Topo

Jorn Andersen, um norueguês "muito feliz" por treinar a Coreia do Norte

15/12/2017 12h53

Tóquio, 15 dez 2017 (AFP) - É o técnico da seleção de um dos países mais fechados do mundo. Apesar de tudo, o norueguês Jorn Andersen afirmou à AFP que está "muito feliz" de trabalhar na Coreia do Norte e que admira a motivação de seus jogadores.

"É um país muito tranquilo, muito limpo, não há criminalidade", afirma este ex-atacante norueguês em entrevista à AFP desde Tóquio, onde sua equipe disputa a Copa da Ásia Oriental, torneio bienal que neste ano é sediado pelo Japão.

"Vivo num hotel em Pyongyang, numa grande suíte ao lado de minha esposa. Lá, vivo como vivia na Europa", explica Andersen, 54 anos, com seu cabelo loiro e olhos azuis que escancaram sua origem.

Andersen chegou ao cargo em maio de 2016, se tornando o primeiro técnico estrangeiro a assumir a seleção norte-coreana em mais de 25 anos.

Na opinião do treinador, "muitas das coisas negativas" do país vêm do exterior e contrastam com a situação real em Pyongyang.

Andersen confessa que achou "um pouco estranho" receber a proposta para dirigir a Coreia do Norte, mas "agora estou muito feliz com minha escolha".

- Pontes entre países -"Meus jogadores são simpáticos, são muito trabalhadores e sempre estão motivados para treinar. Na Europa, às vezes os jogadores me diziam: 'estou cansado, não quero trabalhar hoje'", lembra o técnico, que trabalhou como treinador no Salzburg austríaco.

"Aqui, meus jogadores não se cansam nunca. Sempre querem fazer o trabalho e aprender coisas novas".

Apesar de toda a motivação, a Coreia do Norte não vem brilhando na Copa da Ásia Oriental, com duas derrotas consecutivas diante de Japão e Coreia do Sul. No sábado, tentarão uma vitória de honra contra a China.

Embora a seleção não assuste dentre de campo, a Coreia do Norte o faz na esfera política com seu programa nuclear e seus muitos testes balísticos, que fazem a comunidade internacional temer uma escalada bélica.

"Na realidade não quero falar muito sobre isso, porque meu trabalho é ser técnico de futebol. Mas eu acredito que o esporte pode ajudar a construir pontes entre países", afirma Andersen de maneira diplomática.

Segundo o treinador, o regime norte-coreano investe muito em esporte. Seus atletas dispõe de um grande centro de treinamento em Pyongyang, com direito a alojamento.

"Treinamos todos os dias, duas vezes ao dia, como num clube. Nos fins de semana, os jogadores voltam a seus clubes para jogar partidas. Acredito que é o único país do mundo que pode trabalhar assim com uma seleção".

- Rumo à Copa do Catar-2022 -Andersen, que passou a maior parte da carreira de jogador no Campeonato Alemão e que possui cidadania alemã, admite que nem tudo é fácil: "O mais difícil é que estou sozinho, não tenho assistente, alguém com quem possa conversar".

"Além do mais, eles são coreanos e eu sou europeu, então nem sempre é a mesma forma de pensar (...) Antes, preciso escutá-los e não tomar as decisões sozinho", explica.

O técnico norueguês garante que ainda não recebeu instruções ou palpites do líder supremo da Coreia do Norte, Kim Jong-Un, uma prática habitual no país no passado.

A Coreia do Norte conquistou seu maior feito no futebol na Copa do Mundo da Inglaterra de 1966, quando alcançou as quartas de final. Depois, só reapareceu no torneio na África do Sul-2010, onde caiu no grupo do Brasil e foi eliminada na fase de grupos.

Os norte-coreanos não estarão na Rússia, "mas a classificação para a Copa do Catar em 2022 é muito possível", prevê o técnico.

Por enquanto, o foco está na próxima Copa da Ásia-2019, que marcará o fim do contrato de Andersen com a seleção da Coreia do Norte.

alh-etb/uh/am