Topo

Taiwan sedia megaevento esportivo sem poder usar seu nome

AFP
Imagem: AFP

29/08/2017 06h00

A complexa geopolítica entre China e Taiwan há quase 70 anos cria paradoxos como o de a capital taiuanesa organizar o maior evento esportivo da sua história (a Universíade de Taipé) e não poder usar o nome da ilha, nem sua bandeira, em nenhuma competição.

Já na cerimônia de abertura, no dia 19, o fato ficou evidente no tradicional desfile de atletas: os anfitriões estavam representados por uma bandeira diferente da nacional, e no cartaz que a acompanhava não se lia "Taiwan", mas "Taipé Chinesa".

A situação se repete há mais de 30 anos, quando Taiwan fechou um acordo em 1981 com o Comitê Olímpico Internacional, por pressões da China, para usar esse nome em troca de participar de competições esportivas mundiais. No entanto, este fato dói especialmente quando a ilha é justamente a anfitriã de um megaevento, como é o caso da Universíade.

"Usamos o nome de Taipé Chinesa mesmo sabendo que grande parte da população não está contente com isso. Temos que respeitar o acordo com o COI", disse em entrevista coletiva para os jornalistas estrangeiros que cobrem o evento esportivo o diretor-geral da Administração de Esporte de Taiwan, Lin Te-fu.

"Deve-se cumprir o acordo ainda que a opinião pública não o queira", ressaltou.

De acordo com Lin, cerca de 70% dos taiuaneses querem que seja usado o nome Taiwan em eventos esportivos internacionais, bem como a bandeira nacional, que, curiosamente, foi a que a China usou entre 1928 e 1949.

A política sempre está presente quando se trata das relações nas outras esferas entre China e Taiwan, inclusive em provas esportivas, e a Universíade não é exceção, já que o Governo de Pequim fez boicote à edição de Taipé.

A imprensa chinesa apenas informa sobre a competição, no desfile inaugural a equipe chinesa não desfilou e o país não compete nas provas por equipes, só nas individuais, com a desculpa de que nestes dias acontece na China os Jogos Nacionais, uma espécie de Olimpíadas internas.

"Queremos pensar positivo e acreditar que as equipes chinesas não podem participar devido à coincidência de competições, ainda que seria preciso perguntar à China para saber a verdade", destacou Lin.

Curiosamente, quando a China organizou os Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, e houve ameaças de boicote da comunidade internacional em consequência das revoltas tibetanas, o regime comunista pediu para que não se misturasse política e esporte.

"Se alguém acredita na China quando diz que política e esporte não devem se misturar, ficará muito decepcionado", afirmou Lin.

Seja como for, os atletas da "Taipé Chinesa" continuam competindo em sua Universíade com grande sucesso, sabendo que, ainda que no seu uniforme apareça um nome diferente do que o público quer, são por ele que participam da disputa.

O assunto se complica ainda mais se for levado em conta que é utilizado com frequência em Taiwan, para se referir à China, o nome de "República da China", já que a ilha entende representar um tipo de governo no exílio do regime nascido em 1911, com a queda do imperador Qing.

As tensões entre China e Taiwan, das quais deriva este desfile de nomes e bandeiras, têm sua origem na guerra civil de 1945-1949, quando o Kuomintang (Partido Nacionalista Chinês, que governava a China) perdeu a disputa para os comunistas liderados por Mao Tsé-Tung e se refugiou na ilha cuja capital sedia a Universíade.