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Médicos do futebol: De Zico a Neymar, a vida à beira de campo do Dr. Lasmar

29/03/2018 14h48

São Paulo, 29 Mar 2018 (AFP) - Rodrigo Lasmar, médico da seleção brasileira que operou Neymar, tem a quem puxar: há mais de 30 anos, seu pai Neylor operou o menisco de Zico para que o craque do Flamengo pudesse participar da Copa do Mundo de 1986.

A vocação do jovem Rodrigo nasceu em parte no México, onde ainda adolescente teve o privilégio de acompanhar o pa durante aquela Copa do Mundo.

"Ele conheceu todos os jogadores, se envolveu muito com isso", contou recentemente Neylor Lasmar ao jornal O Estado de Minas.

Aos 46 anos, o ortopedista e traumatologista perpetua a tradição familiar, sempre no encalço dos craques da seleção. No início do mês, Rodrigo Lasmar se viu com a responsabilidade de operar o pé mais caro do planeta.

"A decisão (sobre quem irá operar) é do paciente, que no caso é o Neymar. A palavra-chave é confiança", explicou à AFP José Luis Runco, a quem Rodrigo Lasmar sucedeu no cargo de chefe do departamento médico da Confederação Brasileira de Futebol em 2014.

Após a lesão de Neymar, sofrida em 25 de fevereiro, diversas especulações surgiram em relação ao tempo de indisponibilidade do atacante e o tipo de tratamento a seguir.

Foi preciso esperar que o doutor Lasmar viajasse da Rússia, onde participava de congresso da Fifa em Sochi, até Paris para que uma decisão final fosse tomada, após uma reunião entre os dirigentes do Paris Saint-Germain e os representantes e familiares do jogador.

O martelo finalmente foi batido: Neymar seria operado no Brasil, mais precisamente em Belo Horizonte, cidade natal do médico da seleção.

Uma decisão surpreendente, já que Paris possui diversos hospitais de ponta e especialistas renomados.

- Polêmica com o PSG -A tensão aumentou assim que Neymar pousou no Brasil. No aeroporto, Rodrigo Lasmar afirmou que o jogador sofreu uma "fratura" no quinto metatarso do pé direito, e não uma "fissura", como havia anunciado o clube parisiense.

O médico também fez as manchetes dos jornais do mundo todo ao anunciar que Neymar ficaria longe dos gramados "por dois meses e meio a três meses", enquanto o pai do jogador falava em "seis a oito semanas" poucos dias antes.

No dia seguinte, uma matéria no diário esportivo francês L'Équipe citava fontes próximas ao PSG acusando o médico brasileiro de ter mentido sobre a verdadeira gravidade da lesão de Neymar.

Mas nada que pudesse perturbar o doutor Lasmar, que no dia 3 de março operou com sucesso o pé de Neymar em procedimento de uma hora e 15 minutos de duração, sob a supervisão do professor Gérard Saillant, cirurgião francês famoso por ter operado o joelho do ex-atacante Ronaldo Fenômeno.

"Ele estava pronto para receber essa pressão, é muito disciplinado", elogiou Runco.

"Nós conversamos antes da operação. Ele me passou o que ele estava pensando em fazer, o que ele tinha conversado com o professor Gérard Saillant e a linha de tratamento a seguir", continuou o médico que em 2001 deu a oportunidade a Lasmar de integrar o departamento médico da seleção.

- O exemplo de Ronaldo -Na época, Lasmar já fazia parte do departamento médico do Atlético Mineiro, que chefia até hoje.

Em sua primeira Copa do Mundo, em 2002, o Brasil conquistou seu quinto e último título mundial.

"O que mais me marcou foi a recuperação de Rivaldo e Ronaldo, que eram dúvidas até o início da Copa", lembrou Rodrigo Lasmar em entrevista de 2015 ao jornal Hoje em Dia.

Naquela Copa, os dois atacantes fizeram uma dupla mortal no ataque da seleção e foram decisivos para o título do Brasil, com Ronaldo terminando com artilheiro da competição com 8 gols.

Na época, a recuperação do Fenômeno era vista como um milagre, após as repetidas e graves lesões no joelho.

A lesão de Neymar é muito menos séria, mas todo o Brasil torce para que o craque do PSG possa estar plenamente recuperado para comandar a seleção na Rússia rumo ao hexa.

Seja qual for o resultado, Neylor Lasmar tem orgulho do filho. "É gratificante para nós o fato de ele operar o Neymar, assim como operei o Zico. É uma coisa que se repete. É um orgulho operar um craque".

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