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NBA desafia China e crise segue aberta

08/10/2019 13h23

Xangai, 8 Out 2019 (AFP) - A NBA não cede diante da pressão chinesa: apesar dos lucrativos negócios em jogo, o comissário da liga de basquete dos Estados Unidos se negou a pedir desculpas por um polêmico tuíte sobre as manifestações em Hong Kong publicado por um dirigente do Houston Rockets.

Na sexta-feira, o diretor executivo da franquia texana, Daryl Morey, tuitou um pedido de apoio aos manifestantes da região autônoma chinesa de Hong Kong, que exigem menor controle do governo de Pequim, em meio a confrontos violentos entre as forças de repressão e os cidadãos.

A mensagem de Morey provocou a ira de diversos fãs da NBA na China, que criticaram o fato do dirigente dos Rockets ter se envolvido em questões de soberania nacional, aumentando a tensão.

O comissário da NBA, Adam Silver, declarou desde o Japão, onde o Houston Rockets e o Toronto Raptors disputam jogos de exibição nesta semana, que a liga "seguirá apoiando a liberdade de expressão e também a liberdade de expressão da comunidade NBA".

"A NBA não se permite regulamentar o que os jogadores, funcionários e donos dos clubes dizem ou deixam de dizer sobre esses temas", declarou Silver.

O comissário, eleito pelos donos das franquias da NBA para atuar como autoridade máxima da Liga, tem na agenda viagem nesta quarta-feira à China, onde assistirá a duas partidas de exibição entre o Brooklyn Nets e o Los Angeles Lakers, previstas para quinta-feira, em Xangai, e sábado, em Shenzhen. Silver deverá aproveitar a oportunidade para se reunir com autoridades chinesas, afim de amenizar a crise.

"Não pediremos desculpas pelo fato de Daryl ter usado seu direito à liberdade de expressão", afirmou Silver nesta terça-feira à imprensa. O comissário da NBA afirmou "lamentar" o fato de tantas pessoas "terem ficado chateadas".

Na véspera, Silver já havia lamentado as "consequências bastante dramáticas" do tuíte, defendendo o direito de Morey de se expressar livremente.

- Boicote -As declarações de Silver não foram do agrado da emissora de televisão pública chinesa CCTV, que anunciou nesta terça-feira a suspensão da transmissão dos jogos de exibição previstos para esta semana.

"Acreditamos que qualquer comentário que desafie a soberania nacional chinesa e a estabilidade social não faz parte da liberdade de expressão", declarou a CCTV em comunicado, explicando que também irá "rever sua cooperação com a NBA".

A gigante chinesa da internet Tencent, que transmite por streaming os jogos da NBA para centenas de milhões de fãs na China, anunciou que tampouco transmitirá os jogos previstos para esta semana.

Na terça-feira, diversos artistas chineses anunciaram a intenção de boicotar as duas partidas de exibição.

O basquete é um dos esportes mais populares na China e os jogos da NBA são acompanhados com fervor, o que rende lucrativos patrocínios para a NBA.

Hong Kong, ex-colônia britânica que voltou a ser controlada pela China em 1997, goza de ampla autonomia em relação ao gigante asiático, com uma justiça independente e o direito à liberdade de expressão.

O território, porém, atravessa há quatro meses uma grave crise política, com manifestações diárias que exigem sufrágio universal para a eleição do chefe do executivo local.

- "Inconcebível" -Neste contexto, a China condenou nesta terça-feira as "palavras equivocadas" do dirigente do Houston Rockets.

"É inconcebível ter intercâmbio e cooperação com os chineses sem conhecer nem compreender a opinião pública chinesa", criticou em coletiva de imprensa Geng Shuang, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China.

A NBA e o Brooklyn Nets cancelaram repentinamente nesta terça-feira um evento promocional previsto para o mesmo dia em Xangai sem dar maiores explicações.

A estrela do Houston Rockets, o armador James Harden, se desculpou na segunda-feira em nome da equipe. Em comunicado, a liga reconheceu que o ponto de vista de Daryl Morey havia "ofendido" os torcedores chineses, considerando o ocorrido "lamentável".

Essa atitude foi duramente criticada nos Estados Unidos, que lamentou ver a NBA se curvar diante da China e dar mais importância aos negócios do que "a seus princípios".

O Houston Rockets é a franquia da NBA de maior popularidade na China desde que contratou em 2002 o pivô Yao Ming, maior estrela da história do basquete chinês e que se aposentou em 2011.

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