Paraguai se aproxima de volta à Copa após 16 anos enquanto entidade vive escândalo

Quando o Paraguai participou da Copa do Mundo pela última vez, o Mundial era realizado pela primeira vez no continente africano. Na África do Sul, o time caiu para a campeã Espanha nas quartas de final e, até então, não havia mais voltado ao Mundial, o que provavelmente mudará em 2026, principalmente pelo trabalho de Gustavo Alfaro.

O argentino assumiu a seleção paraguaia após a Copa América, em que o time perdeu os três jogos e voltou para casa. Na época, o Paraguai estava em sétimo lugar nas Eliminatórias Sul-Americanas, o que até lhe garantiria a ida à repescagem, mas Chile, Bolívia e Peru ainda estavam próximos.

Desde então, Alfaro comandou nove jogos e continua invicto. Entre as cinco vitórias que tem, bateu Brasil, Argentina e Uruguai. Caso chegue aos 10 jogos de invencibilidade, no duelo contra os brasileiros, nesta terça-feira, na Neo Química Arena, terá o recorde de partidas invictas no comando do Paraguai.

Até o momento, ele está empatado com Paulo César Carpegiani, que, durante as Eliminatórias para a Copa de 1998, venceu sete e empatou duas como técnico da seleção paraguaia.

Com 24 pontos, o Paraguai tem a classificação encaminhada, mas pretende confirmar de vez contra o Brasil. Não há pressão, segundo Alfaro. "É uma partida em que temos tudo a ganhar e nada a perder", disse o treinador, no domingo.

"É diferente quando você tem de jogar com a necessidade. O jogo contra o Uruguai foi um jogo de necessidade, o jogo contra o Chile foi um jogo de necessidade. Essas foram fases que foram jogadas de forma diferente. Se perdermos (para o Brasil), o que acontece? Nada. Tentaremos novamente contra o Equador", afirmou.

Apenas três derrotas (contra Brasil e, em setembro, Equador e Peru), combinadas com três vitórias da Venezuela, tiraria o Paraguai da zona de classificação. Ainda assim, o time iria para a repescagem.

Alfaro afirma que compreendeu a frustração do futebol paraguaio quando assumiu a missão de recolocar a seleção em uma Copa do Mundo. "Eu entendi que a dor era o ponto de partida. De cada fracasso que tive na minha carreira, entendi que era o ponto de partida para o sucesso futuro. Então, você tem que acreditar apesar da dor. Você fracassa quando trai suas próprias convicções", refletiu.

Mudanças de Ancelotti no Brasil são esperadas por Alfaro

Raphinha é novidade para o jogo desta terça-feira. Não apenas por isso (mas também), a seleção brasileira deve ir para cima dos paraguaios. Há, contudo, reconhecimento da qualidade do oponente.

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"Se não tivermos capacidade de o forçar para trás, o jogo será complicado, porque o Brasil jogará o jogo onde quiser jogar. Vamos ter de jogar sabendo que haverá momentos em que o Brasil nos pressionará e haverá setores em que poderemos nos encontrar com condições de jogar, mas, para isso, nos falta capacidade de segurar a bola", alertou, antes de dizer que houve melhora no quesito, mas ainda não é o ideal.

Alfaro garante 'liberdade' após novas acusações de interferência do presidente da APF

Não é de hoje que o nome de Robert Harrison, presidente da Associação Paraguaia de Futebol (APF) desde 2016, é citado em algum esquema no futebol do país. Desta vez, o veículo chileno Ciper divulgou áudios e mensagens vazadas entre Harrison, Pedro Aldave e Juan Appleyard, ambos agentes de futebol.

Harrison diz que se tratam de mentiras. "A verdade é que o que tenho a te dizer é que é totalmente mentira. Nós, eu pessoalmente, todo mundo sabe, aqui no Paraguai, os negócios que temos. Nenhum é vinculado a venda de jogadores", falou antes de embarcar para o Brasil.

"Se citam qualquer empresário, não vai ter a mesma repercussão de se citarem a mim", justificou sobre ter sido citado pelo veículo chileno.

Appleyard é o procurador do Nacional de Assunção para a venda de jogadores. Ele assumiu esse posto quando Harrison era presidente do clube. O conteúdo vazado revela influência em indicações à seleção paraguaia e propostas falsas para inflar o valor de atletas no mercado. Também são citadas empresas em paraísos fiscais.

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Em uma das conversas publicadas pelo jornal do Chile, Appleyard admite que fez uma oferta falsa em nome da Udinese, da Itália, por Cristian Colman, do Nacional. "Estou dizendo a ele que você o contratou do clube, que é oficial, mas é só para dar trabalho aos outros idiotas", escreveu.

Publicamente, a APF evita tratar da questão. Questionado sobre a relação com a Associação, Alfaro não tocou no assunto, mas garantiu que trabalha com liberdade.

"Tenho absoluta liberdade para fazer e desfazer. Tenho a enorme tranquilidade de saber que a visão da liderança está em sintonia com a minha, porque, caso contrário, é como se você tivesse de jogar xadrez a cada cinco minutos. Nesse sentido, sinto que meu trabalho flui com total naturalidade, e essa é outra razão que explica por que chegamos onde estamos", declarou.

Entretanto, acusações a Robert Harrison por interferência no futebol paraguaio já foram feitas anteriormente, em 2021. Não houve, na época, pressão no cargo.

Mesmo sem grande tradição no futebol, a APF tem força na Conmebol, equiparada as instituições representantes de Brasil, Argentina e Uruguai. A presidência da Associação Paraguaia é vista como trampolim para o comando da confederação sul-americana.

A sede da Conmebol fica justamente no país, em Luque. O governo paraguaio ofereceu o terreno para a construção do prédio, o que foi acatado pela confederação e aprovado pelas afiliadas em votação no ano de 1992.

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Com três presidentes na história da Conmebol, incluindo o atual mandatário, Alejandro Domínguez, o país só não esteve mais vezes no cargo que o Uruguai (com quatro). A diferença é o período de cada um.

Os uruguaios tiveram presidentes na Conmebol de 1916 e 1936, depois de 1959 e 1961, de 2013 a 2014 e de 2015 a 2016.

Já o primeiro paraguaio, Nicolás Leoz, teve mandato de 1986 a 2013. Depois, Juan Ángel Napout presidiu de 2014 a 2015. Desde 2016, Domínguez é presidente.

Além da boa relação com a instância superior, Harrison tem um assento no Conselho da Fifa. Na sua gestão, a APF criou dois torneios novos (a Copa Paraguai e a Supercopa do Paraguai). O presidente também já se propôs a debater a expansão da liga nacional, atualmente com 12 clubes.

Foi Harrison o representante paraguaio no consórcio com Argentina e Uruguai que buscava sediar a Copa do Mundo de 2030. O objetivo não foi conquistado, mas os três países sul-americanos terão, cada um, uma partida de abertura, em celebração aos 100 anos do primeiro Mundial.

Fora de campo, também é exaltado o trabalho do presidente. O balanço financeiro de 2024 da APF foi aprovado por unanimidade. O superávit apresentado foi de 8 bilhões de guaranis (US$ 1 bilhão ou R$ 5,56 bilhões).

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As cifras envolvendo Harrison saem do futebol. Ele é um dos principais proprietários do Harrison Group, um conglomerado de empresas. A companhia entrou no mercado das bets em março, quando comprou a Solbet.

A plataforma ganhou autorização para atuar no Paraguai após a promulgação do presidente Santiago Peña de uma lei que acabava com o monopólio na concessão de licença para apostas esportivas. Até então, apenas uma empresa era autorizada, por meio de licitação.

A presença das bets no mercado do futebol sul-americano é semelhante ao que se vê no Brasil. O Código de Ética da Fifa, porém, veta que qualquer pessoa do meio futebolístico tenha interesse direto ou indireto (por meio de terceiros) em apostas esportivas.

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