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Glover aprova "trash talk" para iniciantes: "Tem que ter personalidade"

Anthony Geathers / Getty Images / AFP
Imagem: Anthony Geathers / Getty Images / AFP

18/04/2017 09h00

 

Número dois do ranking oficial dos meio-pesados (93 kg) do UFC, Glover Teixeira tem compromisso marcado contra Alexander Gustafsson, dono da primeira posição na lista, em duelo que, auxiliado pela aposentadoria de Anthony Johnson e pela suspensão de Jon Jones, deve garantir ao vencedor proximidade do cinturão da categoria. Cenário este que só não é melhor por conta da postura pacata dos dois atletas.

Veteranos e renomados, tanto Glover como o rival sueco não costumam utilizar provocações e polêmicas para venderem suas lutas e inflarem suas bolsas. No entanto, a prática do trash talk se provou eficiente e capaz de cortar caminhos rumo ao sucesso nos maiores eventos de MMA do mundo, o que fez o brasileiro refletir que, se fosse mais jovem, poderia aumentar sua exposição com uma postura mais ácida.

“Agora já está tarde para isso . Já lutei a vida inteira sendo assim, sou o que eu sou. Nunca me preocupei com isso. Os caras falam de mim e eu nem sei quem falou e o que falou. As pessoas chegam: ‘Você viu o que o Cormier falou de você? Viu o que fulano falou?’. Nem vejo, nem dou muita ideia e nem dou palpite também. Mas, eu acho que se eu tivesse feito isso quando entrei no UFC – falado um monte de m*** – talvez eu teria ganho mais dinheiro, não sei. Mas agora… já cheguei até aqui, estou com 37 anos e quem sabe tenho mais uns três para lutar. Não vou fazer isso”, analisou durante conversa exclusiva com a reportagem da Ag. Fight.

Embora tal prática não seja difundida entre lutadores brasileiros e não agrade aos fãs, Glover, por já morar nos EUA há anos, parece mais habituado com esse estilo de promoção. Garantindo que não se incomoda com os famosos ‘falastrões’, o mineiro, no entanto, afirma que não é qualquer um pode sair falando e provocando quando bem entender. Afinal, os resultados é que irão garantir o futuro de cada careira no octógono.

“Acho que quando o cara faz isso ele tem que ter essa personalidade também. Não sou esse tipo de pessoa. Prefiro do jeito que está agora. Mas, agora não dá mais para começar a fazer trash talking. Agora, para o cara que está começando, acho uma boa. Isso se ele lutar bem também né, claro. Não adianta ser um lutador ruim e falar m***, aí vai passar vergonha . Tem que ser meio como o McGregor mesmo, ele fala, mas ele vai lá e faz. Perdeu para o Nate Diaz, mas voltou e fez. Tem muitos que tentam e não conseguem. O Chael Sonnen foi um que ganhou várias oportunidades de disputar o cinturão, mas não adiantou muito. Sinceramente, prefiro ganhar menos dinheiro e não passar vergonha. Os caras passam muita vergonha”, narrou de forma contundente, embora sempre com a fala pausada e tranquia que lhe é característica.

Enquanto se prepara para o duelo contra Gustafsson na Suécia, cabe a Glover também analisar sua categoria. Embora garanta que é impossível prever os próximos passos de cada atleta, o veterano de 37 anos vê no topo de sua categoria um certo reflexo do que é o MMA atualmente. Afinal, os últimos meses ficaram marcados por alguns campeões preferindo enfrentar atletas que, ao menos na teoria, representam menos perigo. E, ao menos em sua visão, é disso que se trata a rivalidade entre Daniel Cormier, dono do cinturão, e o inglês Jimi Manuwa, quarto colocado do ranking.

“Quem disputa o cinturão é quem vende mais. O ranking, hoje em dia, é o de menos. Eles estão conversando sobre o Jimi Manuwa disputar o cinturão. É claro que o Cormier quer essa luta. Ele está falando do Jimi Manuwa porque ele sabe que o Jimi Manuwa será uma luta fácil para ele. O Jimi Manuwa não tem defesa de queda, ele perde todas as lutas no chão. Ele é bom, perigoso, mas não defende bem queda. E, para o Cormier, a luta é excelente. Então, o Cormier vai querer essa luta. E o cara também foi lá e falou uma m*** no Twitter e no Instagram, então eles ficam nessa. Hoje em dia está assim. O cara que vai lá, conversa e vende, e é isso aí. O meu negócio é lutar, ganhar e esperar a próxima”, comparou, antes de, em análise própria, questionar se a aposentadoria de Anthony Johnson, último atleta a vencê-lo, será permanente.

“Não acho que o Anthony Johnson vai se aposentar. Ele pode ter falado ali na derrota e deve ter alguma oferta boa de trabalho, mas que não é nada comparado com a luta em termos financeiros. Deve ser uma boa oferta que vai atrapalhar ele para se manter focado. Porque lutador não tem como ter dois trabalhos. Você tem que estar sempre focado na luta. Então, ele deve ter pego isso por um momento, perdeu aquela luta, então vai pensar ainda. Mas, eu tenho quase certeza que ele vai voltar e talvez esse ano ainda. Vão oferecer alguma coisa a ele. O Anthony Johnson está lutando bem e é um cara que faz lutas emocionantes. Ele é um nocauteador. Não tem um chão afiado, mas, se a mão dele pegar, qualquer um cai”, encerrou.