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Anexação russa da Crimeia dividiu futebol ucraniano

21/12/2017 13h06

Simferopol, 21 dez 2017 (AFP) - Eles compartilham o nome e uma história em comum, mas são dois clubes distintos: um sediado na Ucrânia continental, o outro na Crimeia. Os dois Tavria Simferopol simbolizam os problemas do futebol na península, que vive num limbo de rivalidade desde a anexação pela Rússia.

Em dezembro de 2014, nove meses depois da anexação do território da Crimeia pela Rússia, após um referendo considerado ilegal pela Ucrânia e pelos potências ocidentais, a Uefa tomou uma decisão: a região seria considerada uma "zona especial" e os clubes locais seriam proibidos de disputar as competições russas até segunda ordem.

As autoridades locais criaram então seu próprio campeonato da Crimeia, reduzido a oito equipe, entre elas dois clubes que jogavam até então na primeira divisão da Ucrânia: o FK Sebastopol e el Tavria Simferopol.

Este último não é um clube qualquer. Em 1992, o Tavria Simferopol se tornou o primeiro campeão ucraniano da história, menos de um ano depois da independência do país, após a desintegração da União Soviética.

Mas no estádio Lokomotiv de Simferopol, com capacidade para 20.000 espectadores, pouco mais de 250 pessoas assistem à partida de destaque da rodada entre o Tavria, rebatizado de TSK-Tavria Simferopol, e o FK Sebastopol.

Dezenas de jovens torcedores organizados se encarregam da animação. Guennadi Malakhov, apelidado de 'Crocodilo', é o veterano, aos 42 anos. Mas este torcedor admite que segue acompanhando as partidas mais para preservar a memória do clube do que por real interesse nos jogos.

Desde a anexação, "ninguém se interessou por nós. Só nos movemos pela Crimeia", lamenta este operário ferroviário, que sente falta da época dourada dos anos 1990 e 2000, quando o estádio vivia cheio, a torcida viajava por toda a Ucrânia e o clube disputava competições europeias contra equipes como o Borussia Dortmund alemão ou o Rennes, da França.

A anexação "não teve só um impacto negativo no nosso clube, ela o destruiu, o levou e o enterrou. Hoje, este clube praticamente não existe. Mas é o que temos...", lamenta.

- Duas federações -Existe, porém, outro Tavria Simferopol. Criado por ex-dirigentes e torcedores do clube que permaneceram na Ucrânia, o novo clube tem sede em Berislav, uma pequena cidade de 13.000 habitantes situada no lado ucraniano da fronteira.

Como seu homólogo da Crimeia, veste uniforme azul e branco, mas mantém o escudo original do clube, assim como seu nome oficial.

Segue sendo um clube profissional, apesar de disputar a terceira divisão da Ucrânia. "O Tavria foi o primeiro campeão da Ucrânia e doeu ver o clube desaparecer", explica por telefone à AFP o diretor do clube, Oleksii Krucher.

O dirigente garante que, apesar da distância, o clube segue ligado ao território que o viu nascer. "Hoje temos uma dezena de jogadores que treinaram ou jogaram nas categorias de base na Crimeia. Nosso técnico (Serguii Chevchenko) fez parte da comissão técnica do TSK-Tavria".

Segundo Krucher, cerca de cinquenta torcedores que vivem na Crimeia acompanham cada jogo do time. "Apoiam a equipe, mas não querem ser fotografados. Correm o risco de serem presos ao atravessar a fronteira da Crimeia".

A reconciliação entre os dois Tavria é vista como impossível. Em setembro de 2016, a Ucrânia crio uma nova federação especial para ajudar os clubes da Crimeia no exílio. Na península, os novos dirigentes do TSK-Tavria não querem ouvir falar de uma reunificação.

"Quando a comunidade internacional em sua maioria e a comunidade do futebol reconhecerem que a Crimeia pertence à Rússia, todos ganharão", garante Serguei Borodkin, presidente do TSK-Tavria.

Mas os jogadores têm outras prioridades. "Uma de nossas preocupações é saber como irá evoluir a relação com a Uefa", admite Andrei Dobriaski, técnico do TSK-Tavria.

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