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Viagens, patrocínios e dedicação! De Presidente Prudente para o UFC, conheça Ariane 'Sorriso'

Laura Rocha, no Rio de Janeiro (RJ)

Ag. Fight

03/04/2020 14h18

De uma menina de uma cidade do interior de São Paulo, onde todos se conhecem, a uma lutadora com destaque internacional nos octógonos mais famosos do mundo. A peso-palha (52 kg) Ariane 'Sorriso' conseguiu esse feito e trouxe para Presidente Prudente o clima de "Copa do Mundo", quando estreou no UFC em setembro do último ano. Apesar da derrota, ela é celebridade no lugar onde nasceu e tira fotos com seus fãs, enquanto aguarda seu próximo combate no dia 25 de abril. Para isso, ela intercala seu camp entre a filial em que dá aulas em sua cidade natal e a sede da 'Inside Muay Thai', em Bragança Paulista, município a mais de sete horas de distância de casa.

Aos 27 anos, Ariane está há cerca de dez deles dentro dos ringues quando, com 17, topou o convite de uma amiga para fazer uma aula experimental de muay thai. Tímida, ma sempre com um sorriso estampado no rosto - motivo de seu apelido - a atleta revelou, em entrevista exclusiva à Ag. Fight, que trocou os campos de futebol e a faculdade de Educação Física pelo novo esporte, seguido pelo jiu-jitsu e, logo depois, o MMA. Inspirada em Ronda Rousey, a paulista, que antes via certa rejeição de mulheres nas lutas por parte da família e dos amigos, foi capaz de ver a conquista do espaço feminino nas artes marciais.

"Quando entrei, meu treinador, o Hugo, sempre me motivou bastante, falava que eu tinha talento. Sempre que tinha treino com os mais graduados, eu nem era graduada e gostava de ir. Sempre fui acompanhando bastante os treinos, ia em seminário, meu treinador me chamava. Foi quando ele deu a ideia de competir para ver se eu gostava e foi quando iniciou tudo".

Por vir de uma cidade do interior, Sorriso se diferencia dos outros atletas do Ultimate em relação ao número de patrocínios, ao ponto de responder: "Você quer saber de todos (risos)?". Um dos maiores empecilhos para lutadores recém-chegados ao UFC é conseguir apoio financeiro, mas não para ela. Ao listar cerca de 15 patrocinadores, a atleta explicou ter tido tal incentivo desde que iniciou sua carreira, uma vez que todos a conhecem em Presidente Prudente. Assim, ela tem garantidos o acompanhamento médico, os uniformes e os equipamentos de treino, suplementação, as viagens, com intervalo de uma semana entre elas, para o camp em Bragança Paulista, entre outros.

No entanto, a carreira de Ariane não foi marcada apenas por vantagens e conquistas. Um dos momentos que mais marcaram sua trajetória foi em meio à dificuldade financeira, quando competiu em sua primeira luta profissional de MMA em 2014. Nessa edição do 'Pentagon Combat', realizada na cidade de Varginha (MG), ela foi finalizada por Amanda Ribas logo no primeiro assalto.

"O pessoal vê bastante vitória, vitória. Eu falo, às vezes, dos tombos", explicou a lutadora. "A gente estava passando dificuldade (financeira) na academia e não tinha dinheiro nem para viajar. Então, a gente pegou um dinheiro emprestado de um amigo dele (Hugo) para conseguir viajar e o dinheiro que eu recebi da luta foi para o combustível na volta".

"Depois da luta, eu e Hugo não tínhamos dinheiro nem para comer um lanche", completou. "A gente pediu bolacha do hotel, foi quando o dono do evento chamou a gente para ir comer e acabou pagando. Mas essas dificuldades marcam. A gente vê o que passou lá atrás e onde a gente conseguiu chegar".

Porém, ainda em 2020, há dificuldades que fogem do controle da paulista. Em meio à pandemia global do novo coronavírus, três eventos do UFC foram cancelados como medida preventiva. Apesar de sua luta em três semanas ainda estar de pé, provavelmente pela insistência de Dana White, ainda há o risco do combate contra Mackenzie Dern, em Lincoln, Nebraska (EUA) ser adiado ou ter o local alterado.

De acordo com o último relatório da OMS, há cerca de 896 mil infectados ao redor do mundo e apenas nos Estados Unidos, onde seria a luta de Ariane, há mais de 187 mil casos. Por isso, o presidente americano Donald Trump prorrogou a quarentena até o próximo dia 30 - após o combate da lutadora. Porém, o prejuízo com os treinos, nos quais ela já investiu cerca de R$10 mil, e a possibilidade de cancelamento não parecem afetar a confiança de Sorriso.

Para se adaptar às mudanças exigidas pelo Ministério da Saúde para a prevenção contra o COVID-19, Ariane teve que alterar alguns pontos em sua rotina. Devido à sua maior exposição à pandemia pelos deslocamentos constantes entre sua cidade e Bragança Paulista, ela optou por morar provisoriamente com seu treinador em vez de ir à sua casa, onde moram seus avós.

"Mesmo que não tenha a luta, acho que foi um dinheiro bem gasto porque me ajudou muito a evoluir nesses dias, a gente vai continuar evoluindo", explicou a peso-palha. "Mas, infelizmente, a gente não recebe mensalmente do UFC. Com certeza dá uma complicada, mas, graças a Deus, a gente tem bastante patrocinador que ajuda aqui nos gastos".

Nem ter Mackenzie Dern, campeã mundial de jiu-jitsu, como adversária pareceu afetá-la. A americana naturalizada brasileira irá para o seu quarto combate no Ultimate, acumulando duas vitórias e uma derrota. Para a paulista, que pretende enfrentar em breve as melhores do UFC, a luta contra Dern é algo que ela afirmou que queria fazer.

"É uma luta que eu acho que casa muito bem comigo", explicou a atleta. "Todo mundo fica falando: 'Ela é boa de jiu, ela é boa de jiu'. Mas a gente não vai lutar jiu-jitsu, a gente vai lutar MMA".

"Não tenho medo do jiu-jitsu dela. Não estou desrespeitando ela, jamais, ela tem um trabalho de chão muito bom. Mas acho que eu tenho mais lutas que ela, tenho mais experiência que ela", continuou. "No MMA, tenho mais experiência que ela, então, vou buscar nocautear, como sempre faço. Estou preparada para o jogo dela, mas estamos treinando muito para dar certo".

Após o revés contra a veterana Angela Hill, ex-campeã do Invicta FC, Sorriso retorna aos octógonos no próximo dia 25, no UFC Lincoln. A paulista acumula oito nocautes entre suas 12 vitórias em sua carreira no MMA.