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Equipes venezuelanas de beisebol deixam de dar bolas aos fãs devido à crise

13/12/2016 20h07

Ron González.

Caracas, 13 dez (EFE).- Presentear os torcedores com bolas de beisebol é uma tradição em todas as ligas da modalidade no mundo, mas na Venezuela esse costume, muito apreciado pelo público, está enfrentando restrições nesta temporada.

A Liga Venezuelana de Beisebol Profissional (LVBP) não conseguiu escapar da crise econômica que afeta o país e pediu aos oito clubes que disputam o torneio para não presentear o público que comparece às partidas com "bolas em excesso".

O pedido se baseia em um temor compreensível: as bolas são importadas. Com pouca moeda estrangeira no país para fazer um novo pedido, presenteá-las em excesso poderia comprometer as partidas dos playoffs da temporada.

Segundo dados apresentados pelo presidente do Aguilas del Zulia, Luis Rodolfo Machado, cerca de 50 bolas eram usadas em cada jogo. O número, porém, duplicou na atual temporada. "Se continuarmos assim, não teremos bolas para a pós-temporada e menos ainda pra final".

"Se acabarem as bolas, acaba o campeonato", alertou.

O fato de a crise estar afetando o beisebol venezuelano não é um segredo. Em setembro, o presidente da LVBP, Oscar Prieto Párraga, disse à imprensa que os clubes esperavam a alocação de divisas com taxas preferenciais.

A Venezuela mantém desde 2003 um rigoroso controle sobre o câmbio. Empresas e cidadãos devem pedir ao governo para trocar bolívares por dólares ou por outras moedas que precisarem.

A operação, que é considerada embaraçosa desde a criação do sistema, ficou muito complicada com a queda dos preços do petróleo, fonte de 96% das receitas do país.

Conceder dólares para a LVBP não parece uma opção para o governo devido à situação da economia. Para a liga, buscá-los no mercado paralelo, onde a cotação supera em até 400 vezes a taxa oficial, encareceria muito as operações.

O dinheiro pedido pela LVBP em setembro, cerca de US$ 12 milhões, foi usado para comprar equipamentos esportivos, cancelar passagens aéreas e pagar salários de jogadores e árbitros estrangeiros. O valor, no entanto, não permite margem para imprevistos, como importar bolas novamente.

Dessa forma, as equipes acertaram, segundo Machado, presentear a bola usada apenas no encerramento de cada entrada, assim como a última do "out". Sem contar as que são perdidas em "home runs" que saem dos estádios ou em faltas.

No entanto, alguns jogadores já se manifestaram contra a medida. "Perderei meu salário com as multas. Uma criança fica muito mais emocionada quando ganha uma bola", disse Tomas Telis, receptor dos Caribes de Anzoátegui.

"Há tantas coisas para melhorar na liga e agora vão nos multar por presentear os torcedores com bolas. As levarei comigo e darei de presente fora do campo", disse José Martínez, do Tiburones de La Guaira.

Mas o presidente do Aguilas del Zulia pediu sensatez e lembrou que tudo em excesso tem desvantagem.

"Temos duas opções: regular o fato de presentear as bolas ou fechar as portas antes de tempo", resumiu.