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Covid-19, escândalo sexista: o difícil percurso dos Jogos de Tóquio

Sol atrás dos aros olímpicos no parque Odaiba em 24 de março em Tóquio no dia em que os Jogos Olímpicos de 2020 foram adiados - Clive Rose/Getty Images
Sol atrás dos aros olímpicos no parque Odaiba em 24 de março em Tóquio no dia em que os Jogos Olímpicos de 2020 foram adiados Imagem: Clive Rose/Getty Images

18/02/2021 08h00

Desde a intensa emoção do dia em que a capital japonesa foi escolhida como sede dos Jogos Olímpicos de 2020, o caminho para os Jogos de Tóquio, marcado há um ano pela pandemia da covid-19, foi repleto de obstáculos.

O último percalço foram as declarações sexistas e a renúncia à presidência do Comitê Organizador de Yoshiro Mori, o que resultou nesta quinta-feira (18) em sua substituição por Seiko Hashimoto, uma medalhista olímpica e uma das poucas mulheres em cargos de primeiro escalão na política japonesa.

A seguir, os episódios mais significativos desde a escolha de Tóquio como sede dos Jogos Olímpicos:

2013: lágrimas de alegriaNo dia 8 de setembro de 2013, Tóquio ficou encarregada de sediar os Jogos Olímpicos de 2020. O país comemorou, e os apresentadores de televisão choraram de emoção. Muitos temiam que o acidente nuclear de Fukushima, resultado do gigantesco terremoto e tsunami de 2011, arruinasse o projeto olímpico. O governo apostou, então, no sucesso do que chamou de "Jogos da Reconstrução".

2015: largada em falsoEm julho de 2015, o primeiro-ministro Shinzo Abe ordenou uma revisão completa do projeto do novo estádio olímpico, após as críticas por seu alto custo (US$ 2,42 bilhões). Os planos da arquiteta anglo-iraquiana Zaha Hadid foram cancelados, e a obra ficou com o projeto do japonês Kengo Kuma.

Outro revés veio em setembro de 2015: o Comitê Organizador teve de abrir mão do primeiro logotipo dos Jogos, pois se parecia muito com a marca de um teatro em Liège (na Bélgica), cujo criador havia recorrido à Justiça.

2019: suspeitas e demissõesEm 19 de março de 2019, o presidente do Comitê Olímpico Japonês, Tsunekazu Takeda, de 71 anos, anunciou sua renúncia, oficialmente devido à sua idade. Mas ele estava sob pressão desde a revelação, em janeiro daquele ano, do indiciamento na França por suspeita de subornar membros do Comitê Olímpico Internacional (COI) em 2013 em apoio à candidatura de Tóquio.

No mês seguinte, veio outra demissão, a do ministro responsável pelas Olimpíadas, Yoshitaka Sakurada, que havia cometido vários erros em seus seis meses de mandato.

Em meados de 2019, as altas temperaturas e a umidade extrema em Tóquio foram uma provação para os atletas durante os testes para os Jogos Olímpicos. No início de outubro, o COI decidiu transferir a maratona olímpica para Sapporo, 800 quilômetros ao norte da capital japonesa.

2020: adiamento e custo exorbitanteEm 24 de março de 2020, em meio à expansão da pandemia de coronavírus, o COI anunciou o adiamento dos Jogos Olímpicos para 2021. Um adiamento de um ano que foi histórico, já que desde a criação do evento em 1896 os Jogos nunca foram adiados - a não ser nas Guerras Mundiais.

Os Jogos de Tóquio serão "um testemunho da derrota do vírus", afirmou Shinzo Abe.

Apesar do adiamento, o evento mantém o nome "Tokyo-2020". As novas datas estão definidas: de 23 de julho a 8 de agosto de 2021 para os Jogos Olímpicos, e de 24 de agosto a 5 de setembro, para os Jogos Paralímpicos.

"Com ou sem covid": o vice-presidente do COI, John Coates, garantiu à AFP em setembro que o evento será realizado em qualquer caso.

Shinzo Abe renunciou por motivos de saúde e o novo primeiro-ministro, Yoshihide Suga, também declarou em setembro que o Japão seguia "determinado" a sediar os Jogos em 2021.

Em novembro, o presidente do COI, Thomas Bach, visitou Tóquio e disse estar "muito confiante" sobre a presença de espectadores nas arquibancadas olímpicas. O COI incentivará a vacinação do maior número possível de participantes, mas a vacinação não será obrigatória, acrescentou.

O custo exorbitante do adiamento e das medidas anticovid faz a conta de Tóquio-2020 disparar (cerca de US$ 2,8 milhões adicionais).

Em dezembro, é apresentado o novo orçamento total, que representa o equivalente a 13 bilhões de euros (US$ 15,8 bilhões de dólares), um recorde dos Jogos Olímpicos de verão.

Janeiro de 2021: novas dúvidasDiante do número recorde de infecções pelo novo coronavírus no Japão, o governo do país decreta estado de emergência em 11 departamentos do país, incluindo Tóquio e sua grande periferia, meio ano antes dos Jogos Olímpicos.

O governo e os organizadores insistem em que o evento prossiga. Pesquisas de opinião mais recentes mostram, no entanto, que 80% dos japoneses querem que o evento seja adiado, ou cancelado.

Thomas Bach insiste em que os Jogos serão disputados nas datas programadas e que "não há um plano B".

Fevereiro 2021: escândalo sexistaO presidente do comitê organizador, Yoshihiro Mori, provocou escândalo no Japão e no exterior no início de fevereiro, ao declarar que as mulheres têm dificuldades para falar de forma concisa nas reuniões, o que ele considera irritante.

Após desculpas constrangedoras, o ex-primeiro-ministro de 83 anos renunciou na sexta-feira passada. Antes, porém, tentou emplacar alguém próximo para sua vaga, o ex-presidente da Federação Japonesa de Futebol Saburo Kawabuchi, que inclusive é ainda mais velho que ele (84 anos).

Nesta quinta-feira, a ministra responsável pelos Jogos Olímpicos, Seiko Hashimoto, que deixou o Executivo nipônico, foi nomeada como presidente do Comitê Organizador de Tóquio-2020.

"Não vou poupar esforços para o sucesso dos Jogos de Tóquio", disse Hashimoto, de 56 anos.

Ela disputou sete Jogos Olímpicos (quatro de inverno e três de verão) nos anos 1980 e 1990 nas modalidades patinação de velocidade sobre o gelo e ciclismo de pista. Hashimoto conquistou uma medalha de bronze nos Jogos de Inverno de Albertville, na França, em 1992.