O que motivou o impeachment de Augusto Melo no Corinthians? Entenda

O Conselho Deliberativo do Corinthians aprovou nesta segunda-feira o impeachment do presidente Augusto Melo, em reunião retomada após adiamento em janeiro. A decisão é o desfecho de meses de polêmicas que abalam a gestão desde a vitória nas eleições contra André Negão, representante da chapa Renovação e Transparência, cujo grande líder é Andrés Sánchez.

O processo que destituiu Melo o acusa de gestão temerária, um dos motivos listados no estatuto do clube para legitimar um pedido de impeachment. O artigo 106 especifica o seguinte sobre as razões para destituir um presidente:

a) ter ele praticado crime infamante, com trânsito em julgado da sentença condenatória;

b) ter ele acarretado, por ação ou omissão, prejuízo considerável ao patrimônio ou à imagem do Corinthians;

c) não terem sido aprovadas as contas da sua gestão;

d) ter ele infringido, por ação ou omissão, expressa norma estatutária;

e) prática de ato de gestão irregular ou temerária.

Tal enquadramento se deve ao contrato firmado com a antiga patrocinadora Vai de Bet, que rescindiu com o clube depois de noticiado que o valor pago pela intermediação do acordo teria passado por uma série de empresas "laranjas".

A última empresa na rede de transferências é a UJ Football Tallent, empresa apontada como braço do PCC pelo delator Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, assassinado no aeroporto de Guarulhos.

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Na quinta, 22, Augusto foi indiciado pela Polícia Civil por associação criminosa, furto qualificado pelo abuso de confiança e lavagem de dinheiro. O ex-diretor administrativo Marcelo Mariano, o ex-superintendente de marketing Sérgio Moura e Alex Cassundé, dono da empresa intermediária do acordo, também vão responder pelos três crimes.

Em coletiva de imprensa na sexta-feira, 23, um dia após o indiciamento, ao lado do advogado Ricardo Cury, o mandatário corintiano mostrou que sua defesa está pautada em questionar o momento da conclusão do inquérito, três dias antes da votação pela destituição, e o próprio conteúdo do relatório.

"Nós dividimos em algumas frentes. A primeira é a frente política. Nos surpreendeu muito a divulgação do relatório final na quinta-feira, antevéspera do julgamento de segunda. Nós informamos no dia 13 de maio, ao delegado Tiago que o presidente Tuma (Romeu, do Conselho Deliberativo) tinha reconvocado a reunião para o dia 26", afirmou Cury.

Nesta segunda-feira, Augusto entrou na Justiça com um pedido de habeas corpus para anular o indiciamento. O tom presente no documento é o mesmo adotado por Cury, mas a petição foi feita por outros advogados: Isabella Cristine Luna e Clovis Ferreira de Araújo.

Em meio aos esforços para impedir o impeachment, o advogado José Eduardo Cardozo, ex-ministro da Justiça de Dilma Rousseff, foi contratado por um grupo de aliados de Melo para tentar a suspensão da reunião.

Augusto entendia ser necessário o encerramento das investigações pela Polícia Civil para, enfim, a reunião ser realizada. O mandatário se apegava ao fato de a Comissão de Ética do clube ter determinado a suspensão da votação de destituição até o inquérito ser finalizado. Ele é alvo de outros três processos de impeachment, que fazem referência a questões financeiras do clube, como a reprovação das contas do ano passado e o aumento do passivo.

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O processo de impeachment de Augusto Melo teve início em agosto de 2024. A Comissão de Justiça produziu um relatório citando o caso do "laranja". Posteriormente, um grupo de 85 conselheiros intitulado Movimento Reconstrução SCCP, cujo um dos líderes é o ex-presidente Mário Gobbi, entrou com uma representação contra o atual mandatário.

O documento foi anexado ao relatório da Comissão de Justiça e encaminhado pelo Conselho Deliberativo à Comissão de Ética, que sugeriu a suspensão do processo por entender ser razoável aguardar as investigações da Polícia Civil.

A defesa de Augusto apelou à Justiça de São Paulo para anular a convocação da votação de impeachment por entender que o mandatário não teve direito de se defender adequadamente, mas a ação foi negada em um primeiro momento, mas depois foi concedido efeito suspensivo ao presidente corintiano, que exibiu o documento no Parque São Jorge quando os conselheiros já estavam reunidos para votar a destituição, em 2 de dezembro.

O Conselho Deliberativo, na figura do presidente Romeu Tuma, entrou com recurso de agravo interno e o efeito suspensivo foi derrubado. Uma nova apelação foi apresentada pelo advogado de Augusto Melo, mas não foi atendida. Com a aprovação do impeachment no Conselho, a ideia é levar o assunto até a esfera federal.

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