórias de 2010, não seriam parte da história do futebol se já existisse o VAR, o sistema de árbitro de vídeo com o qual a International Board e a Fifa esperam acabar com os erros de arbitragem nas competições.

Com seu lançamento oficial em poucos dias, ambas as entidades estão confiantes de que a Copa do Mundo deste ano não entrará para a história por erros grosseiros como os de outras edições, que foram determinantes para o sucesso de algumas seleções e para a decepção de outras, além de engrossar os arquivos históricos do futebol.

Quantos gols o VAR teria anulado nos 20 Mundiais realizados até hoje? Quantos resultados seriam diferentes e quantos teriam outro vencedor? São perguntas que permanecerão sem resposta, embora a implementação do sistema nesta Copa do Mundo marcará um "antes e depois".

O uso de forma experimental da tecnologia já mostrou que vários jogos decisivos teriam lances que precisariam ser revistos. Como o gol que o argentino Carlos Tévez marcou, em posição de impedimento, contra o México, nas oitavas de final da Copa da África do Sul, em 2010; ou o pênalti simulado por Arjen Robben, nas oitavas do Mundial do Brasil, em 2014, quando o holandês fingiu ter sofrido falta de Rafa Márquez nos minutos finais do jogo, também contra a representante da América do Norte. O árbitro marcou a penalidade, Huntelaar cobrou e a Holanda venceu a partida por 2 a 1.

A cotovelada do italiano Mauro Tassoti no espanhol Luis Enrique, no Mundial de 1994, e o segundo gol que o árbitro egípcio Gamal El Ghandur anulou da Espanha contra a Coreia do Sul em 2002, ao considerar que a bola teria saído na linha de fundo no passe de Joaquín para Morientes, entram também para a lista de situações que o VAR teria analisado mais detalhadamente.

Embora sejam imutáveis, com uma olhada para trás, o árbitro de vídeo teria revisado várias jogadas de Copa do Mundo. Alguns gols, erroneamente anulados e outros considerados legais, mas sempre com a regra de não intervir quando houver dúvida.

Outros exemplos de lances que seriam revistos e considerados "erros claros", segundo especialistas, seriam o primeiro gol de Maradona contra a Inglaterra nas quartas de final da Copa do México de 1986, quando a Argentina conquistou o título em cima da Alemanha; e também o gol mal anulado de Frank Lampard, novamente contra a Alemanha, no Mundial de 2010, na África do Sul.



O que o VAR teria anulado:.



MÉXICO 1986 (22-06-1986, Cidada do México).

Quartas de final: Argentina 2 - 1 Inglaterra.

Maradona marcou os dois gols argentinos. O primeiro deles foi com a mão, mas foi validado pelo árbitro tunisiano Ben Nacaeur. Maradona admitiu, depois, sua infração, e o gol entrou para a história como "a mão de Deus".

VAR: "O primeiro gol seria anulado com o VAR. Erro claro".



ÁFRICA DO SUL 2010 (18-11-2009, Paris)

Eliminatórias (Repescagem): França 1 - 1 Irlanda

William Gallas marcou o gol do empate da França na prorrogação, após receber um passe de Thierry Henry, que ajeitou a bola com a mão. Apesar disso, o árbitro sueco Martin Hansson validou o gol e, com o empate, a França se classificou para a Copa de 2010.

Henry, mais tarde, justificou seu gesto como algo que seria "parte do jogo", mas depois disse que "repetir a partida seria a solução mais equitativa". Irlanda e França fizeram um pedido formal à Fifa para que o jogo fosse repetido, mas a entidade afirmou que não era possível.

"O resultado da partida não pode ser alterado e a partida não pode ser disputada novamente, como é claramente mencionado nas regras do jogo. Durante as partidas, as decisões são tomadas pelo árbitro e essas decisões são definitivas", afirmou em um comunicado.

VAR: "O gol da França teria sido anulado com a intervenção do VAR. Erro claro".



ÁFRICA DO SUL 2010 (27-06-2010, Johanesburgo)

Oitavas de final: Argentina 3 - 1 México.

A Argentina abriu o placar aos 26 minutos de jogo com um gol de Carlos Tévez, que estava impedido. O árbitro italiano Roberto Rosetti validou o lance, apesar do assistente ter lhe avisado sobre o possível erro.

VAR: "Este gol teria sido anulado com a intervenção do VAR. É um fato, erro claro".



O que o VAR teria validado:.



MÉXICO 1986 (01-06-1986, Guadalajara).

Fase de grupos: Brasil 1 - 0 Espanha.

O árbitro australiano Christopher Brambridge anulou um gol da Espanha, após um chute de Míchel, que rebateu no travessão e ultrapassou a linha de gol. O Brasil ganhou por 1 a 0, com gol de Sócrates.

A TV Globo demonstrou, utilizando um recurso tecnológico, que a bola ultrapassou em 20 centímetros a linha de gol.

VAR: "Se a revisão da imagem mostra com clareza que a bola entrou, o VAR teria validado o gol. Se houvesse a mínima dúvida, não".



ÁFRICA DO SUL 2010 (27-06-2010, Bloemfontein).

Oitavas de final: Alemanha 4 - 1 Inglaterra.

Quando a Alemanha estava vencendo o jogo por 2 a 1, a Inglaterra chegou ao gol de empate com Frank Lampard, que chutou forte e acertou o travessão do goleiro Manuel Neuer, aos 38 minutos do primeiro tempo. Replays mostraram que a bola claramente entrou, mas o gol não foi marcado pelo juiz uruguaio Jorge Larrionda. A Alemanha, depois, ampliou o placar com dois de Müller e eliminou a Inglaterra.

VAR: "O gol de Lampard teria sido validado com o VAR. Erro claro".



O que o VAR teria revisado:.

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COREIA DO SUL E JAPÃO 2002 (21-06-2002, Gwangju).

Oitavas de final: Coreia do Sul 0 - 0 Espanha (5-3 nos pênaltis)

O árbitro egípcio Gamal El Ghandur anulou dois gols da Espanha, um de Rubén Baraja, por falta, e outro, no início da prorrogação, de Fernando Morientes, ao considerar que a bola lançada por Joaquin teria saído pela linha de fundo.

VAR: "No gol anulado de Baraja, dificilmente o VAR atuaria. É uma jogada que não é clara. Já no gol anulado pela bola ter saído pela linha de fundo, dependeria de analisar se o árbitro apita antes que se faça o gol, como no caso que aconteceu na Coreia. Se já tivesse apitado, o árbitro de vídeo não poderia interferir.

Com o VAR, a recomendação aos assistentes é de que, em jogadas similares, esperem para levantar a bandeirinha após o chute do atacante e a recomendação ao árbitro é de que atrase também o apito. Desta forma, o VAR poderia interferir e validar o gol".



ESTADOS UNIDOS 1994 (09-07-1994, Boston).

Quartas de final: Itália 2 - 1 Espanha.

No último minuto, já com 2 a 1 no placar, o jogador italiano Mauro Tassotti agrediu, dentro da área, Luis Enrique, que quebrou o nariz. O árbitro húngaro Sandor Puhl não puniu o jogador, e a Itália ganhou, passando para as semifinais.

A Fifa, depois, puniu Tassotti com sete jogos, mas deu a Puhl a classificação para a final da Copa do Mundo, na qual o Brasil conquistou o título contra a Itália, nos pênaltis (3 a 2), após o placar de 0 a 0 no tempo regulamentar.

VAR: "O VAR teria interferido depois da cotovelada, sugerindo a revisão do árbitro para dar o pênalti e expulsar o jogador italiano".



SUÍÇA 1954 (04-07-1954, Berna).

Final: Alemanha 3 - 2 Hungria.

O árbitro inglês William Ling anulou um gol marcado pelo húngaro Ferenc Puskás que seria o gol de empate da Hungria. Com o resultado, a Alemanha conquistou o título mundial.

VAR: "Com imagens nítidas, o VAR teria revisado a ação e, em caso de confirmar o erro claro, teria validado o gol".



O VAR não teria interferido:.

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INGLATERRA 1966 (30-07-1966, Londres).

Final: Inglaterra 4 - 2 Alemanha.

O árbitro suíço Gottfried Dienst validou o terceiro gol da Inglaterra, um dos chamados "gols fantasmas" da Copa, marcado na prorrogação por Geoff Hurst, ao entender que a bola ultrapassou totalmente a linha do gol. Dienst consultou seu assistente no lance, o russo Tofik Bakhramov, que, anos depois, revelou não ter visto a jogada e reconheceu que se deixou influenciar pela torcida.

VAR: "Com as imagens da época, o VAR não poderia interferir. Com o sistema tecnológico atual e uma câmera na linha do gol, seria mais fácil analisar se entrou totalmente ou não".



BRASIL 2014 (29-06-2014, Fortaleza).

Oitavas de final: Holanda 2 - 1 México.

O árbitro português Pedro Proença marcou pênalti após uma queda de Arjen Robben, muito questionada, em uma ação com Rafa Márquez, quando a partida estava empatada por 1 a 1. Huntelaar cobrou o pênalti e garantiu a vitória e a classificação para as quartas da Holanda.

Robben foi acusado de simular a falta, mas se defendeu afirmando que houve o pênalti. "Era uma rodada importante, e todo mundo opina. É também o bom do futebol, todos podem opinar. Estamos acostumados", disse depois o jogador holandês.

VAR: "O VAR nunca interferiria em uma jogada assim. É uma jogada totalmente interpretável na qual caberia a sinalização ou não de pênalti. Nunca seria um erro claro".



RÚSSIA 2018 (11-10-2017, Panamá).

Eliminatórias: Panamá 2 - 1 Costa Rica.

O árbitro guatemalteco Walter López validou o gol marcado por Román Torres, após cometer uma possível falta, que deu a vitória ao Panamá e a inédita classificação para o Mundial.

VAR: "Se a dúvida é uma possível falta do jogador que marca o gol, o VAR nunca interferiria em uma jogada assim. Nunca seria um erro claro".