Topo

Origem do futebol no Brasil gera debates a um mês da Copa

13/05/2012 11h22

Manuel Pérez Bella.

Rio de Janeiro, 13 mai (EFE).- A um mês do início da Copa do Mundo, alguns pesquisadores brasileiros estão submergidos em um debate sobre quem deu o primeiro chute a uma bola no "país do futebol", lançando a pedra fundamental de um esporte que rapidamente adquiriu o status de paixão nacional.

Os livros de história dizem que o primeiro jogo documentado foi disputado no dia 14 de abril de 1895 em São Paulo, organizado por Charles Miller, um filho de um imigrante escocês que decidiu carregar o futebol para terras tropicais após passar uma temporada estudando na Inglaterra.

Outros pesquisadores afirmam que o pioneiro foi o emigrante escocês Thomas Donohue, que era jogador em seu país e teria organizado, um ano antes que Miller, partidas no bairro de Bangu, localizado na zona oeste do Rio de Janeiro e onde ainda funciona uma fábrica de tecidos montada naquela época pela colônia britânica.

"Donohue foi ao endereço da fábrica, confirmou que seu contrato era longo e viu uma oportunidade de trazer a sua esposa e seus dois filhos. Pediu a ela que trouxesse uma bola. Sendo um jogador profissional não aguentaria anos sem jogar ao futebol", disse à Agência Efe Julia Rovere, brasileira que viajou para a Escócia para investigar as origens do atleta.

Segundo o pesquisador Rogério Melo, também em entrevista à Efe, Donohue e outros operários jogavam partidas com cinco ou seis jogadores por equipe no jardim da fábrica, onde hoje funciona um centro comercial e seu estacionamento.

"Thomas Donohue não estava preocupado em ser um pioneiro, mas em fazer o que mais gostava, que era jogar futebol", afirmou Melo na porta da antiga fábrica de estilo inglês, que conserva sua chaminé de tijolo.

Os custódios da memória de Donohue levantaram um pequeno museu com várias fotos antigas e peças da época, como algumas chuteiras supostamente usadas pelo escocês e uma réplica de uma bola.

Uma semana antes do Mundial, a figura do ex-jogador e ex-operário britânico será imortalizada para sempre, quando se realiza a inauguração de uma estátua de sete metros de altura, fabricada em resina e estrutura metálica e com um acabamento de bronze, que está sendo feita pelo artista Clecio Regis.

A figura de Donohue, com um bigode proeminente e roupas da época, terá um dedo apontando para o alto, para mostrar que ele foi o pioneiro, segundo o escultor em seu estúdio.

"É muito merecido (homenagem). Foi um pioneiro em um bairro distante do centro do Rio. Por isso foi ofuscado por Charles Miller. Não queremos tirar o mérito de Miller pela ata, pelas regras, mas o primeiro jogo de futebol foi em Bangu e houve outros muitos antes de Charles Miller", salientou Regis.

No entanto, o futebol poderia ter desembarcado décadas antes no Brasil, sem formalismos, campos delimitados, ou regras rígidas, em jogos entre marinheiros britânicos disputados nas praias, uma prática que segue muito arraigada na cultura brasileira, como registrado no livro "Guia Politicamente Incorreto da História do Futebol".

"O futebol brasileiro é filho bastardo de europeus que só queriam passar o tempo antes de se divertirem com as exóticas mulheres locais", afirma a obra.

Ainda de acordo com o livro, há registros que afirmam que em 1874 a princesa Isabel, filha do imperador Dom Pedro II, concedeu permissão aos marinheiros da embarcação britânica "Crimeia" para desembarcarem e jogarem futebol nos jardins de sua residência oficial, onde hoje fica a Marina da Glória.

Um de seus autores, o jornalista Leonardo Mendes Júnior, disse à Efe que, depois dos marinheiros, começou-se a jogar futebol em colégios jesuítas, já com os regulamentos ingleses.

De forma quase simultânea surgiriam as contribuições de Donohue e, depois, as de Miller, cujo "grande mérito", segundo Mendes Júnior, foi registrar pela primeira vez uma ata oficial de uma partida disputada por São Paulo Railway e o Gas Works Team.

"Charles Miller veio da Inglaterra com o espírito de dirigente. Ele mesmo se surpreendeu que no Brasil não houvesse uma prática regular do esporte, que já era corrente na Inglaterra. E não havia tal isolamento que explicasse isso", relatou o jornalista.

Miller, com ajuda dos jovens que saíram dos colégios jesuítas, se empenhou em organizar clubes, ajudar para que estes treinassem regularmente e criar competições, primeiro em São Paulo e depois no resto do Brasil.

Nos primeiros anos do século XX, o futebol permaneceu como um esporte restringido para clubes de ricos como o Fluminense, o Flamengo ou o Botafogo, além dos extintos Paulistano ou o Germania. Graças a clubes operários como o Bangu o futebol cresceu rapidamente e se tornou em paixão nacional, segundo Mendes Júnior.