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'Peter Pan' aos 37 anos, Johnny Eduardo nega aposentadoria: "Quero renovar meu contrato"

Felipe Paranhos, em Salvador (BA)

Ag. Fight

01/06/2018 11h42

Prestes a fazer sua 40ª luta profissional de MMA, Johnny Eduardo acompanhou, in loco, todo o processo de modernização do esporte. Aos 37 anos, o peso-galo (61 kg) da Nova União já poderia pensar em se aposentar mas, segundo ele, ainda há muita estrada pela frente. O brasileiro, que enfrenta Nathaniel Wood no UFC Utica, nesta sexta (1º), falou com exclusividade à reportagem da Ag. Fight sobre as cicatrizes que carrega após 21 anos de batalha, a vontade de renovar seu contrato com o UFC e o sentimento de eterna juventude, que o rendeu a alcunha de 'Peter Pan'.

Testemunha de mais de duas décadas da modalidade, Eduardo destacou, como principal diferença entre a era do vale-tudo e a do MMA, a mudança de mentalidade da imprensa ? que, nos anos 1990, marginalizava o praticante de lutas ? e, por outro lado, dos lutadores, que passaram a se preocupar mais com suas posturas dentro e fora do cage.

"Acho que o trabalho que a mídia tem hoje em dia, o apoio, a venda da imagem, do trabalho do atleta... Isso é muito válido. É essencial para que a gente esteja empregado em qualquer evento. Antigamente, o lutador não se preocupava com isso, só em se preparar, ir lá e vencer as batalhas. Hoje, o atleta é uma empresa e tem que saber cuidar dessa empresa. Ele tem que saber se vender bem no mercado, saber falar, saber abordar... O atleta não pode ser um grosseirão que fala feio. Tem que ser versátil", comentou.

As 39 lutas que carrega em seu cartel de MMA não deixaram seu corpo intacto ? muito pelo contrário, aliás. Com várias marcas dos anos de guerra, o carioca afirmou que olhar para o seu corpo é lembrar de cada fase de sua carreira e, ao mesmo tempo, perceber quão resistente às dificuldades se tornou.

"Tenho várias cicatrizes no corpo, várias coisas que me fazem lembrar cada luta, cada etapa, cada coisa que eu passei: um supercílio aberto, um corte de 15 pontos na testa, um dedo que quebrou, um pé que se quebrou, uma cirurgia no ombro... Você leva seu corpo ao extremo, ao esgotamento físico. E, se você não se adaptar a isso, quando você se vê em algum momento de dificuldade na luta, qual a primeira saída? É desistir, é recuar, é andar pra trás. E o atleta, quando está acostumado a viver essa rotina e a passar essa dificuldade todos os dias, está confortável para se controlar e viver aquilo", declarou.

Diante do que considera ser um desenvolvimento não só profissional, mas também pessoal, Eduardo afirmou que não pensa em parar com a luta. Embora já atue também como treinador, o peso-galo disse que continua ansioso para entrar outras vezes no octógono e que isso o impede de decretar um limite para a sua trajetória profissional.

"Quero renovar o meu contrato, quero construir meu castelo, comprar meu palácio. Quero continuar trabalhando vivendo do que eu gosto de fazer. Quero sair dessa luta e já pensar em outra luta. Diz aí: quem é o cara que está com 40 lutas e já está pensando na outra, na outra, na outra? É difícil. E não são só 40 lutas, são 40 vezes em que você se preparou para lutar, que abdicou de alguma coisa, que perdeu ou ganhou peso... Fora as que não estão no Sherdog. Só de muay thai, eu tenho 50 lutas. Tenho lutas de jiu-jitsu, de submission...", disse.

"Acho que se eu tiver que parar agora, eu vou desperdiçar uma oportunidade que muita gente sonha em conquistar. E eu cheguei e vou desperdiçar. Não... Me sinto um garoto, estou na minha melhor fase, no meu melhor condicionamento, forma física, cabeça boa, energia... Só penso em continuar. Só penso nas próximas e nas próximas. Não penso em parar", completou.

Apesar de não pretender encerrar a carreira, Johnny afirmou que já se prepara para o momento em que isso se tornar inevitável. O atleta contou que se planeja financeiramente com investimentos próprios e que quando se aposentar, certamente, continuará envolvido com as lutas. Por consequência disso, Eduardo disse não ter arrependimentos em sua vida profissional, destacando ainda ter prazer com o esporte. Tudo isso, segundo ele, é reflexo de ter a mente ainda jovem ? como um certo personagem infantil que decidiu não envelhecer.

"Isso me deixa motivado de saber que tudo o que eu fiz através da minha carreira foi válido. Tudo. Na época que eu comecei, abdicar, investir, largar, foi como um tiro no escuro. Você não tem certeza de que vai alcançar o que está ali na frente. Eu conheci uma pessoa na minha caminhada que sempre me falou que eu era um Peter Pan. Porque eu sempre sonhava muito. Eu sonhava em chegar onde cheguei, sonhava em estar onde estou. Então, eu falo que eu sou um eterno Peter Pan mesmo, de verdade", concluiu.

O UFC Utica, que acontece nesta sexta (1º) tem transmissão do SporTV e do Combate e começa às 19h30. O card principal está marcado para as 23h.