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Fifa nega relação de Valcke com pagamento à Concacaf, mas carta desmente entidade

Jerome Valcke saberia de suposta propina paga pela África do Sul à Concacaf - AFP PHOTO/ NELSON ALMEIDA
Jerome Valcke saberia de suposta propina paga pela África do Sul à Concacaf Imagem: AFP PHOTO/ NELSON ALMEIDA

Do UOL, com agências internacionais

Em Madri (ESP)

02/06/2015 07h04

A Fifa negou que seu secretário-geral, o francês Jerome Valcke, ou outro ex-dirigente da entidade "estejam envolvidos no início, na aprovação e na implementação" do projeto pelo qual o Comitê Organizador do Mundial da África do Sul 2010 fez um pagamento de US$ 10 milhões à Concacaf. Uma carta divulgada pela imprensa sul-africana e reproduzida por jornalistas europeus, no entanto, desmente a entidade.

Em comunicado divulgado nesta terça-feira, a Fifa esclareceu que "em 2007, como parte da Copa do Mundo de 2010, o governo da África do Sul aprovou um projeto de US$ 10 milhões para apoiar a diáspora africana em países do Caribe como legado do Mundial".

Por parte do governo da África do Sul, e de acordo com a Federação de Futebol deste país (SAFA, sigla em inglês), foi solicitado que a Fifa retivesse os US$ 10 milhões do orçamento do Comitê Organizador e os utilizasse para financiar o "Programa Legado Diáspora".

"A SAFA instruiu a Fifa que o Programa Legado Diáspora deveria ser administrado e aplicado diretamente pelo presidente da Concacaf [Jack Warner], que naquele momento era presidente adjunto do Comitê de Finanças, e era quem deveria atuar como fiduciário dos recursos do programa", acrescentou a Fifa.

A entidade máxima do futebol afirmou também que "os pagamentos foram autorizados pelo então presidente do Comitê de Finanças e executados de acordo com o regulamento da Fifa".

"A Fifa não incorreu em nenhum custo como resultado do pedido da África do Sul, pois os fundos pertenciam ao Comitê Organizador. Tanto a Federação da África do Sul como o Comitê Organizador, cumpriram com as formalidades necessárias para a emenda orçamentária", acrescentou a Fifa.

Carta diz o contrário

Carta para Valcke - Reprodução/Twitter - Reprodução/Twitter
Jornalista britânico divulga carta que mostra que Jerome Valcke sabia de repasse da África do Sul para a Concacaf
Imagem: Reprodução/Twitter
Apesar de a Fifa sair em defesa de Jerome Valcke, uma carta divulgada nesta terça-feira pela imprensa sul-africana e reproduzida por jornalistas europeus, entre eles Martyn Ziegler, da AP, mostra que o dirigente sabia, sim, do repasse. O documento é de março de 2008, foi assinado pelo então presidente da SAFA (Associação de Futebol Sul-Africana) e direcionado a Valcke. Trata-se, segundo a carta, de um pedido para que a Fifa repassasse à Concacaf um valor de US$ 10 milhões para um programa de financiamento da evolução do futebol da América do Norte e do Caribe.

"Diante da decisão do Governo Sul-Africano de que uma quantia de US$ 10 milhões seja paga ao Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2010, a Associação Sul-Africana de Futebol (SAFA) solicita à Fifa que retenha uma quantia de US$ 10 milhões do futuro orçamento operacional do Comitê Organizador e depois encaminhe a quantia retida ao Programa de Legado da Diáspora", diz a carta. "Além disso, a SAFA solicita que o Programa de Legado da Diáspora seja administrado e implementado diretamente pelo presidente da Concacaf [Jack Warner]".

A Ziegler, a Fifa afirmou que a carta apenas confirma a versão de que o dinheiro se trata de um repasse legal, e não propina, e mais uma vez reitera que, apesar de o documento ser endereçado a Jerome Valcke, o repasse foi autorizado por Julio Grondona, então presidente da Federação Argentina morto em 2012.

Valcke na mira

A reação da Fifa acontece depois que o jornal "The New York Times" publicou uma informação na qual indicava que o secretário-geral da organização, o francês Jerome Valcke, pode ser a pessoa responsável por várias transações de US$ 10 milhões relacionadas com a rede de corrupção revelada na semana passada.

Segundo o jornal americano, esses pagamentos de US$ 10 milhões são uma "peça-chave" das acusações da Procuradoria Geral dos Estados Unidos e os fundos foram utilizados para supostamente pagar propina para que a África do Sul fosse escolhida como a sede da Copa do Mundo de 2010.

A reportagem também assinalava que Valcke é o "oficial do primeiro escalão" não identificado na folha de acusações, mas o documento da procuradoria não diz claramente que essa pessoa sabia que esse dinheiro estava sendo utilizado para um ato de corrupção.

A Procuradoria dos Estados Unidos anunciou no dia 27 de maio acusações contra 14 pessoas da Fifa e de empresas que fazem negócios com a organização esportiva, entre eles o ex-presidente da CBF José Maria Marin, por uma série de crimes, como extorsão, fraude e lavagem de dinheiro.